Narrativas do Invisível — Mostra Rumos 2015–2016

Talissa da Cunha Gracio
Araetá
Published in
4 min readSep 27, 2017

Talissa da Cunha Gracio

Frente da exposição Narrativas do Invisível

A memória e tudo que a cerca, principalmente sua permanência, é algo que, acredito, fascina sem grandes dificuldades a qualquer um. A exposição trazida pelo Itaú Cultural apresenta doze projetos, audiovisuais e instalações, e oferece uma visão particular daquilo que está ali, mas não é visto. Dentro do contexto da invisibilidade, os artistas propõem interessantes pontos de vista em busca de uma resistência contra o esquecimento de tudo aquilo que ninguém para para notar.

Descrição: Violência Grátis
Intervenção na própria parede

Logo no começo, várias imagens saltam aos olhos por terem sofrido intervenção. A intenção do artista com esse projeto me chamou atenção porque de fato a violência se tornou tão banal que não só fica difícil encará-la como um problema, mas também fica nítido que a violência é quase um mercado, por ser tão consumida.

Globo do projeto

Um dos ambientes é bastante curioso, não somente por ter uma luminosidade reduzida, mas, principalmente, por ter um enorme globo branco flutuando no meio do espaço. Várias linhas coloridas em movimento riscam-o com o auxílio de alguns projetores que o rodeiam. Para mim, essa foi a exposição que definiu a proposta da invisibilidade, porque estamos bastante cientes da existência do tráfego aéreo (principalmente quando precisamos gravar alguma coisa), mas eu nunca tinha parado para pensar no mundo visto de fora, com esses aviões delineando seus espaços no tempo. Esses vestígios me encantaram.

Uma das coisas que eu gostei dessa exposição foi que a cada ambiente que eu entrava, eu me impressionava mais. O projeto que abordava o assunto do teletransporte, por exemplo, era bem colorido e se estabeleceu em três abordagens.

Ambiente do projeto Teleport City: A Arte como Veículo do Tempo
Painel sobre o advento do teletransporte

Uma delas era um painel enorme no qual eram projetados alguns questionamentos sobre as vantagens e desvantagens, tanto sociais quanto pessoais, de um possível avanço da tecnologia que pudesse nos teletransportar.

Projeto: Cidade Estante

Outra parte desse projeto era uma parede repleta de pequenos plásticos representando lugares planos, vistos de frente, e iluminados com luzes coloridas. Em cada plástico se acendiam duas luzes distintas que demarcavam situações diferentes, com pessoas em lugares diferentes. Para tirar foto de uma das situações, era necessário esperar um curto período de tempo para que as luzes fosses trocadas; quase tão rápido como esperaríamos que o teletransporte fosse.

Projeto: Cidade Estante
Projeto: Mundo Mosaico

A enorme maquete no meio da sala também recebeu projeções que mostravam alguns dados das cidades, assim como seus nomes. A proximidade entre elas me pareceu engraçado, porque, em alguns casos, causava um estranhamento, como uma grande praia brasileira grudada nas pirâmides do Egito. Acredito que foi aí que eu entendi o que a artista quis passar. Era a base do teletransporte: a viagem é possível, não importa quão bizarro pareça.

Descrição: O Golpe do Corte

Mesmo vendo muitos trabalhos que me agradaram muito, eu escolhi facilmente a minha preferida. Era provavelmente a mais simples, mas foi a que mais me encantou. Eu sempre mexo nas gavetas da casa do meu avô para encontrar aquelas pequenas caixas plásticas que, egoisticamente, escondem memórias. Então, quando eu vi todos aqueles monóculos fotográficos pendurados, eu senti como se eu estivesse entrando na memória de outra pessoa; como se alguém tivesse me dado permissão para conhecer sua história, escondida atrás de uma porta tão pequena que somente um dos meus olhos poderia desfrutar daquele momento que parou no papel.

O que continha dentro de cada um dos monóculos eram cenas de vários filmes, alguns inclusive com legenda. Por mais que eu não estivesse conhecendo diretamente as pessoas da vida do autor, eu estava presenciando, através daqueles frames, momentos importantes da vida dele, como já estava na descrição. Filmes estão por todo lado, mas parar para observar uma parte de um momento dele, em um pequeno espaço, foi bastante especial. Novamente se inserindo na proposta inicial da exposição, era necessário parar e olhar bem de perto para ver o invisível do óbvio.

Serviço da exposição:

Onde: Avenida Paulista, 149 São Paulo - SP

Quanto: gratuito

Quando: terça a sexta 9h às 20h [permanência até as 20h30] / sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Até quando: 31 de agosto a 5 de novembro.

Links relacionados: http://www.itaucultural.org.br/narrativas-do-invisivel-mostra-rumos-2015-2016

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