Estremecer Auroras-Augustin Rebetez
Por Rebeca Domingues Gebrin
Para Rebetez, a exposição no Sesc Consolação “é um convite à desordem, à criação, à mistura de ideias, à combinação de sonhos.”
Essa crítica se refere à exposição que foi apresentada em 2019 no Sesc Consolação.
Exposição em montagem com esculturas do artista (Foto: Carlos Daniel)
A experiência que a totalidade da obra passa é a sensação de estar dentro de um sonho, de cara a cara com as mais exóticas criaturas que vivem no subconsciente humano. Os sons, advindo das pequenas caixinhas nos cantos altos das paredes, colocam o suspense à tona, e proporcionam uma nova realidade, um mundo maravilhoso, constituído de esculturas de rostos deformados, casas quase desabando e fotografias incríveis, como se todos esses elementos contassem puramente através de si mesmos os sentimentos humanos.
A obra é regida por fantasmas, cujas aparências se transformam. Eles gostam do jogo de luzes, pois assim conseguem caminhar pelas sombras. A cada passo uma nova criatura se apresenta, em plataformas e formatos diferentes, carregada de energia, fornecendo sensações visuais um tanto quanto peculiares. A tinta preta, o gesso, os motores e máquinas, e os objetos pendurados levam o espectador a ter impressões as quais não podem ser sentidas na realidade a qual vivemos.
Num jogo de audiovisual e lasers, advindos de uma ala específica da obra, é possível sentir na pele as emoções causadas pela mesma, o pânico, o medo, a dor e o sofrimento. Ela é composta por alguns vídeos, 3 ou 4, curtos, com uma média de 3 minutos cada. É como se eles fossem um só, contados em espectros diferentes, regidos pela mesma paranoia que compõe a realidade proposta.
O tema principal dos vídeos é a figura de um rapaz de tranças o qual é manipulado por outro ser de máscara, este que guia o personagem como um fantoche através de um mecanismo desconhecido. As tranças do rapaz o controlam também, como se fossem uma ferramenta do ser mágico comentado. Os lasers trazem uma sensação curiosa, assemelha-se à hipnose, como se pudessem levar o espectador a um processo de transe.
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Para conferir alguns dos vídeos, fica a sugestão:
As esculturas se apresentavam em conjunto, em série, regidas por diferentes deformações. Todas apresentavam propostas de um rosto humano, porém com uma peculiaridade em comum, os olhos sempre eram iguais, sem expressões, mas o nariz e a boca dominavam a distorção do todo. As proporções variavam a cada grupo, umas pequenas, outras com formato real de um crânio humano.
Algumas dessas esculturas foram feitas com argila e outras com gesso e gaze. O sentimento de vê-las era o de desespero, pavor, algo que não é definido por uma palavra, mas explicado através de uma mistura delas. Outras obras, propunham uma outra visão como a escultura de um rapaz sendo esmagado por uma máquina, obra cuja leva uma interpretação de diversos temas.
O jogo de madeiras e metais trazia certa curiosidade aos olhos do espectador, faziam nascer relação de forças instável entre as mesmas. Ao ver uma casa de madeira sendo sustentada por pequenos fios de prata trazem uma aflição, sendo esta amenizada quando o observador percebe que há pequenas gotas de cola preta, ou uma espécie de tinta mais grudenta, que sustenta as emendas de um material para o outro. A obra comentada também aborda uma reflexão interessante, a de medo, medo de tudo ir ao chão, de tudo ser perdido por um desequilíbrio, mas se ressalva por algo ou alguém que o mantém ainda em pé.
As fotografias abrigavam um teor mais sombrio e subjetivo. Abraçam os espectadores com sintonias diferentes. Eram dividas em classificações, como em rostos desenhados ou pintados com tinta, um grupo de pessoas compondo uma pose incomum, uma pessoa sozinha tentando imitar algo (como uma fotografia de um indivíduo que se detinha de objetos para se assemelhar a um cavalo), e um indivíduo em posições que remetem a algum sentimento. A imensa maioria dessas fotografias era em preto e branco e sempre eram regidas por uma proposta nova de visão de mundo, ou seja, não eram fotografias comuns, possuíam ângulos diferentes ou poses sugestivas.
Em suma, a experiência de estar presente a tantos estímulos visuais e sonoros me trouxe sensações diferentes, as quais me lembraram de diversos sonhos. Poder compartilhar dessa habilidade do artista me fez recordar de lembranças que já nem lembrava mais que tinha. É bom saber que a imaginação não tem limites, e que a mesma é um universo absurdo, rico de espaços amplos, que compõe outra realidade, totalmente diferente da real.
Quando aconteceu:
Abertura: 11/4/2019 , quinta-feira, às 20h
Visitação: 12/4/2019 a 27/7/2019 , de segunda a sexta, das 10h às 21h; sábados e feriados, das 10h30 às 18h30
Local: Sesc Consolação | Convivência
Ingressos: Grátis
Classificação etária: Livre
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