Fototaxia

Lena Araújo
Araetá
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3 min readNov 15, 2017

Lena Araújo

Carlos Nunes expõe 16 obras no andar térreo da Galeria Raquel Arnaud até janeiro de 2018. Valendo-se de técnicas como fotografias, colagens e vídeos, o artista versa sobre a luz e como os objetos são modificados por ela.

“Existem 88 deuses em um grão de arroz” (Série Brancos), 2017. Vários papéis brancos colados diretamente sobre a parede. 310 × 560 cm. [Detalhe]

Fototaxia é a mudança de direção de um organismo após um estímulo luminoso. Ao saber do título da exposição, imediatamente lembrei-me da música de Leonard Cohen. “Há uma rachadura em tudo. É assim que a luz entra”. Sorri ao ler justamente essa citação na nota do curador, Ricardo Sardenberg. Partilhamos da mesma opinião: a ciência depende da poesia. É da imaginação e do deslumbramento com o mundo que emergem os experimentos. E Carlos Nunes deslumbra-se com a luz.

“03/01/2017 a 27/09/2017”, 2017. Papel de seda dobrado e deixado ao sol. 60 × 47 cm.

Fototaxia positiva: atração

Da luz, tudo depende. Não há vida sem ela. E ela, a energia motriz de tudo, é a mais delicada das coisas. Onipotente, onisciente, mas mal é notada a sua presença. Carlos Nunes nota a luz e parece querer escancará-la para nós do modo como a vê. Evidentemente, isso se dá da maneira mais sutil e minimalista possível. E poderosa, irreversível. Papéis em diferentes disposições, expostos à luz por períodos de tempo variados, ganham cores ímpares. As obras estão em constante renovação, enquanto houver luz. Em vídeo, a combinação da luz com o tempo, o artista alonga ações para que vejamos o óbvio que nunca antes notamos.

There is a crack in everything. That’s how the light gets in”, 2017. Vídeo, 13’. [Detalhe]

Fototaxia negativa: repulsa

No entanto, os métodos do artista são rasos e superficiais. Se a intenção é a ciência na arte, Nunes falha ao distanciar-se do método científico e ater-se ao empirismo. O potencial da proposta se perde ao deixar de pesquisar técnicas e tecnologias. As obras agradam ao olhar e forçam-nos a rever o lugar comum, mas os mais sensíveis, os que também notam a luz, não são comovidos pelo acervo. Parece-me que o artista tem um mote rico nas mãos, mas que deixa escorregar e dissolver em sombras. Arte sem ciência é apenas ideia.

“A morte da luz por afogamento no tempo”, 2017. Fotografias. 31 × 22.5 × 4 cm. [Detalhe]

Onde: Galeria Raquel Arnaud. Rua Fidalga, 125. Vila Madalena — São Paulo, Brasil.
Quanto: Gratuito
Quando: De segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Aos sábados, das 12h às 16h.
Até quando: De 09/11/2017 a 20/01/2018
Links relacionados: Galeria Raquel Arnaud

Lena Araújo — 41621184

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