‘Jojo’s Bizarre Adventure’: Uma bizarra celebração da arte

Como o estudo da arte ajudou Hirohiko Araki a criar a identidade visual de um dos mangás mais icônicos do século XXI

claraferreira
Araetá
5 min readMay 20, 2022

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Por Maria Clara Ferreira Cavalcanti de Albuquerque

Capa da one-shot Jolyne, Fly High with Gucci! apresentando os personagens Jolyne Cujoh, Bruno Bucciarati e Leone Abbacchio

Entre roupas coloridas e poses exageradas, o anime Jojo’s Bizarre Adventures carrega consigo uma fortíssima identidade visual. Isso acontece por que o autor Hirohiko Araki se diferencia dos demais ao demonstrar um vasto conhecimento em todas as áreas artísticas, desde a arte clássica grega até rock n’ roll dos anos 60, e não para por aí. Jojo’s é uma mistura bizarra de moda, música e arte visual apresentada no formato de animação.

A série de animação é baseada no mangá de Hirohiko Araki, anteriormente citado e produzida pelo estúdio David Productions desde 2012. O anime pode ser encontrado em plataformas como a Netflix e Crunchyroll, que estão atualmente lançando a sexta temporada Stone Ocean.

Jojo’s Bizarre Adventure se trata de uma história do legado da família Joestar e a sua luta contra o sobrenatural: A série começa em 1880 em Liverpool, quando Jonathan Joestar (daí vem o apelido Jojo) encontra uma máscara misteriosa e toma rumos tão bizarros que atualmente, a série é protagonizada por Jolyne Cujoh, prisioneira no estado da Flórida em 2011. Ao longo da trama, os 6 protagonistas já viajaram o mundo, que conta com cenários da Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Egito e Itália.

A história não é nem um pouco coesa, mas rica em referências culturais diversas. A primeira coisa que chama atenção da audiência muito provavelmente são as poses estranhas, que tem inspiração em esculturas renascentistas, poses de revistas de moda e até mesmo em capas de álbum.

Capa de Jojo’s Bizarre Adventures: Golden Wind nº 62, apresentando o protagonista Giorno Giovanna.
O Escravo Moribundo, 1513–1515, por Michelangelo
Capa do álbum Holy Diver, da banda Dio
A esquerda, personagens do mangá Jojo’s Bizarre Adventure: Steel Ball Run, imitando a pose usada para uma das capas da Versace, a direita

As influências artísticas de Jojo não param por aí. Araki tem como base a manipulação de cores usadas pelo artista francês Paul Gaugin, conhecido por suas obras pós-impressionistas e sua ajuda no pioneirismo do estilo primitivo. Após a concepção de sua Visão após o Sermão (Jacó lutando com o Anjo) em 1888, Gauguin declarou-se um Sintetista. O sintetismo era conhecido por suas áreas planas de cor e contornos arrojados que podem ser vistos em todos os trabalhos posteriores de Hirohiko Araki. Durante uma palestra, Araki afirmou que gostava de Paul Gauguin desde criança e acabou usando as peças impressionistas e pós-impressionistas de Gauguin como inspiração para seus trabalhos posteriores. O que mais inspirou Araki no trabalho de Gauguin foi o uso de color-blocking e o uso vivo de cores irreais.

Cavaleiros na Praia, 1902, por Paul Gaugin
Capa do mangá Jojo’s Bizarre Adventure: Jojolion, com os personagens Josuke, Yasuho, Paisley Park, Joshu, Norisuke e Daiya, em ordem

De tal forma, nem o mangá nem o anime se prendem ao uso de cores fixas para o desing dos personagens. Por ser preto e branco, o autor usa as capas coloridas para guiar a imaginação dos leitores, onde cada cor é escolhida mentalmente pelas preferências particulares de cada um.

36 paletas de cores usadas para a personagem Jolyne, Twitter [https://twitter.com/itsmkor/status/1257802987939999745], 2020

O anime, apesar de ser mais “pé no chão” em relação ao uso de cores, se inspira nas paletas usadas no mangá para criar momentos de tensão e humor em diversas cenas.

Personagem Caesar Zepelli, no episódio 16 da segunda temporada, Phantom Blood

Hirohiko Araki conseguiu reconhecimento mundial pela identidade única de sua obra, tanto que em 2013, GUCCI pediu para colaborar com Araki em sua coleção de moda de primavera e foi chamada GUCCI X JOJO. Em todo o mundo, as lojas GUCCI exibiam ilustrações de alguns de seus personagens mais queridos da marca Jojo.

E ainda assim, o vasto acervo cultural não para somente em obras visuais. Jojo não economiza nas referências musicais, geralmente no cenário do rock, jazz, pop e blues.

De cara, já conhecemos o antagonista da primeira parte, Dio Brando, que recebeu o nome em homenagem ao vocalista da banda Black Sabbath, Ronnie James Dio. Além disso, personagens como Robert E. Speedwagon (Referência a banda REO Speedwagon), William Antonio Zepelli (Led Zepellin) também tem seu destaque.

Ao longo das temporadas, as referências só se intensificam: a partir da terceira parte, os poderes (conhecidos como stand) recebem nomes de cartas de tarô e mais tarde, também ganham nomes de músicas e bandas.

Carta do Stand Star Platinum, referente ao poder do protagonista Jotaro Kujo
Personagem Daiya Higashikata e seu Stand California King Bed, referência a uma música de Rihanna
Personagem Trish Una e seu Stand Spice Girl, referência a banda Spice Girls

Ainda há diversas referências artísticas inexploradas no texto que foram utilizadas como Araki, que busca sempre trazer a cultura para dentro de suas histórias, cativando os leitores a buscarem as origens bizarras das inspirações do autor.

VÁ LÁ! :

  • Onde? O anime está disponível nas plataformas de streaming Netflix e Crunchyroll. O mangá possui oito edições em português publicadas pela editora Panini;
  • Quanto custa? A Netflix oferece três opções de planos no Brasil: o básico, o padrão e o premium, com valores de R$25,90, R$39,90 e R$55,90, respectivamente
  • A Crunchyroll oferece três planos no Brasil: o FAN, o MEGAFAN e o Anual, com valores de R$ 25,00, R$ 32,00 e R$ 315,00, respectivamente
  • O mangá pode ser comprado no site da Panini, custando R$ 39,90 cada

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