Histórias da Sexualidade

Por: Karolinna Silva Martins

Karolinna Silva Martins
Araetá
4 min readOct 26, 2017

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Descrição da exposição "História da Sexualidade"

A exposição “História da Sexualidade” conta com um acervo de diversos artistas em três andares do museu, onde no primeiro andar constitui a maior parte dessa produção. A exibição das obras vai desde a arte clássica e a idealização dos corpos nus, até as questões relacionadas a política e ativismos.

Confesso que em um primeiro momento fiquei impactada com as obras ali exposta, afinal, não estamos acostumados a sair da nossa zona de conforto e ver trabalhos que quebram tabus nos instigando ao debate. Apesar da exposição ter sido agendada antes das discussões moralistas dos acontecimentos no MAM e no mundo, as obras vieram no momento certo para questionar os limites entre liberdade e censura.

O nu é visto como erotismo para leigos quando se trata de arte e a exposição transmite a ideia da nudez natural que em sua maioria é objetificada e o sexo como parte íntegra da vida humana. Entre os onze temas abordados no acervo do MASP, posso destacar as sessões: Mercados sexuais, Jogos sexuais e Voyeurismos; que me deixaram paralisada com o conteúdo de suas obras.

Edgar Degas. Paris, França, 1834–1917 ("Bailaria de Catorze anos", 1880) Acervo MASP. Bronze com policromia e tecido, 99x40x40cm

Em Mercados Sexuais, a modelo da escultura de Edgar Degas “Bailarina de Catorze anos”, tinha uma história de dificuldades no meio da prostituição e a dança era o meio de fugir da sua realidade. Além disso, denuncia o fato da maioria das bailarinas do baile infantil da Ópera de Paris do século 19, passarem por experiências semelhantes.

Descartes Gadelha. Fortaleza, Brasil, 1943, vive em Fortaleza ("Pela praia de Iracema", sem data) Coleção Museu de Arte da UFC, Fortaleza. PVC, objetos e zíper. 70,5 x 70,8 x 15,6cm

Na mesma sessão, a pintura de Descartes Gadelha “Pela praia de Iracema”, fazia fila para a leitura que revela seu teor problematizador sobre a prostituição infantil, principalmente, na região Nordeste. Questão que mesmo perto de nós, se torna invisivel aos nossos olhos, o que faz sua obra ser ainda mais marcante.

Adriana Varejão. Rio de Janeiro, Brasil, 1964, vive no Rio de Janeiro (287. "Cena interior II, 1994). Coleção Paulo Santi, Rio de Janeiro. Óleo sobre a tela. 120 x 100cm

Na parte denominada Jogos Sexuais, a tela “Cena de interior II” de Adriana Varejão pode provocar perturbação, porém suas diferentes histórias plurais de sexualidade e referências a cultura do estupro, especialmente, na época da escravidão; aqui não ficam em segundo plano, mas ganham visibilidade, sem se tratar de apologia.

Dias e Redwing (Mauricio Dias, Rio de Janeiro, Brasil, 1964, vive no Rio de Janeiro; Walter Riedweg, Lucerna, Suíça, 1955, vive no Rio de Janeiro). "Arquivo Fantasia", 2017. Videoinstalação. Obra comissionada pelo SESC-SP Cortesia dos artistas e Galeria Vermelho. 5 canais, pb, som, dimensões variáveis.

O Voyeurismo também é abordado e no segundo subsolo do museu há um arquivo de fotos em negativo de modelos anônimos, feitas pelo fotógrafo americano “Charles Hovland”, com base em seu anúncio no jornal “Realize suas fantasias sexuais”. Dias e Redwing com a autorização de Hovland, criaram em forma de videoinstalação as fotos documentadas pelo fotógrafo com a voz do mesmo, lendo as suas anotações de cada arquivo. Juntando e transformando de forma magnífica o analógico em digital.

A conclusão da exposição se dá com a apresentação da sexualidade em políticas do corpo e ativismos, e ao me ver não tinha melhor forma de terminar, levando em conta a necessidade do questionamento a respeito da censura discutida na atualidade e a carência de informação a respeito da classe artística, pois é essencial a arte como meio de oferecer diferentes visões de mundo, conduzindo a um certo conhecimento para chegar a uma verdade.

OBRA COLETIVA DO MOVIMENTO MUJERES CREANDO. La Paz, Bolivia. ("Nosotras parimos, nosotras decidimos", 2016) Cortesia dos artistas. Tinta sobre parede. Grafite realizado por Carolina Teixeira

“HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE”

+ infos: classificação: 18 anos

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Karolinna Silva Martins
Araetá

20 anos — Estudande de Radio TV da Faculdade Armando Alvares Penteado