Imagem e Palavra

Nicole Mantuano Freitas
Araetá
Published in
3 min readMay 28, 2020

Por Nicole Mantuano Freitas

Cartaz do filme Imagem e Palavra

No longa-metragem Imagem e Palavra (Le Livre d’image, em francês), lançado em março de 2019 no Brasil, o diretor vanguardista Jean-Luc Godard demonstra um comentário sobre a situação caótica do mundo, através de recortes de cenas de filmes, reportagens e vídeos caseiros. Com as colagens presentes na obra, reflete não só sobre questões referentes ao mundo e ao cinema, mas também a percepção da civilização ocidental em relação aos árabes.

De maneira provocativa e política, características presentes no cineasta desde o início da carreira, Godard obriga o expectador a ponderar em como a humanidade está sendo massacrada pela impetuosidade do capital. Por meio da narração realizada com a própria voz, a qual possui um caráter de extrema profundidade, divide o filme em cinco partes que equivalem aos cinco dedos das mãos, visto que o diretor afirma ser um instrumento condicional poderoso do pensamento da humanidade.

“A verdadeira condição do homem é pensar com as mãos.” — frase narrada por Godard na introdução do filme.

No primeiro segmento denominado “Remakes”, JLG aponta que repetimos o passado sem realmente aprendermos algo com ele. Por intermédio da volta as histórias do cinema, com o uso de filmes — como Tubarão de Steven Spielberg e Salò de Pier Paolo Pasolini — e sobreposição de palavras, demonstra a carga de imagens e sons cristalizados que o cinema possui.

Já no segundo e terceiro fragmento, “As Noites de São Petersburgo” e “No vento confuso das viagens”, respectivamente, percebe-se a aproximação da morte e violência figuradas pelo desejo de poder presente através dos séculos. Com menção a Segunda Guerra Mundial e a sensação de perigo que a sociedade possuía naquela época, demonstra certa brutalidade como referência a atração inexplicável que a humanidade sente em relação à guerra. Além disso, faz o uso de imagens de filmes que contém trens, a fim de demonstrar uma visão sangrenta dos trilhos.

Godard, então, passa para a quarta parte, nomeada “O Espírito das Leis”, a qual apresenta não só a demanda de justiça, mas também o ponto de vista crítico que possui em relação ao mundo ocidental, em especial do cinema-norte americano. Já no último fragmento, chamado “A Região Central”, o cineasta aborda o fim das espécies e as diferentes responsabilidades dos seres que possuem mais ou menos recursos influenciadores para tal processo.

Cena do segmento "Aquelas Flores Perdidas"

Porém, há, ainda, alguns segmentos finais, como “Feliz Arábia”, "Os Paraísos Perdidos" e "Aquelas Flores Perdidas ao Vento", os quais, ao se passarem no Oriente Médio, destacam a filosofia de vida do diretor sobre aproveitar o agora, através de imagens de filmes realizados por lá. Essas, possuem cores fortes e estouradas que demonstram as belezas árabes em contraposição de figuras do Islã radical.

Assim, Jean-Luc Godard retrata o poder das imagens e o quanto elas mudaram ao longo dos tempos, ao estarem no domínio da manipulação. Causa, ainda, certa provocação aos espectadores com a mistura de imagens e cores diferentes, o que acaba não deixando espaço para uma plateia passiva. Tal fato soma-se aos silêncios e fundos pretos presentes de modo desordenado no decorrer da obra, os quais fazem uma crítica à cristalização do cinema ao longo dos anos.

Não é à toa que Imagem e Palavra, ao concorrer o festival de Cannes de 2018, o qual o prêmio fora para um filme japonês chamado Assunto de Família, ganhou uma Palma de Ouro especialmente criada para ele.

Imagem e Palavra — Trailer oficial legendado

Onde? Netflix

Quanto? A partir de R$21,90 por mês

Quando? Disponível por tempo indeterminado na plataforma de streaming

Saiba mais:

Eu!

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