O Camareiro
Por Rafael Augusto Bellangero
“O Camareiro” é uma peça de teatro em cartaz no Teatro FAAP. Na verdade, é uma remontagem da mesma produção de 2015, com pequenas mudanças no elenco. A peça tem o texto do autor britânico Ronald Harwood.
A peça começa com um velho e respeitado ator britânico, intitulado como Sir, tendo um colapso nervoso. Na exaustão de suas forças, o velho ator foge do Hospital e luta com todas as suas energias para apresentar mais uma vez o complexo e grandioso papel de Rei Lear ao seu público.
O personagem Sir, vivido pelo Tarcísio Meira, é dono de uma companhia de teatro Shakespeariana, e todos os dias apresentam uma peça de William Shakespeare. Sir começou a interpretar Rei Lear ainda moço, e na noite fatídica que a narrativa se encontra, o obstinado ator, já idoso, tem que juntar todas as suas forças para viver um personagem de extrema grandeza e dificuldade. Para isso, Norman, o camareiro particular de Sir, faz de tudo para ajudar a manter a peça em cartaz e, claro, faz o possível para ajudar o Sir a continuar lutando pela vida.
O interessante da peça é que ela é dividida em dois atos. O primeiro conta a preparação de Sir para entrar no palco. Nesse ato, é possível ver a dificuldade do ator em lembrar suas falas, em manter a consciência. O segundo ato, é os bastidores da peça, no qual é possível identificar o coletivo trabalhando em prol de sua arte e seu oficio. Como diz Norman, os membros da companhia se tornaram uma grande família e todos se preocupam em manter a chama da arte teatral viva.
A peça se passa durante a segunda guerra mundial, e durante a noite vários avisos de bombardeios acontecem, mas Sir insiste que a peça deve acontecer. Desta forma, o texto de Harwood é uma homenagem a essa profissão de artistas. É possível vislumbrar Sir como um personagem tão apaixonado pela arte e por aquilo que faz. O respeito que os profissionais dessa área têm que ter uns pelos outros, afinal teatro e interpretação é jogo cênico e trabalho coletivo, e vai muito além de quem está em cena, afinal existe uma imensa equipe nos bastidores. Ainda é possível identificar a luta para manter a prosperidade dessa arte, com cada vez menos público.
É incrível ver artistas como o Sir, que colocam sua profissão acima de suas próprias vontades e até mesmo de suas condições físicas, mentais, enfim, acima da sua própria saúde. Tarcísio Meira, que ganhou o Shell de melhor ator por esse personagem em 2015, volta a interpretá-lo e ganha o público. Ele é a própria representação do Sir no palco, afinal Tarcísio Meira é um ator de 84 anos, ainda ativo, em uma peça de mais de 2 horas de duração sem sair de cena.
Norman, o fiel camareiro vivido por Cássio Scapin, mostra ao público que é um verdadeiro artista, não o artista de atuar e interpretar, mas o de servir. Norman encontrou no teatro sua vocação como camareiro e é ele que persuade Sir a continuar.
A peça é excelente, primeiro porque conta com o recurso da metalinguagem. Outro ponto é um elenco excelente, e o mais marcante é uma peça protagonizada por um senhor ator. É difícil existir peças, filmes ou novelas nos quais o protagonista é um senhor(a) da terceira idade.
A direção afiada de Ulysses Cruz também é de extrema importância. Todo o trabalho cênico, cenográfico, a iluminação e trilha sonora trabalham juntos para emocionar o espectador.
Para saber mais: http://faap.br/teatro/em-cartaz.asp
SERVIÇO:
TEATRO FAAP
RUA ALAGOAS, 903.
TELEFONE: 3662–7232. 6ª E SÁB., 21H. DOM., 18H. R$ 100 / R$ 120. ATÉ 15/12