O Insulto
Por Renato Groberman Hojda
"O Insulto", longa-metragem libanês lançado em 2017, conta a história de uma briga entre um cristão libanês e um refugiado palestino, que começa por causa de uma calha irregular, em Beirute. O conflito gerado, que parece simples de solucionar, é levado a tribunal e acaba virando uma briga nacional.
O filme dirigido por Ziad Doueiri começa em um bairro cristão em Beirute, apresentando Tony Hanna (Adel Karam), um membro do partido cristão libanês, e sua mulher então grávida Shirine (Rita Hayek). Durante um dia comum, Tony lava o jardim de seu apartamento e derrama os resíduos por uma calha irregular. O obreiro e refugiado palestino Yasser Salameh (Kamel El Basha), que trabalha na mesma rua, passa por baixo do cano e é molhado pela água suja. Yasser cobra Tony a respeito da calha irregular, porém ele não aceita que alterem algo em sua propriedade. Mesmo assim, o obreiro conserta o cano e então, em um momento de fúria, Tony quebra a nova calha, começando uma briga de insultos com o obreiro palestino.
O clímax da briga pessoal é quando Tony diz a Yasser: "Quisera eu que Ariel Sharon tivesse exterminado todos vocês". Ele se refere ao Ministro da Defesa israelense durante a Guerra do Líbano de 1986, que culminou em um ataque de cristão a povoados palestinos conhecidos como Sabra e Chatila. A resposta de Yasser é um soco na barriga de Tony, que acaba quebrando duas de suas costelas. O cristão então processa o palestino e vão juntos ao tribunal. Quando a frase dita por Tony vem à tona no julgamento, a briga vira um conflito nacional. Palestinos e cristãos evidenciam a briga antiga, agora nas ruas.
O filme é um retrato dos conflitos presentes no Oriente Médio. As implicâncias tão frequentes entre os personagens são talvez um dos maiores impedimentos reais para a paz. Além disso, o longa demonstra a relação entre os países árabes da região, que muitas vezes dizem que apoiam a causa palestina internacionalmente, mas a realidade é: queremos que vocês fiquem bem, desde que longe de nós.
Morei em Israel durante o ano todo de 2017 e me interesso muito pelo tema. A cada vez que conheço mais os conflitos do Oriente Médio, menos definições pessoais a cerca deles eu tenho. Entender a complexidade de tais atritos é uma das mais complicadas tarefas de quem se interessa por acordos de paz e caminhos para novas realidades.
Por tudo isso, gostei bastante do longa, afinal ele trás uma nova visão de outra sociedade do Oriente Médio, sendo um prato cheio pra quem estuda e debate o assunto e até pra quem quer entender um pouco mais sobre ele. Recomendo!
Onde: Caixa Belas Artes, Rua da Consolação, 2423 — Consolação — São Paulo
Quanto: R$30 (inteira), R$15 (meia)
Quando: Em cartaz - todos os dias, 16h10 (por tempo indefinido)
