‘MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui)’

Uma imersão na galeria musical do último álbum da banda mineira Lagum

Gabriela Suguinoshita
Araetá
4 min readMay 20, 2022

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Por Gabriela Fernandes Suguinoshita

Não tenho medo de errar, só medo de desistir

Mas tenho vinte e poucos anos e não vou parar aqui

Após dois anos do último lançamento do álbum Coisas da Geração, a banda Lagum retornou às plataformas de streaming com o seu terceiro álbum de estúdio entitulado como MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui), no dia 10 de dezembro de 2021.

Capa do álbum 'MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui)'. Em sentido horário, da esq. para a dir., Otavio Cardoso (Zani), Jorge, Breno Braga (tio Wilson), Francisco Jardim (Chicão) e Pedro Calais.

Em um tocante mergulho pelos ritmos musicais, o disco é uma homenagem ao baterista, Breno Braga, também conhecido pelos fãs como “tio Wilson”, que faleceu em setembro de 2020 após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Inspiradas na musicalidade dos anos 2000, as faixas exploram reflexões e desejos não vividos durante os dois anos de pandemia.

Estou pra ti como um descobridor ao ver a costa
Ou como o vento numa vela sem resposta

Lançado em meio a um período de turbulências, o álbum conta com 10 músicas das quais três possuem participações especiais de Emicida, Mart'nália e L7nnon. As gravações foram feitas antes da pandemia, assim como todo o conceito visual, que possuía uma outra característica. No entanto, com o falecimento do tio Wilson, a banda decidiu honorificar e incorporar suas bateras já registradas e desse modo, produzir em cima delas, reconstruindo ainda a própria identidade visual do álbum.

Tenho vinte e tantos planos pra antes dos trinta anos Alguém diz pra onde vamos, tenho pressa de existir

A euforia de viver e a busca por boas memórias estão contempladas em NINGUÉM ME ENSINOU, canção de abertura do álbum. Com a presença de um estilo mais rock’n’roll, o single era o favorito do baterista. Assim, o seu videoclipe trouxe uma importante reflexão sobre a ideia de aproveitar o agora, fazendo as suas paixões e estando ao lado dos que nos querem bem. As cenas finais dão foco ao quadro de tio Wilson, confirmando a ideia de eternizar as suas memórias, estética que se aplicou para toda a identidade visual do álbum.

Clipe de 'NINGUÉM ME ENSINOU'.

A obra possui uma narrativa e sequência musical interessante que podem ser analisadas nas músicas EU TE AMO, NÃO VOU FALAR DE AMOR e EU E MINHAS PARANÓIAS. Essas três canções seguem a cronologia de um amor pouco maduro até à sua desilusão amorosa. A primeira, respectivamente, trata de um amor ingênuo e confuso que ainda está em sua fase inicial. Já a segunda explora ainda mais essa tormenta que está caminhando para uma indiferença. Por fim, EU E MINHAS PARANÓIAS, apesar de não ter uma letra muito complexa, aborda o esgotamento e a preocupação consigo mesmo.

Você diz que me ama e eu te odeio
De um jeito esquisito
Porque nada é mais estranho que amar

Não vou falar que eu te amo
Depois de tanto tempo que eu tento esconder

Sempre faço merda quando eu ‘to feliz
E o meu mundo pesa, meu Deus o que eu fiz

A festa 'tá rolando!

Assim fecha a última música do álbum com FESTA JOVEM. Esta que chamou a minha atenção desde o primeiro play. Passeando pelos diversos arranjos e melodias, a sonoridade da música embala-se como uma colcha de retalhos. Toda vez que a ouço, sinto-me imersa em uma festa com pessoas que possuem diversos gostos musicais. O que eu acho mais fascinante é a própria construção da música que cita letras e artistas com estilos completamente diferentes.

Já tocou pagode e rock’n’roll
Festa jovem
Caetano, Red Hot e Tom
Festa jovem

Toca aquela do Tim Maia, pô
Festa jovem
E eu nem sei porque você se foi

Em uma entrevista para o podcast brasileiro Podpah apresentado por Igor Cavalari e Thiago Marques, eu tive a oportunidade de fazer uma pergunta ao Pedro (vocalista) e Jorge (guitarrista). A minha pergunta era justamente se FESTA JOVEM teria uma outra parte por ser a faixa mais curta do álbum e ter sido uma das favoritas entre os fãs. Pedro respondeu-me que a sua ideia, depois de ter finalizado a música, era trazer participações especiais de outros artistas, mas que, infelizmente, os outros integrantes da banda não concordaram.

Esse ano a banda mineira completa 8 anos de carreira, e MEMÓRIAS tem sido de longe o mais reflexivo, maduro e verdadeiro de todos os seus trabalhos. Além de carregar, um forte valor emocional, o disco possui uma sensível junção de raízes com modernidade, que mesclam as letras pop com o rock’n’roll dos anos 2000. Embora tratem de situações cotidianas, as composições são abordadas de maneira muito leve e positiva e que podem ser relacionadas a qualquer estágio da vida.

MEMÓRIAS possui um forte valor simbólico para mim e passou a ter mais no início desse ano, já que passei algumas noites conversando com o meu amigo sobre essas músicas terem um certo impacto em nossas vidas. As letras geraram diversas reflexões sobre o momento em que estamos vivendo, especialmente em relação ao futuro profissional e pessoal. O conjunto da obra é uma sensível experiência musical pelas batidas e melodias que seguem a vida.

VÁ LÁ!

Onde?

Você pode ouvir o álbum MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui) nas principais plataformas de streaming de música, como Spotify e Deezer, ou no canal da banda Lagum no YouTube.

Entrevista da banda Lagum no PodPah.
Registro no show da Lagum no dia 03/04/2022.

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