I am easy to find
164 cenas. Uma vida.
É essa a sensação que o curta metragem “I Am Easy to Find”, dirigido por Mike Mills, traz ao registrar o acompanhamento histórico de uma protagonista anônima desde o seu nascimento até a sua morte. A sua estreia foi lançada pela plataforma Youtube no canal oficial da banda The National, já que a obra é composta sonoramente pelas músicas do grupo americano. É facilmente confundido por algumas pessoas como um extenso videoclipe com uma alta produção cinematográfica, portanto, em minha opinião, tal comparação não é válida.
O diretor Mike Mills conseguiu, com maestria, harmonizar as letras melódicas da banda The National com os seus takes inteligentemente pensados, criando-se uma experiência audiovisual fascinante. Em nenhum momento, as músicas são tocadas do começo ao fim, tendo-as como fragmentos específicos que encaixam perfeitamente com as sensações exprimidas pela personagem. Para a maior composição artística da obra, a estética presente no curta-metragem é única, trazendo uma montagem sonora quase experimental, imagens compostas com uma coloração preto e branco, mesclagem de takes coloridos para anunciar uma passagem de tempo e legendas narrativas que descartam os diálogos. Todos esses componentes são fundamentais para ajudar o curta a criar uma experiência original de “obra da vida”.
O tema principal do curta aparenta-se banal e clichê quando escutado pela primeira vez: a vida. Quantas obras, sejam elas cinematográficas ou expressadas em uma tela de pintura, são reconhecidas por isto? Muitas. Milhares. Portanto, “I am Easy to Find” consegue trazer uma visão sobre o assunto de uma forma poética e com sua face nua e crua.
Acompanhamos a trajetória da personagem principal, interpretada por Alicia Vikander, desde o seu nascimento até o dia de sua morte. É importante registrar que a atriz atua no decorrer de todo o filme, não havendo a reposição de atores de acordo com cada passagem de tempo. Este elemento traz, em minha percepção, maior empatia pela personagem, já que nos acostumamos com o seu rosto e passamos a acompanhar a sua trajetória mais fielmente.
A narrativa se inicia com o nascimento, o momento da estranheza perante um novo mundo, as sensações recém-adquiridas. O seu término se prolonga pela morte da protagonista com uma idade avançada, deitada em uma cama, sozinha, exatamente na mesma posição em que tudo começou. Por meio disso, de todos os momentos que a observamos, conhecemos essa pessoa. Convivemos com ela. Sentimos as suas lágrimas, sorrimos com as suas vitórias e nos emocionamos com a sua partida para a faculdade. Enfim, criamos uma afinidade com sua história.
Nota-se também, no decorrer do curta, alguns quadros coloridos que propositadamente dividem os períodos da sua vida . O quadro rosa claro, que remete à inocência e fragilidade trata da sua infância, o vermelho , que desperta sentimentos de desejo e paixão marcam a passagem para a sua puberdade e o quadro cinza, remete-nos aos sentimentos mais tristes e dolorosos que serão por ela experimentados.
São poucos os momentos que há diálogos no filme, e quando surgem, são pequenas frases, palavras, ou por vezes, barulhos sonoros que marcaram a vida da protagonista. Como a risada do pai, que é registrada como uma de suas primeiras lembranças, ou a cantoria da mãe, que a remete como uma recordação preciosa da infância depois de adulta. Junto com as letras melancólicas da banda The National, estes pequenos fragmentos de sons compõem a trilha sonora de sua vida, o que, em minha opinião, é um dos elementos mais fortes do curta metragem.
Desde os primeiros sonhos de tornar-se uma dançarina, quando criança, até as suas dificuldades amorosas na vida adulta, compartilhamos o crescimento desta mulher através de simples imagens, que, no entanto, contêm grandes marcos para a sua vida. Como o escritório do seu pai, o quintal que a remete das primeiras sensações de ser , nutrir a energia vinda da terra, sentir o vento colidir contra a sua pele, o local de trabalho e o hospital que cuidou de seu marido à beira da morte. São nestas figuras tão familiares e pelas sensações que elas nos remetem, que nos identificamos com a vida da personagem.
“I am Easy to Find” teve o seu título inteligentemente pensado. É fácil encontrar uma pessoa como ela, já que seus momentos são facilmente reconhecidos por nós mesmos. Junto com as legendas que compõem as imagens, descrevendo poeticamente os momentos presentes nas cenas, conseguimos identificar-nos com alguma memória pessoal.
É certo que a vida de cada um de nós pode ter um início diferente e seguir rumos distintos, mas seja qual for o destino, os sentimentos destacados pelo curta são nosso denominador comum.
Além dos takes inegavelmente belos da sua infância, que conseguem transportar-nos à algo relacionado à idade, são nas legendas que nos identificamos fielmente à vida da personagem. Como, por exemplo, “a primeira vez que ouviu eu te amo de alguém”, ou, “se sentir grande, pequeno, com medo, com facilidade”, quando lidas, remetem-nos àquele momento experimentado por cada espectador.
Não é por acaso que a personagem não possui um nome. Ela é fácil de se achar. Sua história está escrita em cada um de nós.
É possível encontrar o filme no canal da banda The National, segue o link:
É gratuito pela plataforma e não há data para a sua retirada.
Saiba mais!
Crítica "I am Easy to Find" The National por Cleber Facchi:
The National arrisca com disco amplo e ambicioso em "I am Easy to Find" por Matheus Anderle:
