Irmandade

Por Gabriel Saicali

Gabriel Saicali
Araetá
3 min readNov 10, 2019

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Foto promocional da série Irmandade da Netflix

Ambientado na cidade de São Paulo dos anos 90, o thriller conta a história de Cristina (Naruna Costa), uma advogada honesta e dedicada que descobre que seu irmão Edson (‪Seu Jorge‬) está preso e lidera uma facção criminosa em ascensão, conhecida como Irmandade. Ela é forçada pela polícia a virar informante e a trabalhar contra o irmão, o qual não vê há anos. Ao se infiltrar na Irmandade, uma missão arriscada e perigosa, a personagem entra em contato com seu lado mais sombrio e assim, começa a questionar suas próprias noções de Justiça.

O meu ponto de vista, a série se passa nos anos 90, não só por que a época traz um contexto relevante para retratar a ascensão de uma facção criminosa em São Paulo, mas também por que tal escolha proporciona uma relevância ainda mais produtiva para uma protagonista feminina. Por si só, esta alocação temporal já é um elemento que ajuda a produção a se distinguir dentre tantas comparações, tanto dentro de sua temática, quanto esteticamente. Fui remetido a um olhar diferente em relação a alguém que assiste por assistir, uma vez que desde pequeno, em minha casa, meu pai escutava Rap como Racionais MC’s, Sabotage e o próprio Seu Jorge. Já fui atrás da história desses sobreviventes da sociedade e tenho noção do quanto batalharam para ter voz e respeito no Brasil. Por isso, vejo Irmandade como uma daquelas produções nacionais primorosas, com direção de primeira qualidade e atuações marcantes entregues por um elenco muito talentoso, que compra a ideia do roteiro e dá dimensão aos personagens em que vive.

Estes, aliás, sofrem grande evolução ao longo dos oito episódios. Naruna Costa ganha os holofotes com a protagonista Cristina, uma personagem cheia de faces e que conta com uma boa dose de loucura, embora nunca pareça ter uma má intenção. Já Seu Jorge mostra, mais uma vez, porque é um dos artistas mais completos que temos em nosso país, o consagrado cantor, que também ficou marcado por seu papel em Cidade de Deus e até mesmo no cinema estadunidense, apresenta mais um trabalho formidável como ator e portanto, cria um personagem carismático e dotado de muita personalidade.

A série não poupa esforços para abordar os temas que carregam a trama. Com bastante violência física e mesmo emocional, Irmandade escancara a realidade do pobre sistema prisional brasileiro, o qual incentiva a violência nos presídios e torna o país uma máquina de geração de crime, acumulando histórias de massacres como o do Carandiru e superlotação de detentos, além da criação de incontáveis facções criminosas que aterrorizam suas respectivas cidades.

Foto ilustrativa dos detentos da série Irmandade

Apesar da apresentação de Irmandade enfatizar bastante o tópico do nascimento de uma facção criminosa dentro da prisão, é perceptível que o foco da trama está sempre nas relações interpessoais. Assim, quando família ou amizade estão em risco, roteiro e direção se encontram em um bom patamar e garantem aos atores mais possibilidades para apontar os caminhos de seus personagens, o que dá um pouco mais de força à série.

Ainda é preciso analisar mais alguns episódios para ver se Irmandade não cairá nos clichês e estereótipos que inundam produções semelhantes que começaram a enfraquecer com pouco e repetitivo contudo, e se terá fôlego suficiente para manter a temporada envolvente. Também fico ansioso para descobrir se as reflexões sobre moralidade chegarão à uma conclusão politicamente produtiva, ou se os roteiristas mantiveram-se mais interessados no impacto romântico desta história.

Onde encontrar: Na Streaming Netflix.

Quanto custa: a Netflix disponibiliza diversos planos ao seus assinantes, sendo os planos Básico (R$21,90), Full HD (R$32,90) e Completo (R$45,90).

A série já disponível na Netflix e ficará por tempo indeterminado com planos de renovação para mais temporadas.

Assista abaixo o trailer da série :

Autorretrato no elevador

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Críticas de Arte produzidas pelos alunos de Estética, disciplina da professora Edilamar Galvão ministrada no 3º Semestre dos cursos de Cinema, Cinema de Animação, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV e Relações Públicas da FAAP.

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