Midsommar - O mal não espera a noite

Por Renata Mayer Martins

Renata Mayer Martins
Araetá
5 min readMay 29, 2020

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Florence Pugh como Dani

Lançado em 2019, Midsommar já se tornou um ícone pop para diversos jovens e adultos, e foi um dos filmes com maior repercussão do ano. Dirigido por Ari Aster, cineasta e roteirista reconhecido por seu filme de 2018, Hereditário, Midsommar compartilha com este, o subgênero (mostrado ser uma grande habilidade do diretor) terror psicológico.

O grupo de jovens ao entrar em Hårga

O filme aborda não somente o terror como também foca nas relações humanas e seus dilemas éticos de maneira experimental e criativa. A história se trata de Dani (Florence Pugh), jovem que sofre uma tragédia familiar e entra em profunda depressão. A trama se desenrola conforme ela se junta ao seu namorado e amigos à uma viagem à Suécia, onde lá vão encontrar o início de um festival de solstício de verão de uma pequena comuna chamada Hårga. O grupo durante sua estadia gradualmente percebe que a comunidade é na realidade um culto e se encontram participando de práticas ritualísticas duvidosas.

‘Jovens que viajam e entram em apuros’ já se tornou uma fórmula datada para o gênero de terror, porém Ari Aster e sua equipe encontram um modo inovador de desenrolar a trama com visuais incríveis, uma fotografia linda e diversos jogos com os ângulos de câmera que brincam com a percepção do espectador.

A fotografia de Pawel Pogorzelski em conjunto com a montagem de Lucian Johnston tornam o filme uma experiência imersiva, assim, fazem uso de uma independência com a câmera e uma experimentação com ângulos e cortes que por hora nos beira à vertigem. Desse modo, ficamos ainda mais envoltos pela narrativa e nos posicionamos em um lugar empático com os personagens nos identificando em certo nível com eles ao mergulhar na história.

A natureza abrangente com sua quantidade de árvores e flores que circundam a clareira dão a sensação de reclusão e de algo “longe” da civilização, mas ao mesmo tempo uma sensação de aconchego já que a paleta de cores é coberta por tons claros e pastéis, priorizando também, as cores primarias. Visando planos em sua maioria abertos, simétricos e externos, com isso acabamos tendo a impressão de harmonia total e cada decisão dos membros do festival, mesmo sendo atos muitas vezes duvidosos, nos dão a sensação de segurança, fazendo-nos ate repreender a hostilidade dos visitante perante a cultura local.

Membro de Hårga sorrindo de maneira receptiva

O filme aborda de maneira secundaria, mas não menos impactante, a relação tóxica entre os personagens Dani e seu namorado Christian. A historia toda pode ser vista como a perspectiva de um final de relacionamento disfuncional. Após o trauma familiar Dani se vê sem saída e num abismo emocional, buscando então, em sua única rede de apoio, seu namorado, um consolo. A partir de uma visão superficial, Christian a trata com uma certa estabilidade, a dando suporte nos momentos necessários e se preocupando em ao menos tentar demonstrar afeto.

Porem, não é necessário nem 10 minutos a dentro do filme para entendendo como a dinâmica do casal funciona e como poderia acabar no final. Através dos pequenos detalhes como suas conversas pessoais com seus amigos, a forma como ele trata a protagonista em seu aniversario e como ele reage ao ela dizer que gostaria de se juntar a ele na viagem, percebemos como Christian não esta nem um pouco afim de se manter neste relacionamento e se sente encurralado.

Ao vermos Dani sofrer, sua dor nos trás uma empatia irremediável. Suas angustias são tão vivas quanto as nossas e o sentimento de vê-la sofrer ao longo do filme eh quase palpável. Desconsiderando todo o aspecto gore do filme, super evidente, sentimos empatia pela comunidade principalmente por sua forma de enxergar o mundo. Como na cena em que Dani descobre a infidelidade de Christian e desata a chorar lágrimas tão doidas que as outras mulheres do grupo a acompanham aos prantos. Já que Dani em sua vida normal não ganhava respeito e reconhecimento, mas no culto ate então antagonizado, ela é escolhida e aceita da maneira que é, reconhecemos a importância de se sentir protegido e participante de algo independentemente do emissor e receptor. O filme é sobre luto, relações humanas e empatia. A maneira como a comunidade vive nos faz refletir sobre o significado de grupo e o ciclo da vida, como algo natural e a morte como simplesmente uma das fases dos estágios da existência.

Midsommar, de maneira geral nos proporciona uma experiência estética interessante, mexendo com sentidos e apurando o que há de mais interno em cada um de nós, nos fazendo questionar diversas vezes o que de verdade é ético ou não.

As mulheres choram o mesmo pranto de Dani como ato de empatia

Ficha Técnica

Nome: Midsommar

Ano de Lançamento: 2019

Duração: 147 min

Classificação Indicativa: +18

Diretor: Ari Aster

Produção: Beau Ferris, Patrik Andersson, ‎Lars Knudsen

Roteiro: Ari Aster

Lançamento: 19 de Setembro de 2019 no Brasil

Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Will Poulter

Onde assistir: Disponível no Amazon Prime Videos

Quanto: R$9,90 no Amazon Prime

Quando: A qualquer momento.

Saiba mais:

O festival de Midsommar existe de verdade e é celebrado na Suécia, aqui segue 10 curiosidades sobre o festival:

trailer:

Um pouco mais:

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