Design e Tecnologia no Tempo da Escravidão

Matheus Neres
Araetá
Published in
4 min readSep 12, 2017

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O Museu Afro do Brasil traz a exposição “Design e Tecnologia no Tempo da Escravidão”, que traz a construção do cotidiano pelas mãos de africanos na lavoura, cozinha e outros ofícios. É uma das exposições mais visitadas do Museu e sua durabilidade é longa, sendo de Março até Novembro de 2017, a exposição é de porte médio e conta com 70 peças em uma única sala. O visitante passa por mesas de lapidação de pedras preciosas, forjas de ferreiro, moendas de açúcar, prensas de folha de tabaco, moendas de milho, formas de queijo e rapadura, plainas de marceneiros. Todos esses artefatos ilustram o ambiente dos séculos XVIII e XIX, além de, claro, diversas pinturas que retratavam a vida de negros na época.

A exposição nos leva a uma viagem de como era a vivência de todo o povo negro no Brasil em época de Escravidão, para Afrodescendentes (como eu) que buscam o mínimo traço de anscestralidade e um pouco mais da história que sempre nos foi contado em nossas escolas, além da escravidão. Mas, também da importância do negro na época — o que nos foi negado e ocultado ao longo de uma história que insistiu, e ainda insiste, em ser apagada nos dias de hoje.

A exposição nos ajuda a lembrar que a história dos meus ancestrais em terras Brasileiras vai muito além de muita dor e sofrimento, e que eles foram fundamentais para o processo tecnológico na época e que isso nos ajuda a observar o negro não apenas como um simples escravo.

Chatimens domestiques/Castigos domésticos — JOHAN MORTIZ RUGENDAS — Reprodução Digital/Coleção Particular

Muito do que nos foi contado durante toda a história foi uma imensa tentativa de ocultar todo o nosso valor e nos desmerecer, fazendo com que até nos dias atuais, muitos afrodescendentes tenham sérios problemas com a propria autoestima e importância enquanto ser social. Emanuel Araujo, fundador, diretor e curador do Museu Afro Brasil, destaca “Os preconceitos de muitos cientistas europeus transmitiram ao restante do mundo a impressão de que esses povos não ofereceram uma contribuição relevante para a construção do conhecimento universal. Ao pensarmos nas contribuições dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico no Brasil, nos defrontamos com certa carência de pesquisas sobre o tema nas academias, bem como de sua divulgação.” e ainda complementa “A produção de instrumentos de trabalho, técnicas de edificações e, até mesmo, de objetos artísticos constitui um legado imprescindível para compreender a história do desenvolvimento tecnológico no Brasil. Por muito tempo, interessou aos que escreviam a nossa História reforçar um passado sofrido e ‘coisificado’, com o intuito de cristalizar imagens de uma suposta subalternidade”.

Canastra/Baú/Mesa para Drenagem de Soro (Séc. XIX), Acervo Associação Museu Afro Brasil — Rodízios de Moinho de Madeira (Acervo de Associação Museu Afro Brasil) — Rodízios de Moinho (Séc. XIX-XX) Ferro e Madeira, Coleção particular.
Moinho de Açúcar — JEAN-BAPTIST DEBRET (Reprodução Digital/Coleção Particular)

Escravos que predominavam na região de Minas Gerais, no auge da produção de ouro, eram originários da Costa da Mina, na Africa, onde eram dotados de um alto conhecimento de mineração e metalurgia, altamente desenvolvidos. Diversos deles iam para áreas já munidos de um alto conhecimento sobre elas, como técnicas de metalurgia e mineradoras, de mercearia, de ourivesaria crioula, de atividades agricolas (plantação e colheita de café e açúcar) e da construção de máquinas de engenho. Como ressalta Wilelm Ludwig von Eschwege “Deve-se principalmente aos negros a adoção das bateias de madeira, redondas e de pouco fundo, de dois a três palmos de diametro, que permitem a separação rápida de ouro da terra, quando o cascalho é bastante rico. A eles devem, também, as chamadas canoas, nas quais se estende um couro peludo de boi, ou uma flanela, cuja função é reter o ouro, que se apura depois em bateias.”

Fica claro através dessa exposição a nação inteira sendo construída pelas mãos de africanos, trazendo assim uma imagem positiva para negros na época da escravidão (mesmo esse episódio continuar sendo uma das maiores crueldades cometidas pelos brancos), fundamental para assumirmos com orgulho sua presença em nossa identidade. Africanos fizeram e continuam fazendo parte do processo tecnológico do Brasil!

Festa de Santa Rosália, patrona dos negros — JOHAN MORITZ RUGENDAS (Reprodução Digital/Coleção Particular)

Onde:

Museu Afro Brasil (Avenida Pedro Álvares Cabral, Portão 10, s/n — Parque Ibirapuera, São Paulo — SP, 04094–050)

Quanto:

6R$ Entrada / 3R$ Meia-Entrada / Gratuito aos Sábados

Quando:

3ª feira a domingo, das 10h às 17h (permanência até às 18h).
Exceto dias 24, 25 e 31 de dezembro e 01 de janeiro, dias que o Museu estará fechado.

Até quando:

De Março a Novembro de 2017

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