Fronteiras entre o Design e a Arte — atelier oï

Marina M Letizia
Araetá
Published in
4 min readSep 9, 2018

por Marina Maglioco Letizia

O trio suíço Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond formam o atelier oï, fundamentado em ideais valorativos e criativos de design, arquitetura e arte. Durante os dias 25 de agosto e 21 de outubro de 2018 o Museu da Casa Brasileira abriga uma mostra chamada “Indústria Artesanal — atelier oï”, curado por Albrecht Bangert, especializado em exposições de design e arquitetura.

Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond.

O atelier oï foi fundado em 1991 em La Neuville e seu nome origina-se de “troïka” uma palavra russa para um trio de árvores que se desenvolve energética e dinamicamente juntas. O trabalho é realizado em grupo, tentando além de englobar aquilo que é solicitado por seus clientes — quando se tem um -, também a identidade de cada um dos integrantes. O trabalho do atelier oï conta com o uso de inúmeras possibilidades de uso de materiais, explorando o campo da criatividade e percorrendo pela concepção de espaços interiores e arquitetônicos, desenvolve também produtos — lançando seu lado mais industrial e voltado para o mercado. Mas principalmente concebem suas peças autorais de design.

A exposição pode salientar uma discussão a respeito das fronteiras entre a arte e o design, sendo os produtos apresentados pelo atelier oï detentores de utilidade, e mais do que isso, originalidade, estética visual e tátil, ligada a beleza contemplativa.

Refletindo a respeito da arte, é válido ressaltar a filosofia aristotélica sobre a mimesis, em que apenas a arte (Tékhne) é capaz de revelar a natureza (Physis). Caso contrário, a Physis pode escapar, pois estima a atividade de dissimulação. Entretanto, aquilo que complementa ou acrescenta algo a natureza não pode categorizar-se como imitação ou duplicação. Assim torna-se cabível a dúvida a respeito das considerações sobre atividades inovadoras como arte. Supondo que uma obra englobe esses elementos de inovação e originalidade, pode ser considerada arte.

Para traçar um paralelo com o design, é válido relembrar de Aristóteles novamente, mas agora em “A Política”, quando define uma diferença das coisas úteis e das coisas belas. Se categoriza na primeira os negócios e os objetos não artísticos, mas úteis, e na segunda, as coisas belas, ou seja, o ócio e a arte, cuja atividade volta-se para si própria, mesmo que nem sempre possa ser bela em um senso comum. Sendo assim pode-se considerar que os objetos são primeiramente caracterizados pelo seu empenho como instrumento e por conseguinte se recobrem de valores carregados de significados, ultrapassando aquele que denominava seu trabalho e utilitarismo.

Na mostra de Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond há exemplos notáveis de tal fenômeno utilitário, porém belo, como os ventiladores “Les Danseuses” (2009) recobertos por um pano vazado, que quando em um local silencioso demonstram uma forma visual e quando em um local barulhento giram mais rápido, expandindo-se e recriando-se. Neste caso, o objeto não mais apenas tem sua função utilitária, mas ganha um valor de fins estéticos. Assim se faz a esperança do design: Tem o desejo de proporcionar àquele que contempla ou usa seu produto uma experiência além da maneira instrumental bem projetada ou útil, mas isso, no final das contas, também se molda pelas características da arte do fim em si mesma.

Os produtos do atelier oï também percorrem por diferentes polos de mercado, como por exemplo seus desenvolvimentos para lojas como a Bulgari, Louis Vuitton, Rimowa Paris, etc, mas também atuam em um mercado mais horizontal criando produtos como um cabideiro, o qual foram vendidos mais de quatro milhões de unidades em 2002.

Luminárias "Oiphorique" no salão central do Museu da Casa Brasileira

Alguns objetos foram desenvolvidos com parcerias internacionais, como os produtos de papel, seja os “Eoles”, dobraduras perfumadas de papel para aromatizar o ambiente criadas junto com profissionais japoneses, ou as luminárias “Oiphorique”, que seu movimento estabelece um diálogo com o movimento corporal de respiração.

A mostra do trio atelier oï define-se pela liberdade criativa e originalidade sobre os produtos, a arte e a arquitetura contemporânea. A qual se relaciona com o mercado e com as inovações mundanas. Uma frase de Umberto Eco sintetiza uma reflexão sobre a arte e o design em relação a essa exposição: A arte “não quer agradar e nem consolar, mas colocar problemas, renovar a nossa percepção e nosso modo de compreender as coisas”.

Onde: Museu da Casa Brasileira.

Quanto: Gratuito.

Quando: 25 de agosto de 2018 até 21 de outubro de 2018.

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Marina Maglioco Letizia

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