O poder da representatividade

Não faltam séries e filmes adolescentes sobre romances e descobertas sexuais, mas ‘Heartstopper’, surpreendentemente, diferencia-se das demais

Gabriel Hachul Scanavacca
Araetá
4 min readMay 17, 2022

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Gabriel Hachul Scanavacca

(Hearstopper 2022 — Netflix — Poster) Nick (Kit Connor) Charlie (Joe Locke.)

Atualmente, um aspecto notório que se fortalece à medida que ganha maior credibilidade na boca das novas gerações, integra uma série de princípios a respeito da comunidade LGBTQIAP+. Um lançamento recente da Netflix abrange tais perspectivas de forma a simbolizar a importância da aceitação pessoal e da luta diária para obter compreensão social em função de questões individuais de cunho inalterável.

Uma série que aborda tais princípios é Heartstopper, baseada na obra em quadrinhos da autora Alice Oseman. O enredo envolve um romance entre os protagonistas Charlie Spring e Nick Nelson. Charlie é um aluno dedicado nos estudos, interessado por música, mas que necessita sujeitar-se às suas inseguranças que lhe afligem diariamente. Inúmeros insultos e diversos maus-tratos ocorrentes no ambiente escolar, originados após sua sexualidade tornar-se pública, proporcionaram a intensificação dessa vulnerabilidade consigo mesmo. Por outro lado, Nick é um jogador de rugby popular que, ao longo da série, passa a se aproximar de Charlie, criando uma amizade forte e desenvolvendo sentimentos mais profundos. Ao contrário de Charlie, Nick é muito inseguro em relação à sua sexualidade e à aceitação daqueles que convivem com ele, uma vez que pertence a um ciclo de amigos preconceituosos e “valentões”. Durante esse grande convívio diário, mesmo com grandes sentimentos por Nick, Charlie acanha-se por desenvolver uma paixão por um amigo acrescido à suposição de sua heterossexualidade. Nick, por sua vez, também desperta sentimentos que, até o momento, estavam enterrados e nunca explorados. A série retrata como ambos passarão a compreender seus sentimentos e como irão superar seus próprios obstáculos para alcançarem o que tanto almejam.

Não faltam séries e filmes adolescentes sobre romances e descobertas sexuais, porém Heartstopper consegue, surpreendentemente, diferenciar-se das demais. É evidente que existe um habitual contexto na forma de construir narrativas que possui um grande apelo erótico e um final infeliz para o romance em quaisquer histórias que envolvam a comunidade LGBTQIAP+. A série em pauta traz problemas juvenis com grande leveza e o verdadeiro peso que tais problemas têm na vida cotidiana dos demais jovens da atualidade. Simples, mas existentes. Com grande representatividade, a obra conta com um elenco representativo das minorias, sem escalar atores heterossexuais para interpretar, por exemplo, os personagens gays e transsexuais.

Elle (Yasmin Finney) e Tao (William Gao)

É muito comum a existência de grandes filmes homoafetivos que se preocupam em fazer um casal “bonito” e padrão, com astros aclamados nas telonas apenas para atrair o público, mas Heartstopper foge dessa conduta. A comunidade LGBTQIAP+ sente-se mais representada por essa obra do que por qualquer outra da mesma temática. A série, além de trazer certa veracidade em apresentar determinadas situações, também apresenta um “conto de fadas gay”, uma história comumente fantasiada por seus membros. Coisas simples como a insegurança do que escrever nas mensagens trocadas, a grande insensibilidade da sociedade e a tamanha confusão com a autodescoberta apresentam, verdadeiramente, a vida de um integrante dessa comunidade ao invés de apenas cenas eróticas e um romance decepcionante. Heartstopper traz consigo a leveza que todo tipo de público precisa, além de trazer o tema da diversidade de forma leve que pode ser facilmente compreendida, sem tentar provar um ponto ao espectador. A forma como a narrativa é construída e o cuidado para relatar aspectos atuais constroem um senso de pertencimento aos membros da comunidade LGBTQIAP+ que propõem uma idealização de um futuro verídico e sem ameaças radicais.

A série pode ser encontrada na plataforma de streaming Netflix, com o preço de assinatura que varia entre R$25,90 até R$55,90, sem a necessidade de desvencilhar-se de seu conforto. A série está disponível no catálogo e devido a sua repercussão, acredita-se que sua originalidade será duradoura.

“Selfie” — eu com meu namorado — Gabriel e Pedro

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