Maze Runner: A cura Mortal

Por:Giovanna Imperatore

Giovanna Imperatore
Araetá
7 min readFeb 21, 2018

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Capa do filme Maze Runner: A Cura Mortal (2018)

Uma amostra da violência humana

O filme Maze Runner: A Cura Mortal é o terceiro (e último) filme da saga Maze Runner, fechando desta forma o ciclo que se iniciou em 2014 com o primeiro filme da saga. Em A Cura Mortal, Thomas precisa tomar algumas decisões, ele percebe que toda escolha vem com uma perda e que nem sempre conseguimos lidar bem com as perdas que temos ao longo de nossas escolhas. Nesse filme eles lutam contra um inimigo que apareceu no primeiro filme, uma instituição denominada CRUEL. A Terra foi destruída pelo Sol há alguns anos atrás e um vírus se espalhou pela Terra (o fulgor). CRUEL tem feito testes em garotos que são imunes ao vírus para estudar seu cérebro, seu comportamento e, assim, encontrar a cura. Em A Cura Mortal, Thomas quer salvar seu amigo que ficou preso com o CRUEL e acabar de uma vez por todas com a instituição, mas para isso Thomas e sua equipe precisam passar pelos portões que protegem a cidade onde CRUEL está localizado. Eles passam por muitos desafios no processo e descobrem que CRUEL está disposta a fazer qualquer coisa para manter sua posição de poder e que na guerra há mais perdas do que ganhos.

Cena do filme Maze Runner: A Cura Mortal (2018) — Teresa e cientista líder do CRUEL.

O filme aborda a questão da violência na humanidade, mostrando duas partes da sociedade, aqueles que vivem na última cidade existente que foi construída pelo CRUEL, e é protegida por um muro, e aqueles que vivem fora do muro, perdidos, abandonados. A violência retratada no filme não é apenas física, mas psicológica também. O CRUEL afirma que eles querem uma cura, que estão fazendo isso para ajudar as pessoas a lutarem contra o vírus, porém eles se escondem atrás dos muros e não deixam outras pessoas entrarem. Isso é visto atualmente, quando um líder tem um discurso contraditório com as suas ações, ele diz querer proteger o povo mas ele nem sabe quem é o povo ou o que o povo quer.

A violência existe nos dois lados, dentro do muro, na cidade do CRUEL e fora do muro. As pessoas que vivem fora do muro querem tanto fazer parte daquela sociedade dentro do muro que nem percebem que eles se tornaram pessoas violentas que fariam de tudo para ter aquilo que eles querem.

“Se no próprio princípio da civilização está implícito a barbárie, então repeti-la tem algo de despertador.” (ADORNO, 1974) Adorno fala sobre a construção da violência e a sua repetição, como através dos séculos a violência continua sendo reproduzida e barrada de forma mais violenta ainda, a resposta que se tem a violência é com mais violência. As pessoas gostam da violência, a sociedade produz e reproduz violência a todo momento, isso já está enraizado na sociedade e tem se arrastado por séculos, escondendo-se no prazer que as pessoas sentem com a violência. A sociedade quer controlar as pessoas, mantê-las calmas, sob controle, aqueles que mostram algum comportamento diferente disso são excluídos, afastados até terem aprendido a conviver em sociedade novamente. Os humanos são animais, porém eles se esquecem disso na maior parte das vezes, tentando serem outra coisa, algo que eles não são, eles reprimem seus instintos animais, mas a violência está dentro deles, lutando a todo momento para sair e consumi-los por inteiro. É por isso que a violência é tão assistida, tão aclamada, tão repetida, pois está na natureza dos humanos, na natureza reprimida. De tanto reprimir essa natureza violenta, quando ela consegue vir à tona, ela é exagerada, forte, explosiva, mortífera. É uma explosão de tudo aquilo que as pessoas tanto tentam controlar, é uma explosão daquilo que elas realmente são, seres violentos por natureza, que gostam de ser violentos.

Esboço contido do livro Maze Runner: Arquivos, escrito por James Dashner- Cranks

[SPOILER ALERT] Perto do final do filme, as duas partes da sociedade entram em conflito. As pessoas que estão fora do muro conseguem passar por ele, causando diversas explosões e mortes no processo, desencadeando uma luta armada dentro da cidade. No meio tempo, uma cientista descobre a cura, porém no final isso não importa. A maior descoberta de todas, que era aquilo que eles estavam procurando o tempo todo não importa, pois a cidade havia sido completamente destruída, nenhuma das partes ficou com a cidade, eles perderam tudo. Eles entraram em um conflito extremamente violento e no final não foi para nada, não trouxe nenhuma vantagem, apenas morte e destruição.

Geralmente quando os filmes mostram alguma cena de embate, no final alguma das partes acaba vitoriosa e eles mostram que no final a violência compensou, mas não nesse caso. Maze Runner: A Cura Mortal mostra que a violência não traz benefícios e que ambas as partes acabam tendo muitas perdas, mesmo aqueles que achavam que não faziam parte da guerra.

Outra forma de violência mostrada no filme são os Cranks, que são criaturas que eram humanos e foram infectados pelo vírus fulgor e se tornaram criaturas raivosas e violentas que não se reconhecem mais como humanos, eles se tornaram animais. Pode-se dizer que eles libertaram toda a violência que estava presa dentro deles quando eles eram humanos, eles finalmente estavam em sua verdadeira forma (claro que no filme isso é mostrado de forma exagerada, tornando-os mais violentos).

Cena do filme Maze Runner: A Cura Mortal (2018) — Thomas e Newt

A líder dos cientistas do CRUEL sempre afirma que “Os fins justificam os meios”, justificando tudo que ela fez com os garotos que eram imunes com o intuito de conseguir a cura. Porém, o filme A Cura Mortal mostra que tal afirmação é falsa, que os fins não justificam os meios e que a violência nunca é a solução, nem que seja visando um “bem maior”.

A violência sempre parece ser a solução, mas ela só gera mais violência. A violência é recorrente na humanidade pois as pessoas gostam de ser violentas, elas sempre escolhem a violência como a única escolha possível, isso está muito presente no filme, pois em todos os momentos os personagens escolhem a violência, desencadeando uma guerra que não traz nenhum benefício.

[SPOILER ALERT] O filme mostra a violência psicológica também, a luta interna contra a transformação em Cranks que os personagens enfrentam quando são infectados, é possível perceber isso em Thomas, quando o amigo Newt está com o vírus e não tem nada que ele possa fazer para salvá-lo, a dor não só em Newt, mas em Thomas é perceptível. Ele não quer aceitar que o amigo não pode ser salvo.

Capa do filme Maze Runner: A Cura Mortal (2018)- Thomas e Teresa

A relação do Thomas com a Teresa apresenta uma violência silenciosa, pois eles querem estar juntos mas não estão, pois ambos tem objetivos diferentes e opiniões distintas.

O filme mostra que o amor nem sempre é o suficiente, que é preciso mais do que isso para construir uma relação.

Thomas e Teresa sempre tiveram uma ligação muito forte, desde o primeiro momento que se viram, mas isso não foi o suficiente para mantê-los juntos.

Essa é uma forma de violência silenciosa que os personagens sofreram, eles queriam ficar juntos mas não podiam, sempre tinha algo que os impedia, assim como é na vida real.

Maze Runner: A Cura Mortal fala sobre violência, sobre dor, amor, amizade e lealdade. É sobre lutar todos os dias por aquilo que você acredita, mesmo que todos estejam contra, mesmo que em um momento você mesmo comece a duvidar da sua capacidade, a luta por aquilo que acreditamos é essencial, é o que nos faz humanos, é aquilo que nos impede de sucumbir a violência.

Há uma linha tênue entre a violência e a sanidade, muitas vezes tal linha é cruzada de forma imperceptível.

As pessoas estão tão acostumadas com a violência exagerada que muitas vezes nem percebem as pequenas violências do cotidiano que todos enfrentam e acabam não lutando contra isso por já estarem acostumadas.

Maze Runner: A Cura Mortal, um filme a respeito da violência como algo ignorado, como algo que a sociedade aceita como habitual.

Capa do filme Maze Runner: A Cura Mortal (2018)

Maze Runner: A Cura Mortal

Giovanna Imperatore — Aluna de Rádio e Tv na FAAP

Onde: O filme está disponível nos cinemas de São Paulo, tais como as redes Cinemark (Shopping Eldorado, Shopping Raposo, Tamboré, Osasco,Tiete Plaza Shopping) Cinépolis (Iguatemi Alphaville) Cineflix (The Square), entre outros.

Quanto: O preço varia de 15 a 80 reais.

Quando: Todos os dias nos cinemas de São Paulo em diversos horários.

Até quando: Final de fevereiro/começo de março.

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