‘Inside’ — Olhem para mim

O filme é uma crise existencial em meio à pandemia com o estilo estético de um artista que se popularizou por conta da internet

Rafael ScupIno Oliveira
Araetá
4 min readNov 16, 2021

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Poster/capa para o filme “Inside”

Bo Burnham, durante a sua enlouquecedora quarentena, fez o seu primeiro especial de comédia em 5 anos, após uma série de ataques de pânico que o fizeram desistir de performar.

O comediante dirigiu, escreveu, produziu, gravou e atuou no filme, além de compor e tocar todas as músicas presentes nele. Essa experiência audiovisual agiu como a sua válvula de escape do mundo caótico de 2020 e um modo de se expressar, de maneira mais crua e sem filtros, em relação a como ele normalmente se portava em seus antigos especiais.

Ao ser produzido de uma maneira “caseira”, Bo Burnham volta ao estilo de produção que a princípio o popularizou anos atrás, porém agora de maneira mais aprofundada que antes. Bo há anos tem feito vídeos em redes sociais, onde seu estilo de comédia escura e sarcástica, porém ao mesmo tempo jovial, encontrou milhares de fãs, muitos deles jovens que cresceram e aprenderam com o seu humor.

Bo Burnham deitado enquanto performa no especial

Porém, ao ir mais fundo dentro da psique de Bo Burnham que os seus especiais geralmente vão, Inside não só traz inúmeras críticas a problemas atuais do mundo como a desconexão atual entre as pessoas por conta da internet e o desejo de criar uma farsa para mostrar ao mundo, o filme também faz referências ao trajeto de Burnham e as origens de seu humor único. Bo fala sobre a sua família, o contato que tem com a sua mãe e a ausência que tem com o seu pai, o seu uso de piadas e sarcasmo como uma maneira de ser apreciado por outros e mascarar as próprias inseguranças e a dicotomia que ele próprio tem ao tentar, ao mesmo tempo, trazer uma visão crítica sobre problemas muito maiores que ele mesmo e ainda assim ser o centro das atenções e possuir o holofote tão desejado por artistas.

Bo Burnham se depara com uma luz do exterior.

Por conta da pandemia, Burnham se isolou do mundo em 2020 por medo do exterior e, assim olhou para o mundo com a visão de um espectador, simplesmente observando o caos afora sem interagir com ele, amedrontado pela realidade. Porém, ao se tornar um “eremita” na era digital, Bo se depara com outro problema: ele mesmo. Ele se prende com os seus pensamentos e tem que aprender a lidar com ser um comediante em um tempo que não tem plateia, contando as suas piadas para o vazio, logo após sentir que finalmente havia se recuperado dos ataques de pânico, e cair novamente na loucura — mas, dessa vez, ao decidir documentá-la, o filme se torna seu lastro na sanidade. Trabalhar no longa-metragem é a única coisa que mantém seu psicológico são.

Bo Burnham cantando “All eyes on me”

Ao longo da obra, Bo decide passar cada vez mais tempo trabalhando e prolongando o filme, tendo o medo de perder a sua sanidade se ele terminar o seu trabalho. Porém, ao final, ele encara a realidade de todo artista e consegue se “desprender” da sua obra e liberá-la ao mundo, se expondo da maneira mais verdadeira possível e chegando à realização que a experiência pela qual ele passou foi mais universal do que parecia a princípio.

Vá lá!

Onde?

O filme está disponível na Netflix.

Quanto?

A mensalidade de uma conta na Netflix varia de 25,90 R$ a 55,90 R$.

Quando?

O filme foi lançado em 30 de maio de 2021 e estará disponível por tempo indeterminado.

Saiba mais!

Alguns vídeos para refletir sobre o filme:

Eu

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