Impossível um filme ser mais raso

Sobre o live-action ‘Uncharted’

Leticia Viana
Araetá
4 min readMay 16, 2022

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Por Letícia Viana de Sousa

Pôster oficial do filme Uncharted

“Uncharted” é um filme de 2022 baseado no videogame homônimo surgido em 2007 com sua última versão em 2017. A obra cinematográfica conta a história de Nathan Drake (Tom Holland), um órfão e ladrão que, visando poder se reencontrar com seu irmão desaparecido, embarca em uma aventura com Victor “Sully” Sullivan (Mark Wahlberg) em busca do “maior tesouro nunca encontrado”.

O filme já inicia com uma cena sem sentido. Apesar de ser uma boa ideia começar com uma cena da luta final para causar intriga e curiosidade no público, tal efeito deve ser feito com algum propósito. No caso desse longa, além da cena mostrada não ser da batalha final, mas sim de uma luta do meio, parece que ela foi colocada no começo apenas para ter uma boa troca de cena para que o prólogo fosse iniciado. Ou seja, não é funcional.

Em se tratando de cenas, elas não se conectam ao longo da trama. A obra procede sem nenhuma linha lógica, contendo não apenas equívocos clássicos de qualquer filme de ação — como a vida eterna das personagens, mesmo das antagônicas — mas inúmeros descuidos de continuidade: eles saindo da água e no próximo plano já estarem secos; as cartas e outros itens permanecerem com o protagonista o tempo todo, intocadas, mesmo depois dele cair de um avião no mar sem mochila; do Nathan e da Chloe se hospedarem sem dinheiro algum; o surgimento, do além, de lanchas e as personagens saberem como dirigi-las e lutarem extremamente bem. Com tamanhas inconveniências, passa a impressão de que o filme não foi estruturado, tendo sido filmado no improviso e arrumado na montagem em uma tentativa de fazer um mínimo de sentido.

Cena na qual Nathan (Tom Holland) e Chloe (Sophia Taylor Ali) estão em um hotel que não tem dinheiro para se hospedar, com cartas que acabaram de ser afundadas no mar mas estão inteiras

Além disso, “Uncharted” consiste em nada mais que cenas exageradas e diálogos rasteiros. Por melhores que sejam as cenas de ação, com certeza o ponto alto do filme, elas abusam do poder das personagens individuais, colocando-as em situações que claramente não são capazes de resolver, mas saem vivos mesmo assim. Paralelamente, o filme definitivamente não faz nenhum esforço para permitir que o público entenda sozinho quem são as personagens, uma vez que elas discutem tudo entre elas em diálogos fracos. Porém, mesmo que não houvesse essa explicação exagerada das emoções, os sujeitos continuariam fragilizados porque são, de fato, mal explorados psicologicamente.

Mesmo não possuindo conhecimento do videogame, senti falta de mais malícia na personagem do Nate. Por mais que seja interessante que ele seja de certa forma ingênuo e brincalhão, as cenas que mostram sua inteligência e técnicas de roubo fogem dessas características de maneira brusca e contraditória. Fica claro que nenhuma das personagens é aprofundada, tanto que cheguei a pensar, no meio do filme, que se os antagonistas ficassem com o ouro no final, eu não iria me importar, já que não foi criada nenhuma empatia em relação aos nossos heróis.

Tom Holland, ator do Nathan Drake, também perdeu uma maravilhosa oportunidade de se arriscar e representar algo diferente do usual, mas escolheu fazer o que já sabe: ser ele mesmo. Não fui capaz de distinguir o personagem do ator, parecendo ser nada mais que um Homem-Aranha sem superpoderes. Ademais, o longa representa uma cópia fraca dos famosos “Indiana Jones” e “Piratas do Caribe”, fazendo inclusive referência à ambos — claro, em diálogos, porque o filme se consiste quase inteiramente disso — mas a personagem desenvolvida por Holland não carrega consigo o mesmo peso e ardência de Jones ou Sparrow, deixando a cópia ainda mais frágil.

Personagem “Nathan Drake” no filme e no jogo Uncharted, respectivamente
Personagem “Nathan Drake” no filme e no jogo Uncharted, respectivamente

Ainda sobre as personagens, Antonio Banderas, ator de Santiago Moncada, antagonista do longa, não podia ter sido mais subestimado. Não é possível explorar a minha decepção sem dar “spoilers”, mas ele apenas promete o filme inteiro e não entrega o que era esperado.

Finalmente, é um filme coberto de equívocos, que não passa de uma sessão da tarde. Como uma obra para desligar a mente e dar algumas risadas nas cenas de alívio cômico, o filme é uma perfeita fuga da realidade. Em uma palavra, é um filme esquecível, que se assiste uma vez e na semana seguinte percebe-se que não se passou de um mero passatempo.

Onde Assistir?

  • Google Play Movies & TV
  • Amazon Prime Video
  • Youtube

Quanto Custa?

  • Em todas as plataformas por R$18,90
  • mensalidade de R$9,90 no Amazon Prime Video
  • mensalidade de R$9,90 no Google Play Movies & TV

Até Quando?

O longa teve seu lançamento nos cinemas em fevereiro de 2022 e se encontra nas plataformas digitais por período indefinido.

Saiba mais!

  • Cenas deletadas
Nathan e Chloe conversando na sacada
Nathan e Sully conversando no bar
  • Por detrás das câmeras
Atrás dos dublês
O que aconteceu durante as filmagens?
A vida do Tom Holland (Nathan Drake) nessa filmagem
Cenas do estúdio
Erros de gravação e cenas do estúdio

Crítica

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