O quarto íntimo do rap nacional

Por Ana Tonezzer Ansbach

Ana Tonezzer Ansbach
Araetá
3 min readMay 19, 2020

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Símbolo da Batalha Dominação

É no centro de São Paulo, do lado do metrô São Bento, que a batalha de freestyle protagonizada por mulheres, pessoas trans, não binárias e gêneros dissidentes cresceu. O nome “Dominação”, por exemplo, não se refere ao substantivo, mas à criação de um novo conceito que combina o verbo “dominar” e os substantivos “mina” e “ação”.

Muitos vão chegando, se aglomerando, recitando seus versos e narrativas, de modo que a Batalha Dominação cresceu de um momento epifânico onde as MC’s perceberam que o espaço das mulheres no rap era escasso, onde os homens ocupavam majoritariamente o campo de rima e assim as MC’s decidiram criar um espaço seguro que ampliasse suas vozes e o reconhecimento, visibilidade à suas perspectivas.

O coletivo que criou a Dominação é composto por muitxs atuantes no cenário do rap/hip-hop nacional — Sara Donato, Jupi77er (Rap Plus Size), Bianca (B3R), Gabi Nyarai. A Batalha inicialmente ocorria nos últimos sábados do mês, mas com uma pluralidade de participações e espectadores, a Dominação agora acontece semanalmente, todas as segundas, abrindo espaço para uma diversidade de pocket shows, ampliando a participação para outras artistas do rap.

Foi em 2018 que o Coletivo demandou mudanças para o cenário da batalha, passando de ser uma batalha feminina para uma batalha gênero dissidente, onde mulheres lésbicas, bissexuais, pessoas trans e não binárias passaram a constituir o espaço.

Artistas do rap, WinniT e Bia Ferreira

O microfone aberto é exposto e assim muitas Mc’s que se alistaram se lançam na rima. Num campo de freestyle, há uma combinação de batidas e harmonias misturando-se com a voz e o grito do incentivo. Neste freestyle implementado, um tema é escolhido a partir do barulho que a plateia emite, variando temáticas como privilégio branco, opressão, movimentos sociais de emancipação feminina, militância negra e LBTQI+.

“O rap é uma cultura preta, ele surgiu na periferia e é sobre nós, sobre nossas vivências, sobre a nossa cor. A gente é vítima do Estado e o rap é o nosso porta-voz, ele é uma ferramenta pro preto ser ouvido”, conta Gabi Nyarai, uma das líderes da Batalha.

O espaço é um quarto de intimidade que se usa da poesia para sensibilizar a luta diária e usar da voz como instrumento de liderança e poder. É um espaço de respeito, de uma energia compartilhada de solidariedade. É o momento de escutar a troca de ideia, a potência de um movimento que se acrescenta, que move um clima de acolhimento. A realidade de um mundo machista é posta crua, o machismo dentro do rap - de modo que desde os anos 80, as manifestações produzidas pela cena hip hop vinham sendo comandadas quase totalmente por homens.

“Opressão se combate com revide, e esse revide tá acontecendo. Hoje na cena a gente vê mais minas, mais homossexuais, mais pessoas trans, o que ontem a gente nem cogitava”, conta a Mc Anarka, da Zona Norte de São Paulo.

Falando de um outro âmbito além da batalha de rima, a Dominação criou em 2017, uma forma de arrecadar recursos para a locomoção de artistas convidados, com a Lojinha Dominação - comercializando camisetas, adesivos e bolsas para o dia-dia - e assim também suportar financeiramente a premiação dxs Mcs vencedorxs de cada edição semanal.

Onde?

No centro de São Paulo, do lado do metrô São Bento.

Quanto?

De graça!

Quando?

Todas segundas-feiras, às 20h.

Saiba mais!

Link do canal da Batalha Dominação — 102ª Batalha Dominação — Gabi Nyarai x WinniT

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