Flow State

Isabella Machado DM
Araetá
Published in
5 min readSep 24, 2018

Por Isabella Machado Duarte Marcello

Tash Sultana, compositora e musicista australiana.

Flow State” é o primeiro álbum de estúdio de Tash Sultana, uma compositora e musicista autodidata australiana de 23 anos de idade. O álbum, que pode ser considerado rock alternativo/psicodélico, conta com 13 faixas que apresentam instrumentos e ritmos variados, todos tocados e mixados pela própria artista, que domina a técnica de mais de dez instrumentos.

O álbum pode ser escutado digitalmente em plataformas de streaming, ou adquirido em forma de CD ou vinil, que é dividido em dois discos, somando quatro lados. O vinil acompanha um livro as letras das músicas e ilustrações, que remetem a um caderno pessoal com anotações da cantora.

Livro que acompanha o álbum em forma de vinil.

A obra começa com a faixa “Seed (Intro)”; um arranjo na guitarra é transformado em melodia suave e melancólica, carregando acompanhada apenas a voz da artista. É possível absorver um sentimento de tristeza, mas que não é vazio de esperança. A letra afirma que seus sentimentos sempre te levarão para o melhor caminho.

A curta introdução é seguida por “Big Smoke”. Essa música não é nova, tendo sido lançada pela primeira vez em duas partes no primeiro EP digital da artista. A versão de Flow State, no entanto, apresenta um amadurecimento da faixa, que tem um sentimento mais sóbrio e maduro; a melodia começa mais lenta e vai acelerando-se de forma contida, mas muito suave, trazendo um refrão contagiante, que te derrete e te leva junto com a música. Um baixo interrompe e refaz a melodia, que é perfeitamente transmutada em um intenso solo de guitarra.

A terceira faixa, “Cigarretes” traz uma sensação mais alegre. O arranjo desta é, de início, mais simples e consistente, repetindo-se e dando mais ênfase para a voz da artista, com um refrão bem lírico, que gruda na cabeça. Pode ser por conta disso que esta tem sido a música mais popular do disco nas plataformas de streaming. O refrão da música é no entanto interrompido por um longo e psicodélico solo de guitarra, que começa já intenso e vai ficando cada vez rápido e complexo, misturando-se diferentes guitarras e pedais acompanhadas ao fundo por uma batida forte e incessante.

Capa do álbum.

“Murder to the Mind” transforma todo o sentimento de alegria trazido na música anterior em sentimentos de dúvida e ansiedade. A letra da música fala sobre momentos de desesperança e não saber distinguir a realidade; é uma alusão concreta à realidade da própria artista, que durante a adolescência desenvolveu esquizofrenia pelo uso de drogas. Presa em uma realidade alterna de sua mente por 6 meses, teve que ser afastada da escola e de seus amigos para buscar tratamento. Tash compartilha abertamente essa história, e conta que fora a música que a ajudara a reencontrar-se depois. “Murder to the Mind” captura com sutileza e destreza as nuances desses sentimentos.

Seven” é a única faixa absolutamente instrumental do álbum. Com uma leve batida e um piano ritmado, que lembra um órgão, o sentimento geral é o de retorno à ordem, à rotina. A repetição do piano é invadida por uma melodia leve e aguda, lembrando uma espécie de violino, seguido por uma harpa. Há momentos de pausa na música, como se a melodia não tivesse pressa nenhuma em formar-se e recompor-se; o piano retoma o foco com teclas graves, e então a melodia se solidifica. Para mim a sensação geral dessa faixa remete a este processo de retorno à rotina e de controle de sua vida que Tash passou.

Por sua vez, “Salvation”, mistura a leveza com melancolia, mas afirmando o poder que a artista retomou sobre sua vida. Na letra ao mesmo tempo que há uma frustração com aquela pessoa que parecia apoiá-la, mas que na realidade só a desapontou e causou dor, há a reafirmação de que o amor próprio é o único que pode nos salvar. O sentimento trazido com a música é de libertação pessoal e física, trazida também com o ritmo dançante da música, que contrasta com a letra.

“Pink Moon” é uma das músicas mais lentas do álbum. O som da guitarra é acompanhado pela voz da artista, que canta com uma potência que vai crescendo conforme adentra-se a música. O canto remete a um uivo dolorido, solitário, como um lobo conversando com a lua, sua única amiga; a única que a impediria de voltar à loucura. Na minha opinião, esta faixa destoa um tanto do resto do disco. Apesar de algumas outras também apresentarem temas melancólicos, ainda podem ser consideradas com ritmos dançantes; diferentemente do ritmo da melodia nesta, que conjuntamente com a voz da cantora despertam um sentimento absoluto de tristeza.

Comentei e analisei algumas das músicas para contextualizar e transmitir uma sensação geral do disco, mas há ainda outras faixas para qualquer um mergulhar e se descobrir. Por mais que cada faixa carregue uma narrativa própria, simultaneamente o conjunto da obra mostra-se consistente como um todo e bem fiel à identidade da artista, se comparado a suas músicas anteriores.

Com “Flow State”, Tash Sultana realmente se revela uma musicista de extrema competência e sensibilidade. Do piano ao trompete, da voz à percussão, o mix de instrumentos por todo o álbum e dentro das próprias músicas demonstra a habilidade da compositora em harmonizar com sucesso diferentes estéticas sonoras.

Tash Sultana tocando ao vivo (05/24/2018) em Malkin Bowl .

Disponível: Digitalmente em plataformas streaming como Spotify e Apple Music, ou adquirindo cópias físicas através do site oficial.

Quanto: O CD custa U$24,00 / o Vinil varia entre U$59,95 e U$69,95

Links Relacionados:

Streaming: https://open.spotify.com/album/0mmKq1y0uVIjlgjhFw2OB2?si=5QzOiTRUQJiXFtd9PyPG4A

Vendas: https://24hundred.net/collections/tash-sultana?Tash+Sultana+Store=http%3A%2F%2Fwww.tashsultana.com%2F

Instagram: https://www.instagram.com/tashsultanaofficial/?hl=en

Eu, Isabella Machado

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