‘ICARUS’
Em quarto álbum de sua carreira, BK constrói suas formas de escapar do labirinto da cidade do pecado
por Raphaela Rechberger Cammarosano
Nascido em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Abebe Bikila Costa Santos de 31 anos, vindo de uma família musical, consolidou sua carreira no território carioca tornando-se um dos rappers mais influentes da atualidade. Com o objetivo central de evoluir e manifestar seus direitos e deveres, o cantor compõe músicas de forte identificação com o público negro e recentemente trouxe a tona mais uma de suas produções, a fim de acrescentar nesse seu processo.
No dia 17 de novembro, BK, como é conhecido, lançou seu quarto álbum da carreira denominado ICARUS. Com mais de 2 milhões de reproduções em menos de 24 horas, o rapper na tentativa de alçar novos voos e relatar seus desafios a partir disso, construiu em 13 faixas, narrativas para um público mais amplo com a ajuda e participação de outros nomes da indústria importantes, como Marina Sena, L7nnon, Júlia Mestre, Luccas Carlos e entre outros. Dessa maneira, BK encontrou a partir das luzes da cidade e a perda de nossa essência — no seu episódio Cidade do Pecado, — a metáfora de Ícaro que nos ensina a não nos deixar enganar pelo brilho das coisas, simbolizando de forma moral, os valores do artista.
Na mitologia grega, Ícaro, filho do grandioso arquiteto Dédalo, para escapar do labirinto de Minotauro que estava preso junto a seu pai, ganhou asas feitas de penas de gaivota e cera de abelha do seu mestre para voar e assim, escapar do labirinto. Seu pai havia alertado sobre o perigo de chegar muito perto do sol, já que o calor poderia derreter a cera que unia as penas. Porém, no dia da fuga, Ícaro estava tão feliz com a sensação de voar, que se esqueceu do conselho do pai e voou em alturas que romperam a permissão. Assim, ele acabou perdendo suas assas pelo derretimento da cera e consequentemente, afogando-se no mar.
Como tentativa de contextualização do mito grego na contemporaneidade , o cantor relata desejos e ambições que estão presentes no dia a dia e os diversos Ícaros existentes, que sofrem a queda diariamente por não resistirem a elas diante de uma soberba no século XXI. Diante disso, o álbum é construído na narrativa de tentar alcançar seu voo, mediante das impurezas e distrações que nos cercam, levando a soberba.
O rapper associa o “labirinto” presente no mito a vários crimes e distúrbios sociais, como o racismo, a pobreza e a fome. É neste contexto que as asas da lenda se tornam uma ferramenta de escape. “É preciso entender o porquê Ícaro tinha que sair dali. Mas, ao mesmo tempo, nesse processo de fuga, a luz se torna um atrativo tão forte a ponto de ser fácil de se perder”, pontua o artista.
Além disso, o artista também levou o rap no âmbito artístico. Com ajuda de sua equipe, planejou uma exposição que contava com realidade aumentada no Museu de Arte do Rio (MAR) a partir da releitura do quadro “O voo de Ícaro” do carioca Nikolas Demurtas. Segundo ele, seu desejo percorre a vontade de fazer as pessoas acessarem aquilo que tem a capacidade de criar, uma vez que o branco não tem o acesso negado a nenhum tipo de cultura.
“Feita pelo artista carioca Nikolas Demurtas, a arte de 2m x 2m — pintada a óleo — reinterpreta a tela de “O Voo de Ícaro”, pintada por Jacob Peter Gowy (1636–1638). A obra está em exposição no Museu de Arte do Rio (MAR) até hoje, 19 de novembro, tem uma ativação de realidade aumentada, na qual basta mirar um aparelho celular para mergulhar nos detalhes e nas faixas do álbum. Inclusive, a sugestão é curtir com fone de ouvido para ter uma experiência única do novo álbum.”
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