Era uma Vez em… Hollywood: um recorte de anos excêntricos

Por Clarice Duo

Clarice Duo
Araetá
3 min readNov 3, 2019

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Cliff Booth e Rick Dalton; Brad Pitt e Leonardo DiCaprio respectivamente — 2019. (Foto: reprodução)

Quem acompanha Quentin Tarantino filmes afora pode ter sentido certo estranhamento em seu último longa. Com uma linguagem bastante diferente do usual, Era uma Vez em… Hollywood surpreende pela pouca violência e pelo belo tributo ao Cinema.

No nono filme do diretor acompanhamos Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), um ator televisivo em declínio; Cliff Booth (Brad Pitt), seu dublê e Sharon Tate (Margot Robbie), atriz que passa seus dias meio a elite de Los Angeles. Ao fundo, temos a família Manson com o começo de seus assassinatos que aterrorizaram os Estados Unidos na década de 60.

Dalton é um ator frustrado que já teve seus dias de glória e agora vive à custa da fama que construiu interpretando um caubói em uma famosa série de televisão. Apesar de não muito carismático, o personagem de DiCaprio conquista por elaborar toda a insegurança que um artista de grandes indústrias deve ter. Envelhecido, esquecido e inflexível, traz o tom e estereótipo perfeito de um ator em crise.

O personagem de Pitt, por outro lado, sempre esteve por baixo. Aparentemente bonito demais para a sua função, permanece assombrado por um passado enigmático. Apesar dessa construção, é simpático e cativa com seus modos desleixados e despreocupados. Dá a entender que, não fossem seus segredos sombrios, teria grandes chances de crescer como ator. Negligenciando suas próprias necessidades para suprir as de Dalton, nos faz pensar até onde a amizade deles — que é o que têm — é saudável.

Sem todos os baldes de sangue que os filmes de Tarantino normalmente trazem, traço esse que é sua principal marca, a narrativa teve espaço para ser desenvolvida um tom mais romântico, dois tons menos violenta. Desde as primeiras cenas somos envoltos em um ambiente que exalta a indústria cinematográfica. É metalinguagem atrás de metalinguagem. A cena de Dalton se martirizando dentro do trailer por ter errado suas falas é das grandes memoráveis do filme. É um verdadeiro retrato da pressão e da minúcia que é necessária para se contar uma história.

Sharon Tate (Margot Robbie) — 2019. (Foto: reprodução)

Sharon Tate também tem sua parte no filme. Jovem, bonita e inocente, retrata o lado bom de uma Hollywood tomada por males. Sua participação no filme é, com certeza, de ambientação. Na história real, Tate era uma atriz em ascensão, brutalmente assassinada pelos Manson. Roman Polanski, marido da atriz na época e grande amigo de Tarantino, recebe uma homenagem do diretor que altera o curso da história e a reescreve à sua maneira.

Apesar da bela construção e homenagens prestadas, o filme falha ao não entregar um clímax. É possível justificar apontando a sequência da família Manson na casa de Rick Dalton, mas a cena pode muito bem ser entendida como um simples amarre do filme. A história é sempre constante e, como arco dramático, promete e não entrega.

Entende-se, então, que não era a intenção de Tarantino contar uma história específica, mas sim cruzar narrativas que estavam acontecendo ao mesmo tempo, sem compromisso nenhum em apresentar um começo, meio e fim. É um recorte da Los Angeles de 1960 em uma bela e controversa mudança de rumo na história, ao mesmo tempo em que nos apresenta um casamento com o universo da ficção.

Clarice Duo.

Onde: Cinemas. Após retirado dos cinemas, em DVD.

Quanto: Os ingressos inteiros variam de R$20,00 a R$38,00; as meias entradas, de R$10,00 a R$19,00.

Quando: A consultar nos cinemas, vide os horários diferenciados para cada unidade e franquia.

Até quando: 15 de novembro de 2019.

Site oficial do filme:

Cinema — 3FPN2019

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