ETERNIDADE: INIMIGA DA VIDA

‘Esquadrão de Extermínio’, o terceiro episódio do segundo volume de ‘Love, Death and Robots’, transforma a imortalidade em uma ceifadora de vidas

Nando Yunes
Araetá
5 min readNov 15, 2021

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por Luis Fernando Yunes da Conceição

*Aviso de spoiler*

Love, Death and Robots é uma série da Netflix lançada em 2019 e que agora conta com duas temporadas. Cada episódio contém uma animação com narrativas e estilos artísticos diferentes, onde todos buscam criar universos únicos.

Capa oficial da segunda temporada de “Love, Death and Robots”

O episódio “Esquadrão de Extermínio”, lançado em 2021, apresenta a sociedade humana em um futuro distante e que vive sob leis que proíbem as pessoas de terem filhos em troca de uma tecnologia capaz de rejuvenescer. Porém, existem aqueles que buscam burlar as regras do sistema e abrem mão da imortalidade para gerar uma nova vida. Para manter o controle populacional, o sistema utiliza-se de detetives para rastrear e eliminar as crianças ditas “clandestinas”.

Misturando uma estética futurista com elementos dos anos 50, esse curta de 18 minutos aborda, principalmente, o egoísmo e a vaidade excessiva da humanidade.

Veículo futurista com aparência retrô

Inicialmente somos apresentados a um dos detetives do esquadrão de extermínio, Briggs, em sua missão de rastrear e exterminar duas crianças. É possível perceber que o personagem carrega sempre um olhar cansado e pesado, além de demonstrar uma certa relutância na realização da sua função, mesmo que no final opte por desempenhá-la.

O detetive Briggs chegando ao local das crianças escondidas

Nessa primeira ação do esquadrão, fica clara a existência de uma divisão física entre as pessoas imortais e as mortais. Como deuses, os eternos vivem em cidades luxuosas nas nuvens, enquanto os infratores vivem no solo, entre os restos da sociedade antiga. Briggs representa uma ponte entre esses dois mundos que fisicamente não se encontram.

Imagens comprando a cidade no céu e a cidade no solo

O episódio também explora a relação entre o extermínio do passado e a exaltação do futuro. Essa característica fica clara quando somos apresentados à Alice, namorada de Briggs, durante a performance do seu solo de ópera. Ela passou mais de uma década aperfeiçoando o seu solo, superando a canção original, o que só foi possível graças a sua imortalidade.

Dessa forma, Alice é conhecida como a “assassina de dinossauros”, por desbancar até mesmo a canção original que ela canta. Exterminando o passado e as tradições antigas.

Além de representar a aristocracia imortal e exterminadora, a introdução de Alice abre porta para outro questionamento: a relação sexual desses seres imortais. Com uma vida infinita, sempre tendo tempo, tudo pode ser deixado para o próximo dia, inclusive o sexo. Esse questionamento é mercado em uma cena entre Briggs e Alice.

Alice cantando seu solo

Ao longo do episódio, desde a execução das duas crianças, Briggs demonstra estar extremamente perturbado e assombrado por suas ações.

Sentindo o peso em sua consciência, ele decide buscar o passado para acalmar os seus pensamentos. Isso levará o detetive a rastrear uma mulher que possivelmente mantém uma criança escondida.

A mulher rastreada se chama Eve. Aqui existe uma subjetiva comparação à Eva da mitologia bíblica. Essa personagem em questão está viva há 218 anos e decidiu abdicar-se dos privilégios do paraíso para dar a luz ao pecado daquela sociedade, uma criança.

Briggs chega a questioná-la sobre o porquê de ter deixado a imortalidade para poder ter um filho. Eve responde que nunca seria capaz de se amar tanto ao ponto de querer ter uma vida eterna e que através de uma criança, ela poderia ver o mundo de forma nova e mais viva.

“Eu estou viva há 218 anos. Eu já vi demais. Mas ela torna tudo novo. Adoro ver as coisas através dos olhinhos dela. São tão brilhantes, cheios de vida. Não mortos, como os seus.” — Eve

Eve carregando sua filha

Como se sobrasse um resquício de humanidade dentro de Briggs, ele deixa Eve e sua filha viverem. O que consequentemente custa a sua própria vida. Mas antes que morra, Briggs tem um momento de alívio, um breve momento em que seus olhos mortos não pareciam mais tão frios assim.

O olhar de Briggs para o céu antes de sua morte

Em todos os episódios da série, é quase instintivo procurarmos o nome de seu título dentro das narrativas. Nem todas as histórias retratam o amor, a morte e os robôs ao mesmo tempo. Mas no caso de Esquadrão de Extermínio, é possível encontrar todos os três temas.

Eve e todas as outras pessoas que infligem a lei, são o mais puro amor que ainda resta nessa sociedade fria. Que mesmo correndo o risco de serem mortos, buscam trazer um sentido para vida. Enquanto Briggs, Alice e todos os imortais são os verdadeiros robôs.

Nesse futuro distópico, diferentemente das várias narrativas futuristas já existentes, não foram necessárias máquinas para destruir a humanidade. O próprio homem, tentando alcançar a eternidade e o paraíso, foi capaz de realizar a sua própria destruição.

Embora todo o contexto de ruína esteja presente ao longo da narrativa, o episódio se encerra tentando trazer um pouco de esperança para essa sociedade que sofre pela falta de humanidade.

As nuvens cinzas dão espaço para a luz entrar

Vai lá!

Onde posso encontrar “Esquadrão de extermínio”?

Você pode encontrar o curta na segunda temporada da série Death, Love and Robots, através da plataforma de streaming Netflix.

Quanto?

Em 2021, a assinatura mínima para ter acesso à plataforma custa R$ 25,90 por mês.

Quando?

A qualquer momento.

Saiba mais!

Love, Death and Robots é uma série repleta de reflexões extraordinárias que podem abrir espaço para novos questionamentos através de animações com estilos artísticos variados:

Minha selfie!

(como diminui a foto?)

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