O Poço

Por: Maria Gabriela Alegrette Ribeiro

Maria Gabriela
Araetá
4 min readMay 22, 2020

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Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem

Foto:poster original do filme, Netflix, 2020

O Poço se trata de um filme espanhol estreado em 2019 e lançando na plataforma de streaming, Netflix, em 2020. Dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, o enredo busca , metaforicamente, uma reflexão altamente critica ao capitalismo e ao egoísmo natural da humanidade, a que o diretor considera uma raça infeliz. O longa estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2019, onde ganhou o People’s Choice Award, além de ter sido indicado a três prêmios Goya ( "Oscar" espanhol), recebendo o de melhores efeitos especiais.

Goreng (Ivan Massagué), protagonista do enredo, acorda em um sistema prisional vertical conhecido como "O Poço" e passa a dividir a cela com Trimagasi, um senhor que já se encontra encarcerado a meses e que o ensina o funcionamento do local. A prisão é constituída por 333 andares, cada andar abriga dois prisioneiros, e uma plataforma, por onde as refeições descem e ficam apenas dois minutos por andar e depois descem para o próximo. Diante disso, os presos não podem guardar comida, se não sofrem punições.

Foto:Goreng e Trimagasi, cena do filme, 2019

Os níveis superiores são os mais privilegiados, tendo em vista que o nível zero é o que recebe o banquete completo, enquanto o restante fica com as sobras. A quantidade de comida seria suficiente se cada um comece o que realmente precisa, mas não é o que ocorre.

A cada mês, as duplas trocam de andares aleatoriamente, fazendo com que, se um dia você está em nível superior, no outro pode estar no fim do poço, e vice-versa. A tentativa de sistema prisional seria induzir a "solidariedade espontânea" nos presos, fazendo-os pensar nas necessidades do próximo. Mas, de acordo com o egoísmo dos andares a cima, os níveis mais baixos chegam aos seus limites de fome e passam por situações extremas: violência, assassinatos e até canibalismo.

Foto: O protagonista observando os andares de baixo,cena do filme, 2019

Confesso que me interessei pelo filme por ser uma entusiasta de filmes espanhóis e por ouvir elogios fantásticos. Porém, a primeira vez que tentei assistir, parei nas primeiras cenas de violência.Mesmo não sendo um filme que particularmente me agradaria, dei-o uma segunda chance e me surpreendi com a mensagem do mesmo.

O Poço não se trata de apenas mais um filme de horror gore, muito menos representa violência gratuita, ele é uma denuncia sobre o sistema em que vivemos, analisando a fundo nossa sociedade e escancarando tudo aquilo que fechamos os olhos e fingimos não ver, mas que existe e assola muitas realidades mundo a fora, principalmente em nosso país, com tamanha desigualdade social.Os de cima não se importam com o restante das existências e se esbaldam em suas vantagens , enquanto os de baixo, literalmente, se matam.

Outra questão que me chamou atenção foi a iluminação e como a mesma transmuta durante o longa com harmonia, embora se tratando do escuro azulado e solitário e do vermelho vivo, que expressa veemência.Ademais, muitas são as cenas que me deixaram sem fôlego, devido a acontecerem depressa e com intensidade.

Foto:a plataforma chega vazia aos níveis inferiores, cena do filme, 2019

Portanto, concluo que O Poço é um filme que necessita de um estômago forte e que talvez não seja indicado para pessoas sensíveis, mas que retrata com maestria as perturbações psicológicas do aprisionamento, da fome extrema e da desconfiança de seus pareceiros de cela;além é claro, de seu meritório contexto social.

Onde assistir?

Netflix.

Quanto custa?

A partir de R$21,90 por mês.

Quando?

Está no catálogo por tempo indeterminado.

Saiba mais!

Foto: Eu, Maria Gabriela, 2019

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