Maria Auxiliadora da Silva

João Francisco Paula Souza Neto
Araetá
Published in
6 min readMar 18, 2018

Por João Francisco Neto

O Museu de Arte de São Paulo — MASP — programou para o corrente ano diversas exposições com o tema “as histórias dos fluxos e dos refluxos entre a África e as Américas através do Atlântico”.

Dentro dessa programação, atualmente, encontra-se em exposição no MASP a obra de Maria Auxiliadora da Silva.

João Francisco de Paula Souza Neto (autor da desse artigo)

Maria Auxiliadora é uma artista afrodescendente cujas obras são pinturas revolucionárias que não usam as técnicas da academia, trazem temas afro-brasileiros, tal como capoeira, samba, umbanda, candomblé e orixás, razão pela qual foi inserida nesta programação do MASP.

As pinturas de Maria Auxiliadora estão organizadas em sete núcleos sendo que cada um deles representa um dos seguintes temas da artista:

Religioso, de matriz africana, com a representação de candomblé, umbanda e orixás;

Manifestações populares como as procissões e as festas juninas, a capoeira, o bumba meu boi, o carnaval de rua, o samba, os botecos, os bailes de gafieira;

Autorretratos da Maria Auxiliadora, a qual retrata as fases de sua vida: começo da carreira de artista, se casando, e o fim da sua vida, desde o seu estado enfermo até ir para a pós vida, retratando o próprio falecimento (faleceu aos 39 anos de câncer);

Casais, são pinturas de situações amorosas as quais retratam o namoro, expondo a perspectiva romântica da autora;

•Em Rural, o trabalho e da vida no campo estão ilustrados;

Urbano, expõem cenas comuns no cotidiano da cidade como escola, parques de diversões, bar, cinema;

•No último núcleo, Interiores, constam situações intimas entre família e amigos no interior de suas casas, principalmente entre as mulheres.

foto de Maria Auxiliadora

Maria Auxiliadora era uma pessoa humilde e por isso aos 14 anos desenhava apenas com carvão, mas logo se tornou uma artista muito eclética, a qual inovou inserindo em seus trabalhos diversos materiais e técnicas diferentes.
Inicialmente, cita-se sua inovação em aplicar nas telas o próprio cabelo para melhor representar as pessoas negras. Como apontam críticos, suas obras chagam a ser um híbridros da pintura com o alto relevo, ela também chega a introduzir balões de fala nas figuras de seus quadros, assim como é feito nos quadrinhos. Essa característica faz com que suas obras sejam comparadas à Pop Art.

Candomblé, sem data, óleo sobre eucatex e apliques do próprio cabelo
sem título, 1970, técnica mista — inclusão de balão de fala

Na minha opinião, o núcleo de Autorretratos de Maria é um dos mais cativantes. Muito interessante pensar que a autora pintou sua própria morte e funeral. Em um primeiro momento, os quadros não parecem ter conexão, mas depois de serem observados com atenção nota-se que eles contam a história da morte da autora. Perceber esse aspecto não é solucionar nenhum enigma complicado, mas é muito satisfatório o momento em que se percebe que ele está lá, nos faz pensar em como Maria estava se sentindo ao descobrir que estava com câncer.

No Leito, 1972, técnica mista
Velório da Noiva, 1974, guache e massa poliéster sobre tela
Autorretrato com Anjos, 1972, óleo sobre tela

Gosto de muitos quadros que possuem algo nostálgico acolhedor, pois eles retratam cenas cotidianas de pessoas, as quais estão entre amigos, amantes ou família, ou seja, situações nas quais, mesmo para quem não é da mesma cultura, pode acabar se identificando, tais como: passeios em praças e parques, reuniões em família, paqueras em festas, aulas na escola, etc.

Mobral, 1971, óleo sobre tela
Parque de Diversões, 1973
sem título, 1973, técnica mista

Na coleção também há quadros os quais apresentam cerimonias e festas praticadas no Brasil, muitas de origem da cultura africana, que nos fazem refletir sobre sua miscigenação com as outras do Brasil, e a pensar na situação do trabalhador negro. Todos os quadros têm um pouco de alguns se não de todos esses temas, mas cada um dos sete núcleos tem um foco diferente, o que é bem bacana porque assim dá para separar a coleção em sete assuntos e ainda dá para vê-la como um todo.

sem título, sem data, técnica mista
sem título, 1970, técnica mista

Renata Bittencourt, diretora do Instituto Brasileiro de Museus do Ministério da Cultura escreveu em um livro o qual foi lançado junto a exposição: “A obra de Maria Auxiliadora não é política como um manifesto, mas como materialização da expressão pessoal de uma mulher negra que encontra sua voz olhando para perto, para si e para os seus, ao tratar de seus desejos e de sua inserção no mundo” (in: http://www.infoartsp.com.br/agenda/maria-auxiliadora-vida-cotidiana-pintura-e-resistencia/).
Dessa maneira olhar para os quadros e tentar ver o mundo pelos olhos de Maria Auxiliadora é uma maneira muito convidativa de buscar as questões raciais e culturais da época.

sem título, 1972, técnica mista
sem título, sem data, óleo sobre tela
Plantação, óleo e técnicas mistas sobre tela

Antes de Maria Auxiliadora não havia muitos quadros brasileiros os quais representassem os negros de alguma forma a não ser fazendo trabalho braçal ou doméstico, não que ela deixa-se de expor isso também, mas ela igualmente os mostrava como podendo ser professores, namorado, dançando, passeando pela cidade, participando de rituais religiosos.

Ela foi uma artista subversiva em muitos sentidos: estilo, material usado, abordagem de temas e, por isso, ela deve se tornar inspiração para futuras gerações de artistas continuarem inovando.

INFORMAÇÕES DA EXPOSICÃO:

Onde: Museu de Arte Moderna de São Paulo — MASP

Av. Paulista, 1570 — São Paulo/SP

Quanto: INGRESSOS

adultos R$ 35

estudantes/professores R$ 17

maiores de 60 anos R$ 17

crianças até 10 anos não pagam

terças-feiras entrada livre

Quando: de 10/03/2018 a 03/06/2018

HORÁRIOS :ter-dom: 10h às 18h (bilheteria aberta até 17h30)
qui: 10h-20h (bilheteria aberta até 19h30)
seg: fechado

Com exceção das segundas-feiras, o MASP abre normalmente em dias de feriado.

LINKS:

http://www.galeriaestacao.com.br/artista/33#prettyPhoto

http://maspinscricoes.org.br/Palestras/detalhes/81

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