Mr. Robot — a arte de quebrar as regras

Por Rodrigo Ades Buscato

Rodrigo Buscato
Araetá
4 min readApr 22, 2020

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Rami Malek em poster da última temporada

Existem certas convenções que precisam ser respeitadas na construção de uma série de TV. Seja na atmosfera do programa ou na trajetória das personagens em seus respectivos arcos dramáticos, a palavra chave no mundo da televisão é consistência. Construa algo incrível e mantenha tudo nos mesmos moldes para fazer os espectadores voltarem na semana seguinte. Normalmente as séries que mais amamos são as que conseguem criar momentos inesperados e intrigantes mesmo respeitando essas normas. Ou, uma vez a cada década, recebemos de presente uma série como “Mr. Robot”, que busca justamente quebrar os padrões estabelecidos pela TV norte-americana e dar aos fãs uma experiência realmente única.

“Mr. Robot”, criada por Sam Esmail, conta a história do jovem Elliot. Programador de dia e Hacker de noite, nosso protagonista tem pavor de interações sociais e sustenta um vício em morfina como forma de lidar com sua solidão. Funcionário de uma empresa de cyber segurança, Elliot tem como seu maior cliente o conglomerado multibilionário “E Corp”, o qual o jovem hacker acredita ser o grande mal da sociedade moderna. Sua vida muda quando ele é contratado pelo enigmático “Mr. Robot”, líder do grupo hacker conhecido como “FSociety”. Juntos, pretendem hackear a “E Corp” para apagar os registros de todas as dívidas bancárias da população mundial, a fim de libertá-los do que acreditam ser uma forma de escravidão ao sistema. À primeira vista, pode parecer que não existe nada de fora do comum nessa série, mas à medida que somos sugados ao universo de Mr. Robot, percebemos que estamos diante de algo realmente especial.

Contando com atuações excepcionais de Rami Malek como Elliot, vencedor do Oscar de melhor ator em 2019, e Christian Slater como o lunático Mr. Robot, nos sentimos parte deste universo secreto à medida que desvendamos os mistérios que rodeiam as personagens. Nossa sensação de imersão aumenta mais pelo uso da quebra da quarta parede. Por Elliot não ter com quem conversar, acaba criando um amigo imaginário que se torna seu confidente. Este amigo imaginário somos nós, o público da série.

Rami Malek e Christian Slater

Talvez a palavra que melhor descreva “Mr. Robot” seja “ousado”, justamente por pensar fora da caixa e quebrar as regras, seja de um ponto de vista técnico ou narrativo. Em relação à história, a série constantemente nos apresenta episódios únicos, que brincam com gêneros diferentes ou exploram novos métodos de contar histórias. Os casos mais famosos são o do episódio “405 Method Not Allowed” que não possui nenhum diálogo, contando apenas com ação frenética, e o episódio “Master-Slaves” que transforma a série em uma sitcom, com direito a cenários toscos e risadas de audiência ao fundo. Estes são apenas alguns exemplos dentre vários de como “Mr. Robot” subverte a lógica de produção padronizada de uma série de TV.

No famoso episódio sem diálogos, os personagens de Carly Chaikin e Rami Malek invadem o prédio de uma empresa que gerencia os servidores da “E Corp”.

Falando agora de um ponto de vista técnico, o seriado traz uma fotografia impecável, realizada pelo DoP Tod Campbell que, seguindo o padrão da série, também quebra as regras, não respeitando um dos fundamentos mais conhecidos da fotografia conhecido como “regra dos terços”. O resultado é uma fotografia diferente de tudo que você já viu antes e absolutamente linda.

Esse modelo de quebra de regras infelizmente vem com seus defeitos. A série é recheada de plot twists e reviravoltas chocantes que nem sempre funcionam, prejudicando consideravelmente o engajamento do público. Além disso, existem problemas gritantes de roteiro, onde personagens principais perdem importância e ficam sem rumo na história, e certos elementos narrativos que são criados para fazer mistério depois são completamente abandonados. Em ambos os casos, parece que os roteiristas não conseguiram pensar em como integrar estes elementos na história e por isso tentaram se livrar deles o mais rápido possível.

Rami Malek e Joey Badass no set da segunda temporada de Mr. Robot

Apesar desses problemas consideráveis, Mr. Robot é, com toda a certeza, melhor do que 90% das séries sendo produzidas neste momento. Ela faz uma crítica extremamente relevante ao mundo moderno, tem personagens interessantíssimos e momentos de tensão de tirar o fôlego. Mesmo que algumas reviravoltas na história sejam mal formuladas, você ainda terá uma ótima experiência se decidir entrar de cabeça no mundo de Elliot, Mr. Robot e FSociety.

Poster da primeira temporada

Ficha Técnica

Nome: MR. ROBOT

Criador: Sam Esmail

Elenco: Rami Malek, Christian Slater, Carly Chaikin.

Onde assistir: Todas as temporadas disponíveis no “Amazon Prime Video”

Quanto custa: A assinatura do serviço de streaming custa 10 reais mensais.

Quando: A qualquer momento!

Saiba mais:

Página do IMDb:

Biografia do criador:

Eu mesmo :)

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