O PESADELO AMERICANO DE LANA DEL REY
por Guilherme de Campos Alves
Norman Fucking Rockwell é o quinto álbum de estúdio da cantora Elizabeth Woolridge Grant, mais conhecida pelo nome artístico de Lana Del Rey. Norman Fucking Rockwell contém 13 canções inéditas escritas por Lana e produzidas em sua maioria por ela e por Jack Antonoff. O álbum além das 13 faixas contém em sua tracklist um cover de “Doin’Time” da banda Sublime.
A música de Lana Del Rey está intrinsecamente ligada à sua personalidade, sua composição lírica, melódica e as escolhas feitas nas produções de cada faixa são os resultados da vivência e amadurecimento de Lana durante os 12 anos de carreira. Sua arte sempre teve como cenário os Estados Unidos, tratando de lugares da América como um paraíso inalcançável, uma utopia. O famoso “Sonho Americano” possui grande parte na narrativa de Lana Del Rey. Em Norman fucking Rockwell temos uma mudança drástica nesse roteiro, fazendo uma clara referência à Norman Rockwell - pintor estadunidense conhecido por retratar o cotidiano do norte americano - Lana pinta a atual América do Norte.
A capa de NFR já é uma mensagem, o mundo está em chamas e Lana foge para o último lugar seguro na Terra, o oceano. Segurando um homem em seus braços e estendendo a mão para nós, ela se coloca como heroína e principal personagem desse novo capítulo.
“Mariners Apartment Complex” é uma música muito importante dentro desse novo cenário. A sonoridade folk e sem apelos para elementos eletrônicos é um resgate da origem de Lana como cantora e compositora.
You lose your way, just take my hand
You’re lost at sea, then I’ll command your boat to me again
Don’t look too far, right where you are, that’s where I am
I’m your man
Após um começo feito de álbuns mega produzidos e com um apelo comercial muito forte, como “Born to Die” - seu primeiro lançamento dentro de uma grande gravadora - Lana larga toda a antiga produção caótica e abre espaço para sua voz e para seu novo discurso.
And who I am is a big-time believer
That people can change, but you don’t have to leave her
When everyone’s talking, you can make a stand
’Cause even in the dark I feel your resistance
You can see my heart burning in the distance
“The Greatest” é um outro ponto alto do álbum, após uma belíssima introdução os vocais de Lana emergem melancolicamente, expressando toda a nostalgia que a canção carrega.
No refrão, parte mais forte e marcante da música, encontramos um absoluto descontentamento com a cultura americana, uma comparação entre passado e presente e a triste “despedida” que Lana faz ao cenário cultural americano.
And I’m wasted
Don’t leave‚ I just need a wake-up call
I’m facing the greatest
The greatest loss of them all
The culture is lit and I had a ball
I guess I’m signing off after all
A música acaba em tom melancólico abordando acontecimentos recentes que fizeram com que Lana mudasse seu ponto de vista. Os alarmes falsos de ataques de mísseis nucleares que o Havaí recebeu em 2018, os imensos incêndios durante novembro do mesmo ano na Califórnia e o apoio de Kanye West à Trump. Tudo isso é amarrado com uma referência à música Life on Mars de David Bowie
Oh I just missed a fireball
L. A. is in flames‚ it’s getting hot
Kanye West is blonde and gone
“Life on Mars” ain’t just a song
Oh, the livestream’s almost on
"Hope is a dangerous thing for a woman like me to have — but i have it" é a música de encerramento, a canção se susta mais uma vez em letra e vocal. Lana, guardou seu lado mais poético para o final. Se durante Norman fucking Rockwell, Lana fez um retrospecto da cultura americana, na última música ela faz um retrospecto da sua vida.
Ela abre a música relatando as comparações feitas pela mídia no início de sua carreira e a compreensão e aceitação de Lana sobre quem ela realmente é.
Maybe if I’d get less stressed
if I was tested less like
All of these debutantes
Smiling for miles in pink dresses
and high heels on white yachts
But I’m not, baby, I’m not
Ao longo da canção Lana se abre sobre momentos difíceis de sua vida, como por exemplo, o vício em álcool quando ainda tinha apenas 14 anos e sua experiência em um internato.
There’s a new revolution
A loud evolution that I saw
Born of confusion and quiet collusion
Of which mostly I’ve known
A modern day woman with a weak constitution
A música se encerra com Lana repetindo diversas vezes o nome da canção, mostrando a força que a cantora adquiriu, como artista e pessoa, durante os anos de estrada.
Jenn Pelly em sua crítica sobre NFR, publicada na renomada Pitchfork, coloca Lana Del Rey como uma das maiores compositoras vivas da América. Com total controle do seu trabalho e de sua narrativa, ela consegue captar o zeitgeist atual, expressa um retrato claro, íntimo, forte e ao mesmo tempo frágil de sua vida e nos mostra mais uma faceta de sua visão artística, sendo mais verdadeira do que nunca.
O Álbum está disponível em todas as principais plataformas de streaming (Spotify, Apple Music e Deezer) e também no youtube de graça.