Djonga: efêmero e eterno

Roberto Felicio Adriano
Araetá
Published in
4 min readMay 9, 2020
Fotografia de Djonga em seu videoclipe: "A música da mãe."(Foto/Reprodução: Internet)

O artista mineiro Gustavo Pereira Marques entrou na cena do rap a partir de suas participações em músicas com sua banca musical regional, chamada “DV Tribo”, e suas participações dentro do canal Pineapple, maior canal de rap dentro do youtube brasileiro. Onde esteve presente na cypher Poetas no Topo 1. E seus feats, com rapper’s que até então, tinham mais notoriedade na cena, como o rapper brasiliense Froid em “A pior música do ano”. Suas músicas repletas de antíteses, metáforas e vivência ganharam destaque dentro da cena musical, “faço o som que te tira a venda, deixa os boys fazer o som que vende”. Com isso, Djonga cumpre um dos principais papéis da arte, a capacidade de te fazer enxergar uma realidade, mesmo essa sendo distante da vivida pela maioria de seus ouvintes, o artista atingiu notoriedade na cena, e segue fazendo aquilo que todo fã de Rap procura, ritmo e poesia.

Capa de seu primeiro álbum, "Heresia". 2017 (Foto/Reprodução: Internet)

Um ano após seu destaque, o rapper lançou seu primeiro disco solo, “Heresia”, com uma capa que faz referência a um ícone da música brasileira: “Clube da Esquina” de Milton Nascimento, e se estabeleceu como um dos principais da cena. Esse álbum foi uma afronta a então cena do rap, a qual estava “mal” acostumada, com sons comerciais e com uma levada mais R&B de grupos como Costa gold e Haikaiss, “Colecionam Views, não tem conceito, são tipo placa: proibido pisar na grama, eu não respeito”.

Djonga em seu show no Rio de Janeiro. (Foto de Lucas Cellier)

Após o disco Heresia, Djonga lançou seu som no projeto “Perfil” da Pineapple, esse projeto que tem como intenção abrir espaço para rappers promissores do underground conseguirem seu espaço no mainstream, dentro desse som o artista escreveu uma frase que se tornou bordão de sua classe negra, frente a intrigas raciais e manifestações contra abuso de autoridade do estado, “Fogo nos racistas”. Djonga, em seus quatro álbuns, todos com 10 músicas, disponíveis nas plataformas digitais como: Youtube e Spootify, e lançados no dia 13 de março, segundo ele: para provar que o raio cai mais de uma vez no mesmo lugar, retratam sua realidade, sua visão de mundo. Visão de um jovem negro, crescido na periferia de Belo Horizonte. A briga contra o estado, políticos e polícia militar é forte e muito presente em suas obras, pois, quem era para estar nas comunidades ajudando, realiza papel contrário.

Quem canta os males espanta? Djonga canta sua história, desde sua infância, com suas dificuldades, onde era um jovem influenciado, e vivia em um meio com muitas "más" influencias, onde muito de seus amigos se renderam ao crime, “Depois que o primeiro colocou no bolso a primeira de cem, e ensinou como faz, demorou quase nada e começou a morrer”. Até seus problemas atuais, onde é um influenciador, e tenta passar uma visão de mundo consciente para seus ouvintes, ser o “bom exemplo” seja do menor que está crescendo dentro na comunidade, a qual ele vivia, até jovens que estão crescendo em condomínio fechado. O rapper conta como é difícil ser o “bom” exemplo: “Antigamente eu só queria derrubar o sistema, hoje o sistema me paga pra cantar irmão, eu sou daqueles que dá o papo reto e vive torto, assim é fácil né? Igual um médico fumante, ou tipo querer descansar e continuar de pé."

Djonga canta além de seu ativismo racial e o confronto contra injustiças impostas pelo estado até romances que acabaram clássicos contemporâneos. Com sua linguagem diferenciada, Djonga canta suas histórias românticas, como em LEAL, música que Djonga escreveu para a mãe de seus dois filhos, a cineasta Malu, “Ela diz que faz cinema, minha vida é um filme, nós dois é combinação que vale Oscar”. Tal música se tornou tema de seu romance e de inúmeros outros casais pelo país, é comum em suas apresentações ao vivo, que ocorra pedidos de casamentos no palco durante essa música. Porém, para aqueles “recém solteiros” o som “SOLTO” se tornou um bom companheiro para conforto, “tira a mão de mim, quero te soltar, vou fazer que é pra eu não te machucar. Eu sinto muito, mas to partindo, se não entender talvez veja maldade.”

Djonga, Malu e Jorge. Foto retirada do Instagram pessoal do artista. (@Djongador)

Djonga é um músico que se sente confortável para cantar sobre tudo, em seus últimos três álbuns, Djonga apresentou uma maturidade, e respondeu críticas que se tinham sobre seu primeiro álbum. Gustavo se apresentou cada vez mais calmo, com maior musicalidade e menos palavrões. É interessante que desde o álbum “LADRÃO” o artista vem homenageando um ente querido em uma faixa, como no caso de “BENÇA” no álbum citado, onde o artista homenageia sua avó, e conta a origem de sua ancestralidade. Em “O MENINO QUE QUERIA SER DEUS” o músico canta “CANÇÃO PRO MEU FILHO” em homenagem ao mais velho, Jorge. Em “Histórias da minha área” álbum mais recente, o rapper canta “Procuro Alguém” em homenagem a sua caçula, Yolanda. A linguagem utilizada por Djonga, gera inúmeras identificações, isso o faz se tornar como ele mesmo cantou na música “Fantasmas” em seu primeiro álbum: Efêmero e eterno.

Roberto Felicio Adriano. FPN20201

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