Handsome Devil
Por Malek Marques
Handsome Devil é um filme irlandês de 1h34 minutos de 2017 escrito e dirigido por John Butler. Tentei explicar e exemplificar os temas sem entregar muito o final.
O filme trata principalmente sobre masculinidade tóxica e suas consequências sobre as pessoas. Mas também discute aceitação e coragem para ser você mesmo. Se passa em um colégio interno exclusivo para garotos, onde rugby é venerado.
O enredo segue dois protagonistas, Ned e Connor. O primeiro, é um jovem magro e de cabelo pintado que gosta de música, literatura e de não fazer nada o dia todo. Ele é desde o início rejeitado e alvo de bullying por ser diferente,(aparentemente) gay e não gostar de rugby. Connor por outro lado, é o aluno novo, alto e forte, ás do time de rugby, cujo hobby é correr.
Ambos são muito diferentes e logo no começo se tornam colegas de quarto. Fato não bem aceito inicialmente por Ned que ao saber que ao ver Connor e saber que ele joga rugby já assume que ele é agressivo e desrespeitoso, com isso ele fica na defensiva e literalmente constrói uma barreira no quarto para se defender e ficar o mais longe possível. Mas já na primeira vez em que eles conversam essas expectativas baseadas puramente no estereótipo caem por terra e eles percebem que eles podem e são em muitas coisas parecidos.
A narrativa continua e vemos não só a amizade que vai se construindo entre os dois mas também como a masculinidade tóxica e as expectativas que ela traz estão presentes no ambiente e o peso disso em cada um dos personagens, não só nos alunos mas também fortemente nos professores. Essa masculinidade tóxica e expectativas tentam constantemente afastar os protagonista com a justificativa de que eles são muito diferentes e portanto não devem interagir.
O treinador do time de rugby, Pascal, é a representação física da masculinidade tóxica, ele é agressivo, intimidador, fala com confiança e suas falas e comportamentos deixam claro que ele espera o mesmo dos jogadores. Em oposição, o professor de literatura, Mr Sherry, é culto e de certa forma cheio de sí e gosta de estimular os alunos a trabalhar em equipe. É muito interessante ver as diferentes impressões e influências que ambos têm sobre os alunos e a forma como ao longo do filme é exposto que os dois estão errados sobre muitas coisas e que no final eles também têm coisas em comum, como o medo de admitir e aceitar suas fragilidades.
O filme usa várias recursos visuais para enfatizar a diferença e as barreiras sociais entre personagens, barreiras essas que são criadas por preconceito e medo de interagir com o diferente. Há as barreiras criadas na edição por faixas amarelas na tela, as criadas pelos personagens e as criadas pelos ângulos de câmera. A presença dessas barreiras é tão grande que a sua ausência passa a ser significativa.
Ao decorrer da narrativa somos levados a ver diferentes facetas dos personagens e nos é revelada novas informações sobre os personagens que mostram que as semelhanças e diferenças não são entre os personagens mais óbvios. Ned e Connor, o treinador e o professor de literatura, são bem mais parecidos do que aparentam.
Handsome Devil tem muita profundidade na forma que aborda seus temas e é um ótimo exemplo de como é possível criar profundidade e simbolismo com diversos recursos cinematográficos diferentes de forma interessante e não criar monotonia. Pessoalmente acho esse filme muito bom. Conheço esse filme a alguns anos e cada vez que assisto noto novas chamadas de simbolismo entre a atuação, roteiro e direção.
Handsome Devil está disponível na Netflix.
