'F*ck Anyone Who's Not a Sea Blob'

O segundo episódio especial da série ‘Euphoria’ é um oceano de emoções

Anália Dualibi
Araetá
5 min readNov 15, 2021

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Por Anália Dualibi Messas

Cartaz do episódio "F*ck Anyone Who's Not a Sea Blob" com Jules

Estreada em 2019, a produção estadunidense baseada numa minissérie israelense de mesmo nome, Euphoria, dirigida pelo cineasta Sam Levinson, tornou-se um fenômeno entre o público jovem adulto e recebeu logo sua renovação para uma segunda temporada. No entanto, devido às restrições demandadas pelo COVID-19, o início das gravações de uma nova temporada tiveram de ser adiadas. Não querendo deixar o público esperando, com uma equipe reduzida, Sam Levinson prontificou-se a criar dois episódios especiais intimistas de aproximadamente 50 minutos cada, ambientados entre o período da primeira e segunda temporada. Em Dezembro de 2020, Trouble Don’t Last Always — Part 1: Rue era lançado, e, em Janeiro de 2021, F*ck Anyone Who’s Not a Sea Blob — Part 2: Jules.

A segunda parte é o único episódio da série, até então, a ser co-escrito, levando o nome do diretor Sam Levinson e da atriz Hunter Schafer, que interpreta a personagem Jules Vaughn. Essa é a primeira oportunidade que o público tem de entender a história de um ponto de vista além do de Rue, interpretada por Zendaya, quem narra não só a primeira parte dos episódios especiais, como a primeira temporada inteira é vista a partir de suas ambíguas memórias. Nesse episódio, por outro lado, temos uma conversa inteiramente dedicada aos sentimentos e vivências de Jules. F*ck Anyone Who’s Not a Sea Blob acompanha a primeira sessão de terapia de Jules, na véspera do Natal, pouco tempo depois dos acontecimentos da primeira temporada, em que Jules é deixada por Rue na estação de trem para fugir sozinha da cidade. Quando questionada sobre esse tópico, a cena corta para o olho de Jules, que reflete acontecimentos passados enquanto “Liability”, da cantora Lorde, toca ao fundo, uma música que possui uma narrativa que combina-se perfeitamente com a jornada de Jules.

Olho de Jules refletindo acontecimentos passados enquanto toca "Liability", de Lorde
Sessão de terapia de Jules

Durante a conversa com a terapeuta, Jules aborda diversos tópicos que a angustiavam, enquanto esses são rebatidos para que suas percepções fossem ampliadas. Jules, em uma linda metáfora, compara a si e sua experiência ao oceano: forte, intenso, feminino, bonito e livre. Ela reflete sobre sua feminilidade de um ponto de vista de uma garota transsexual, que baseou tudo que considerava feminino à partir do gosto masculino, e como era dura sobre si mesma para alcançar esse padrão de beleza e personalidade em que seria desejada pelo homem e não seria julgada por outras mulheres — essa perspectiva é corrompida quando conhece Rue, a primeira pessoa que a vê além dos padrões e camadas que impôs para si própria. Jules aponta a transsexualidade como algo espiritual em constante movimento, que transcende da binariedade; mas que infelizmente, quando é submetida às convicções sociais, acaba se tornando algo binário. A sua alternativa de deixar de tomar hormônios seria como desamarrar-se do modelo imposto.

Jules na praia em um flashback

Ao mesmo tempo que sua relação com Rue fora um descarregamento, ainda existia uma parte de si que guardava mágoas da amada. Os episódios anteriores deixaram o público aborrecido com Jules, até o momento, tínhamos conhecimento apenas da dor que causou à Rue – pela primeira vez seria exposto o outro lado. Jules carregava o peso da sobriedade de Rue nas costas, sentia a culpa por qualquer recaída que ela tivesse. Em paralelo, enfrentava a relação conturbada que tem com sua mãe, também dependente, traçando um retrato entre o vínculo que possuía com essas duas figuras femininas.

A pressão constante que vivia desde nova com sua mãe, mostrada em forma de flashbacks, era aliviada através de relações líquidas, intensas enquanto tinham que durar e que estimulavam sua imaginação — onde acontecia maior parte desses relacionamentos. Ela sentia que eram tão verdadeiros quanto o que teve com Rue. O episódio termina em aberto para uma segunda temporada, com um emotivo reencontro entre Jules e Rue, onde ambas confessam estarem com saudades uma da outra e desejam boas festas.

Jules em sua cama trocando mensagens pelo celular em um flashback
Jules e Rue durante uma memória

Euphoria teve seu devido sucesso por tratar de forma tão crua a adolescência e todas as suas possíveis conturbações e os episódios especiais não são diferentes. F*ck Anyone Who’s Not a Sea Blob, no entanto, é possivelmente o mais honesto episódio por trazer o próprio aprendizado da Hunter Schafer, uma mulher transsexual, assim como Jules. É um episódio que trata de relacionamentos, sejam familiares, amorosos, on-line, sociais ou consigo mesmo, de forma leve e genuína.

Particularmente, Jules nunca foi a personagem com que mais me identifiquei, nossas personalidades são diferentes e nossos backgrounds ainda mais, contudo, ao assistir o episódio eu me reconheci em muitas coisas que dizia, de forma que eu precisava pausar para poder refletir sobre o que tinha acabado de ler na legenda. É tocante saber que, em muitas ocasiões, você não é a única a pensar de X maneira, de sentir-se de Y, e o roteiro facilita muito para essa identificação. Além do roteiro divino, a atuação de Hunter é outra coisa que supera expectativas quando paramos para pensar que esse é seu primeiro trabalho como atriz — é notável como colocou seu corpo e alma para interpretar Jules. Mesmo com todas as restrições na época por conta da pandemia, a cinematografia também não decepciona, entregando algo de mesmo nível da primeira temporada, muito elogiada pela crítica, principalmente durante os flashbacks, onde o uso de cores e movimento era mais frequente. É uma obra que te deixa admirado e reflexivo ao mesmo tempo, ansiando por mais — prometido à ser entregue na próxima temporada.

VÁ LÁ!

Onde? HBO Max

Quanto? A plataforma oferece planos à partir de R$19,90 por mês

Quando? Quando quiser! O episódio é original da plataforma

Saiba mais!

Entrevista com Hunter Schafer e Sam Levinson feita pela Zendaya:

Trailer oficial:

eu :) ps: usem máscara

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