‘Experimental’: Flávio de carvalho e diálogos entre o ontem e o hoje

Exposição dedicada ao multiartista modernista Flávio de Carvalho está em exposição no Sesc Pompéia até 23 de janeiro

Victorkutzmanso
Araetá
4 min readNov 30, 2022

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Victor Kutz Manso

Na comemoração dos 200 anos da semana de arte moderna de 1922, o Sesc Pompeia oferece ao paulista amante da arte a exposição ‘Experimental’, uma experiência estética dedicada ao artista Flávio de Carvalho.

A exposição de longa duração acontecerá até janeiro de 2023 no galpão do Sesc e conta com a curadoria de Kiki Mazzuchelli, curadora e crítica independente que trabalha dando visibilidade a artistas ainda não inseridos no circuito internacional de arte.

Alameda dos galpões Sesc Pompeia. Crédito: Divulgação/Sesc

A exposição percorre diversos momentos da carreira do artista, assim como diversas modalidades em que Flávio esteve inserido durante seus quase 60 anos de atuação artística.

Os principais momentos da carreira do artista estão sem dúvida representados na exposição, desde suas ‘experiências’ sobre a psicologia das massas, até sua famosa contribuição ao teatro modernista com a peça “O bailado do Deus morto”, passando por sua serie de retratos e suas experiências arquitetônicas, além de contribuições contemporâneas de artistas que dialogam intimamente com a obra de Flávio, como Guerreiro do Divino Amor, Ana Mazzei e Crochê de violão.

Na exposição se destacam as ilustrações feitas por Flávio para a sua ‘Experiência n.1’ (1931). Nessa experiência, o artista que estava inserido de forma heterodoxa no estudo da psicanálise caminhou contra o fluxo de uma procissão em São Paulo e publicou um livro de investigação psicológica dessa experiência. A exposição recupera as ilustrações dessa investigação que deixam evidente a polivalência da arte de Flávio. Esse conjunto de 21 ilustrações trazem à tona o modernismo radical e experimental do artista. Tanto pelo próprio caráter da experiência que reuniu arte, psicanálise e sociologia, quanto pela estética de suas obras, as ilustrações transparecem as influências dadaístas e surrealistas atravessadas diretamente pelas condições e contradições próprias da sociedade brasileira.

Em formato A4, ilustração 5 de ‘Experiência N.2, realizada sobre uma procissão de Corpus Christi’, 1931. A imagem mostra uma massa amorfa de pessoas em procissão, cinco figuras humanas no céu e edifícios citadinos compostos por linhas retas, luz e sombra. Na legenda lê-se “… e os homens pareciam pigmeos sacudidos por uma força estranha…”.

Outra obra que se destaca na trajetória do artista paulista é “O bailado do Deus morto”. A peça foi escrita pelo próprio artista e ainda contou com o figurino confeccionado pelo próprio Flávio, o que mostra o transito de sua criação artística pelos diversos campos da arte, trazendo sempre consigo uma concepção radical e experimental do modernismo.

Segundo o próprio artista, “o bailado do Deus morto é uma grande recordação histórica em torno da ideia de divindade criada pelo homem. No primeiro ato, assistimos ao nascimento dessa ideis e à influência que ela teve”.

As máscaras confeccionadas pelo artista estão expostas na exposição trazendo todo o caráter mecânico e artificial em alumínio que Flávio quis expressar com a ideia geral da peça.

Máscara produzida por Flávio de Carvalho para a peça “O bailado do Deus morto” (1933) em alumínio, coleção Teatro Oficina.

Contudo, entre outras obras de artistas contemporâneos que compõem a exposição, se destaca também a serie intitulada de ‘Superficções’, conjunto de duas instalações de vídeo-arte do artista paulistano, Guerreiro do Divino Amor, que busca, através das obras ‘Cosmogonia Superdivina’ e ‘Supercomplexo Metropolitano Expandido’ trazer discussões contemporâneas e explicitar as contradições da sociedade neoliberal paulistana e neopentecostal do século XXI.

A obra, através de uma montagem cômica e crua de diversos componentes audiovisuais é uma crítica à tradição artística hegemônica paulista do século XX em contraste com a ideologia neoliberal da prosperidade financeira religiosa, dialogando com a famosa rebeldia de Flávio ao caminhar contra a procissão de Corpus Christi em 1931. Assim como Flávio caminhou contra a sociedade conservadora de sua ápoca, Guerreiro do Divino Amor faz o mesmo, mas em uma discussão pertinente e atualizada para nossos tempos.

Captura de ‘Supercomplexo Metropolitano Expandido’, Guerreiro do Divino Amor — 2019. Filme (monitor) 42’’, Coleção do artista. A imagem mostra uma série de monumentos aos bandeirantes paulistas (Monumento às bandeiras de Victor Brecheret, 1984; Borba Gato de Julio Guerra, 1963, e outras) em um cenário etéreo. Em uma placa lê-se “Genealogia paulistana”.

Em suma, a exposição dedicada a Flávio de Carvalho é um marco importante nesse centenário da semana de arte moderna de 22. O artista pouco conhecido fora do meio artístico representa um capítulo da arte nacional que não pode ser esquecido por trazer aos dias atuais muita atualidade em sua qualidade estética e nas discussões que propõe. Flávio atua nos limites da arte, da psicologia, do teatro, da arquitetura e da dramaturgia, sempre elevando o patamar da discussão artística ao seu nível mais complexo e radical. O espaço que a curadoria dá a artistas contemporâneos que dialogam com a obra de Flávio é muito importante para manter o acervo do artista atual e conhecido.

Não deixe de conferir a exposição:

Data: De 31/08 até 23/01.

Local: Sesc Pompeia — R. Clélia, 93 — Água Branca.

Horários: Terça à sexta das 10h às 21h; sábado e domingo das 10h às 18h.

Preço: Entrada gratuita.

Saiba Mais: Site Sesc

Sesc Pompéia proximo à estação Água Branca e à Avenida Pompéia
Esse sou eu :) (turma: Jornalismo/ 3apm20211)

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