IGOR

João Corbett
Araetá
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5 min readDec 2, 2019

No dia 16 de maio de 2019, o artista Tyler, the Creator postou um comunicado em suas redes sociais:

Tyler, durante toda sua carreira foi um rapper, tanto estilisticamente, quanto aos olhos do público. Nos seus mais recentes projetos, ele tenta se distanciar dessa categoria, buscando o reconhecimento como músico produtor. Dar a ele esse rótulo significa reduzi-lo artisticamente, segundo Tyler.

Em 2017, o artista lançou um álbum chamado Flower Boy, que iniciou esse processo de emancipação da imagem do rapper. Por conta do seu anterior estilo agressivo, contraventor e até gutural( em muitos casos buscava o incômodo, tanto visual e auditivo, quanto moral), o disco foi recebido com estranhamento pelos antigos fãs, aficionados do rap mais tradicional e “raiz”. Esse disco não foi feito para essa audiência.

Capa do álbum Flower Boy

Tomando a persona de Flower Boy( ele sempre fala por meio de personagens criados e contidos em seus álbuns), Tyler mostra seu “lado frágil”. Para tal, o aspecto musical e estético foi completamente inédito em sua discografia, mais delicado, intrincado e “bonito”. Essa estética indignou aquela audiência, que, infelizmente, muitas vezes idealiza o barulho e a rudeza de seus artistas, além de ser majoritariamente e primariamente machista e homofóbica. Esse universo não se encerra nisso e merece, por si só, uma discussão muito mais ampla e intrincada. A questão aqui é, o álbum de Tyler é muito mais direcionado a um público geral e busca e traz muitos aspectos da estética pop, de seu modo único.

Flower Boy recebeu enorme prestígio e reconhecimento da crítica e da opinião popular.

Depois de um período de silêncio, o agora muito mais famoso, Tyler anuncia seu próximo projeto: em colaboração com a Universal Pictures, fez um EP inspirado na história “The Grinch”, de Dr. Seuss. Algumas das músicas entraram na trilha sonora da mais nova adaptação cinematográfica desse já clássico americano.

Esse EP é a prova definitiva da procura de Tyler pela fama geral e pelo público pop e jovem.

É nesse contexto que ocorre o lançamento de IGOR.

Como é apontado pelo comunicado, Tyler considera esse um álbum completamente diferente de tudo que fez antes e pede ao seus fãs que o entendam como tal. Ele roga ao ouvinte que, ao escutar o álbum, não venha com expectativas e referências dos projetos antigos dele e que aprecie os 40 minutos de música como uma obra única e concisa.

Realmente, o álbum foi transformador e constitui, claramente, um marco na carreira do artista. Musicalmente, é surpreendente pela versatilidade( capacidade de atuar em diferentes ritmos e estilos), complexidade na mixagem e pela variedade no uso de diferentes timbres. Apesar da sonoridade incomum no mercado atual, fez enorme sucesso e se manteve por um bom tempo como uma das músicas mais escutadas no mundo.

Artisticamente, foi um gigantes sucesso. Em entrevistas, o músico diz que tem interesse de produzir músicas de outros artistas durante certo tempo, pausando suas atividades temporariamente; por conta de IGOR, Tyler prova sua perícia na manipulação formal e conhecimento do público. Ele deixa claro na capa que escreveu, produziu e “performou” em todas as músicas, é um álbum completamente independente e controlado por ele.

Esse é o mais impressionante em IGOR, o controle que o autor demonstra no encaminhamento de sua carreira, enquanto constrói o universo contido que é contado com completa e inédita autenticidade.

Tyler, agora sua persona é Igor, narra os períodos de uma separação amorosa, evidenciando seus sentimentos e opiniões em momentos específicos; cada música é um momento/ estado de espírito. Gradualmente, com poucas elipses, somos expostos a mudanças emocionais e de mentalidade do “protagonista”: primeiro se agarra ao “namorado” com desespero e necessidade; depois, visto o desinteresse e as ações dele, passa por um período de raiva e violência, acabando em um tom de aceitação da separação e perdão. A última música se chama ARE WE STILL FRIENDS?.

A narrativa é contada com primor com o apoio musical-instrumental, que detalha e torna mais próximas e acessíveis emocionalmente as músicas. O timbre de sua voz é grande fator para a identificação dos espectadores, grave e rouca, quando canta, passa uma sensação de intimidade e abertura, quase como se tudo fosse uma conversa ou desabafo entre amigos.

A utilização de timbres “feios”, isso é distorcidos ao extremo e estourados, era algo que não se apresentava com tanta popularidade faz um bom tempo, com exceção dos famosos 808s. Tyler o faz eximiamente.

É perceptível que, no decorrer do álbum, Tyler expressa suas emoções muito mais honestamente e “sem filtros” do que costumava fazer até então- até em Flower Boy ele fez esforços e músicas só para “parecer legal”, diz ele em entrevista, mas nesse há sinceridade total.

Deve se lembrar, porém, que esse álbum não possui caráter social, ou político significante. É nisso que se pode resumir a obra: um admirável feito, mas puramente estético, sem consequências ou impactos políticos-sociais.

Capa do álbum

IGOR pode ser encontrado nas maiores plataformas de música( Spotify, AppleMusic, Deezer etc). Seus clipes foram postados no YouTube, onde também é possível encontrar todas as músicas de graça.

Capa alternativa do álbum

Foi lançado no dia 17 de maio de 2019 e, devido às maravilhas modernas da tecnologia digital, pode ser encontrado a todo momento, desde que ligado à internet.

Eu, escutando IGOR

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João Corbett
Araetá
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O homem que consegue falar mal de tudo e todos, a qualquer momento