Instant Destiny

Uma coleção de Briscoe Park

Murillo Soares
Araetá
5 min readMay 13, 2022

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Por Murillo Diogo Oliveira Soares

Em 2022 ,o fotógrafo Briscoe Park juntou uma série de fotografias de sua autoria em uma coleção para o site Foundation — site de vendas de NFTs. A coleção intitulada Instant Destiny traz 12 fotografias do artista, todas elas com uma descrição dos sentimentos de Briscoe ao fotografar a cena, e todas disponíveis à venda em formato NFT. Briscoe não detém um site próprio, somente perfis em páginas de venda de arte e redes sociais; assim, essa é uma das primeiras vezes que vemos o fotógrafo organizar suas obras por tema, produzindo uma experiência mais complexa de sua arte.

Sigo Briscoe em suas redes sociais há muito tempo, sua fotografia me atraía pela atmosfera de terror que trazia, geralmente registrando cenas melancólicas, escuras e que causavam incômodo. Sensações incômodas e difíceis de definir foram os fatores responsáveis para que a arte de Briscoe me conquistasse. Nessa recente coleção, o artista busca um estilo pouco explorado em seu trabalho, todas as fotografias se passam de dia, tem um conteúdo bucólico, belo e pacífico. Ainda assim a complexidade dos sentimentos que Briscoe me causa, mesmo com um estilo diferente, é admirável.

Tomando como exemplo de análise a peça intitulada Something in the Air, é possível esclarecer um pouco melhor a confusão de sensações que tanto me atraem na estética adotada por Briscoe. Na imagem em questão, o fotógrafo registra um casarão isolado que é ofuscado pela montanha que cresce ao fundo da imagem. Fotografada de dia, vemos um cenário de natureza belo e agradável, mas que mesmo assim traz uma sensação incomoda. A vasta montanha faz a casa parecer inferior, não só em tamanho mas em importância, ela é posta numa posição submissa perante a natureza. No enquadramento escolhido por Briscoe, a montanha se estende aos céus, quase não vemos nuvens ou o azul de um dia ensolarado, assim a casa parece mais isolada ainda, não de uma forma boa como o isolamento opcional, mas como se estivesse isolada do resto do mundo por uma muralha natural. Da mesma forma funcionam as outas fotos dessa coleção, trazem uma forte presença do cenário natural, que em contraste com elementos menores assume um papel grandioso e divino, tão poderoso que oprime.

Se atentando ao fato de que Briscoe escolheu obras antigas para a montagem dessa coleção, deve-se valorizar a organização feita, pois é ela que atribui novo valor à suas obras. Agora vou tomar para analise três imagens semelhantes em minha interpretação, que além de trazerem cenários naturais como toda a coleção, dividem a transmissão de um sentimento parecido. As obras são: Stop to Smell the Flowers, A Cowboy at Heart e Roaming Forever. Interpreto elas a partir da mesma antítese que opõe a beleza e a opressão da natureza. Mesmo que tragam cenários belíssimos e agradáveis visualmente falando, ao me atentar melhor às imagens, elas me causam desconforto. Tendo uma perspectiva quase que renascentista, a paisagem tem uma grande profundidade, tão grande que montanhas ficam pequenas e perdem a saturação se aproximando da coloração do céu; é a sensação de infinidade. A natureza se estende infinitamente em direção ao horizonte, as figuras menores da composição (veículo agrícola, cavalo e vacas) são postas em posição de isolamento, de impotência e de irrelevância quanto ao mundo que as cerca. Na descrição de Briscoe para a obra Roaming Forever, ele fala sobre sua identificação com as vacas, ao pensar que, assim como ele, elas vagariam para sempre; levando essa ideia da eternidade em conta, pensei em como as vacas não conseguiriam pastar toda a paisagem que se estende atrás delas, mesmo que vagassem por toda as suas vidas — mais um sinal de sua irrelevância diante as grandes manifestações da natureza.

Parte da releitura proposta por Briscoe, na organização dessa coleção, está nos textos escritos para cada foto. Cada imagem está atribuída a uma memória ou pensamento que motivou o fotógrafo a registrar o momento, assim acompanhamos a imagem a partir da nossa perspectiva mas também pela perspectiva daquele que as pensou. Briscoe é motivado por fatores pessoais, em especial, por histórias de sua infância; a nostalgia e o apego ao passado são marcas muito fortes em minha personalidade, por isso, gosto de como Briscoe usa de sua fotografia para extrair poderosos sentimentos daquilo que ficou para trás, para o esquecimento. Gostei também, do fato de que o fotógrafo não promove grandes críticas ou reflexões universais com suas fotos (pelo menos, não com as dessa coleção), ele traz nelas sentimentos pessoais e que mesmo assim atingem outros indivíduos. Mesmo antes de ler as descrições de Briscoe eu já tinha minha interpretação das imagens, e que mesmo não as relacionando com minha infância senti seu teor belo, porém amargo.

Something In The Air. Fonte: Briscoe Park
Roaming Forever. Fonte: Briscoe Park
A Cowboy At Heart. Fonte: Briscoe Park
Stop To Smell The Flowers. Fonte: Briscoe Park

As fotografias acima foram citadas na crítica; elas e muitas outras podem ser encontradas no site de vendas de NFT, Foundation:

Por não ter um site próprio, os apreciadores da arte de Briscoe devem buscar suas produções de todas as formas possíveis, seja em posts em redes sociais ou numa nova coleção organizada para um site de vendas. Nesse site as fotografias são vendidas individualmente, no formato de NFT, por um preço que varia de 1.25 ETH até 1.75 ETH (uma variação, aproximada, de 15 mil reais até 20 mil reais). Mesmo que estejam à venda, as imagens podem ser vistas no site sem data limite definida; algumas delas estão postadas nas redes sociais de Briscoe (como twitter e instagram), mas é somente no site Foundation que a coleção Instant Destiny pode ser apreciada por completo.

Mais fotografias de Briscoe num site de vendas de impressões:

Entrevista com Briscoe sobre sua história, como seu processo é feito e algumas dicas do artista:

Entrevista mais técnica, mas que também toca nos assuntos pessoais de evolução e processo de criação do fotógrafo:

https://obscurmagazine.co.uk/sound-color-an-interview-with-briscoe-park/

MURILLO DIOGO OLIVEIRA SOARES — 3CCM2022.1

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