‘Minha Fama de Mau’

Taline
Araetá
Published in
4 min readOct 27, 2019
Gabriel Leone, Malu Rodrigues e Chay Suede como Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos

Tenho que manter
A minha fama de mau… Au! Au! Au! Au!

Minha Fama de Mau, longa-metragem lançado em fevereiro de 2019 e dirigido por Lui Farias, conta a trajetória do cantor e compositor Erasmo Carlos, símbolo da Jovem Guarda, importante movimento musical brasileiro da década de 1960.

Erasmo Carlos (Chay Suede) é um jovem apaixonado pelo Rock and Roll estadunidense, passa seus dias ouvindo Chuck Berry, Elvis Presley e Bill Haley. Vindo de origem simples, precisa trabalhar para ajudar sua mãe, mas o que ele realmente deseja é seguir seu sonho na carreira musical. Após conhecer Carlos Imperial (Bruno de Luca), um importante apresentador da época, começa a ser notado por Roberto Carlos (Gabriel Leone), com quem compõe diversas canções e alcança o tão esperado sucesso.

O filme aposta em uma linguagem descontraída e não muito fiel à realidade, assim, apresenta um diferencial interessante no contexto de biografias cinematográficas, que são uma tendência no momento e muitas vezes são parecidas demais.

Chay Suede representa Erasmo Carlos com excelência

A figura desenvolta de Erasmo é representada de maneira formidável por Chay Suede, que desde o início prende a atenção do espectador, seja pelo seu bom humor ou por sua aparência. Focando nesta figura, o filme utiliza habilidosamente a quebra da quarta parede como ferramenta para aproximar o personagem e o público, criando uma impressão de intimidade. Esta ferramenta é muito útil para que simpatizemos com a trajetória do cantor, caracterizado por seu charme e carisma. Vemos nisto, uma tentativa de inovar e trazer inspirações da linguagem de grandes filmes com personagens carismáticos, o que é muito interessante neste contexto.

As relações pessoais poderiam ter sido melhor exploradas na obra

Roberto Carlos e Wanderléa são imprescindíveis na carreira do artista, uma vez que eram seus companheiros no programa “Jovem Guarda” na TV Record, que na época atingiu recordes de audiência nos domingos. Apesar de ser compreensível por esta ser uma biografia de Erasmo, a falta de aprofundamento dos outros dois personagens torna-os vagos demais para a história, principalmente Wanderléa que não tem um arco fechado na trama e seu envolvimento com os seus parceiros de programa fica na dúvida entre amizade e amor, sem muita explicação. A amizade de Erasmo e Roberto é um pouco mais explorada, entretanto os motivos de Roberto não são apresentados e Erasmo é apresentado como alguém dependente de Roberto, mesmo eles tendo construído suas carreiras em conjunto por um grande período. Outra figura importante que aparece no filme é Tim Maia, amigo de Erasmo no início de suas carreiras, ele aparece por pouco tempo e segue um caminho paralelo, sem interferir na continuidade da trama.

Este aspecto demonstra a imaturidade desse tipo de produção que ainda não tem um formato próprio e apela para um tipo de “fórmula” dramatúrgica que não investe muito na construção de seus personagens; um grande problema, já que são figuras culturais que tem espaço significativo para esta construção.

O filme acerta em cheio no figurino e paleta de cores

Como grande admiradora dos anos 1960 e aspirante a diretora de Arte, posso dizer que o longa-metragem é muito forte no quesito de cenário e figurino, trazendo uma combinação impactante de cores e roupas características da época, sem exageros ou erros no posicionamento histórico. Sem dúvidas, esse é o maior aspecto positivo da obra, trazendo grande inspiração para todos que querem criar filmes passados nesta época.

Nos últimos anos, é notável o aumento do lançamento de cinebiografias que revisitam astros da TV e da música de vários países. O Brasil está investindo também nessa tendência, o que é muito interessante pois muitas vezes os próprios brasileiros não se interessam pelas figuras nacionais e é imprescindível conhecer a história cultural de nosso país, ainda mais o público jovem que não fez parte de momentos históricos como este.

Em suma, a experiência de ver esse longa-metragem foi bastante interessante e divertida, com certeza vale a pena para os fãs de música no geral, e para aqueles que têm curiosidade de saber mais sobre o artista ou sobre a época. Apesar de algumas falhas, o filme ousa com maestria em diversos pontos e deixa uma premissa encorajante para as próximas biografias musicais brasileiras, ansiosamente esperadas pelo público.

Minha Fama de Mau já não está mais em cartaz, mas está disponível nas plataformas NOW e Telecine Play.

Eu :)

Por Taline Mendonça Caetano

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