Não! Não Olhe!
‘NOPE’, de Jordan Peele, é um suspense/scifi que conta a história de uma família de cuidadores de cavalos usados em produções de Hollywood
por Victor Alejandro Santos Ocampo
- CONTÉM SPOILERS*
A obra, com lançamento em agosto de 2022, dirigida por Jordan Peele e produzida pela Monkeypaw Productions, é um suspense/scifi que nos apresenta a história de uma família de cuidadores de um rancho de cavalos usados em produções de Hollywood. Nele, eventos estranhos se iniciam, causando a morte do dono do rancho e pai de Otis Jr (Daniel Kaluuya) ou OJ, e Emerald Haywood (Keke Palmer), logo se tornam responsáveis pelo negócio e legado do pai, que atuava com orgulho como os únicos cuidadores negros de Hollywood e enaltecia a importância do homem preto na história do cinema. O negócio, no entanto, não consegue se sustentar bem com a ausência do pai, então, OJ, se vê obrigado a vender seus cavalos, perdendo-os pouco a pouco mas sempre com a intenção de recuperá-los algum dia.
Em uma de suas vendas, OJ conhece Jupe Park (Steven Yeun), empresário do ramo do entretenimento que possui um pequeno parque temático de cowboys e um passado assombroso na televisão, onde quando mais novo, foi um dos sobreviventes de um incidente com um chimpanzé que atuava com.
Os incidentes paranormais continuam acontecendo e OJ logo começa a entender a situação, se trata de uma forma de vida alienígena que se alimenta de matéria orgânica, então, os irmãos Haywood veem a oportunidade de ganharem dinheiro com a captura de imagens deste fenômeno e salvarem seu rancho da falência, e logo, contratam o serviço de câmeras da loja em que Angel (Brandon Perea) trabalha, que começa a auxiliá-los. Porém, o entendimento de Otis não é mais veloz do que de Jupe, que confiante que domaria a criatura, prepara um espetáculo para tal, que, não surpreendentemente, falha, custando a vida de Jupe e de seus espectadores.
No entanto, o espetáculo de Jupe chama a atenção da mídia local, uma vez que, as pessoas que estavam no parque sumiram todas de uma vez, isso bota em risco o plano dos Haywood de serem os primeiros a capturarem um registro do ser extraterrestre. Os irmãos, então, apelam para a ajuda de Antlers Holst (Michael Wincott), renomado diretor de Hollywood, que é convencido a atuar com eles em um plano de documentação da criatura, assim OJ, Emerald, Angel e Antlers a confrontam em busca de provar sua existência.
A obra aborda diversos temas e subverte alguns gêneros clássicos do cinema, uma vez que, numa ambientação de filme de faroeste, gênero que exaltava o homem branco, seus personagens principais são pessoas negras, asiáticas e latinas. Outra subversão está no terror, onde geralmente seus clímax são em ambientes escuros e fechados. “NOPE” tem suas cenas de maior tensão à luz do dia e em meio ao deserto, com perseguições de criatura espacial e cavalo, sua cinematografia se mostra criativa e inovadora.
O filme é recheado de referências e mensagens, mas as mais importantes e notáveis são; a crítica a uma sociedade do espetáculo. Durante o longa vemos que os personagens buscam por meio das câmeras a provação de si para o mundo, não importando as barreiras a serem quebradas, custando desde o respeito com a vida animal ou com a própria vida. As reflexões raciais/étnicas também estão presente na obra, assim como em outras do diretor, a própria ambientação de velho oeste ser tomada por um cowboy negro que está constantemente fugindo de uma criatura transmorfa branca que o persegue mostra ao mesmo tempo luta e opressão.
Um paralelo interessante que o diretor traça, é o de Jupe e OJ, por um lado, Jupe ao sobreviver ao incidente do chimpanzé, criou em seu imaginário que era um ser escolhido que poderia domar a vida selvagem, então se via acima dela, por outro, OJ, a vê como algo a ser respeitado, fator determinante para sua trajetória mais sucedida ao decorrer do filme.
O longa, no entanto, por retratar diversos temas, símbolos e signos, acaba por dificultar o entendimento do espectador mais interessado em desvendar as mensagens do filme, uma vez que, pode inferir diversas premissas de um mesmo objeto no filme, Peele, porém, usa disso para instigar seu público, o que nos faz querer ver e rever a obra várias e várias vezes a fim de captar todas as mensagens.
As direções de “NOPE”, são todas excepcionais, a arte esbanja detalhes e referências que se tornam eater eggs divertidos de encontrar, o som não fica para trás e inclui desde as músicas clássicas da cultura negra a efeitos aflitivos como gritos e estalos de chicote, e a fotografia extrai o melhor dos planos abertos que um deserto com uma criatura gigante pode oferecer. Peele, no comando de um elenco que ganha cada vez mais peso, não falha em proporcionar o melhor que os ótimos atores tem a oferecer.
O longa já está fora de cartaz, mas se encontra disponível na plataforma de stream Amazon Prime Video (R$16,90 assinatura) a qualquer momento.
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