Os Vilões de Shakespeare

Por Fátima Carolina da Cruz Arruda

Carolina Cruz
Araetá
4 min readMar 1, 2018

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Marcelo Serrado em cena no monólogo “Os Vilões de Shakespeare”. Foto: Guilherme Maia/ Divulgação

Um palco, um telão com projeções, uma mesa pequena, uma cadeira e um belo e simples jogo de luz. Não precisou de muita coisa para ator Marcelo Serrado entrar no palco do Teatro Eva Herz, em São Paulo, e estrear com maestria o monólogo “Os Vilões de Shakespeare”, com direção de Sergio Módena e roteiro de Geraldo Carneiro.

O roteiro é uma adaptação da peça inglesa de 1998, escrita e encenada pelo ator Steven Berkoff. Na época, ele foi indicado ao Prêmio The Society Laurence Olivier Award de Londres como melhor espetáculo. Já em 2000, o mesmo ganhou o Prêmio Americano de Teatro LA Weekly para Solo Performance.

Apesar do nome nos remeter a uma narrativa mais pesada e densa, a montagem traz de uma maneira cômica e irônica textos e personagens de Shakespeare do século XVI e XVII que se encaixam perfeitamente nos tempos de hoje. Marcelo Serrado não só interpreta algumas passagens dos vilões do grande escritor inglês, como também traz para toda a plateia análises da relação dessas escritos com o que acontece atualmente na vida de uma pessoa comum, de um político e de um artista na sua mais pura vaidade.

Com o texto de Geraldo Carneiro e direção de Sergio Módena, monólogo traz para a plateia críticas sobre a nossa sociedade. Foto: Guilherme Maia/ Divulgação

Tudo começa com a encenação de uma fala rápida de Iago, um dos maiores vilões de Shakespeare, em Otelo. Com esse obra, Marcelo levanta questões como a crítica ao politicamente correto e ao nosso conhecimento sobre quem realmente seriam as pessoas que todos veneram: “A gente às vezes aplaude muitas pessoas na vida que não sabemos quem são de verdade”, disse Marcelo. Depois de diversos questionamentos direto com o público, ele se concentra e recomeça sua interpretação do próximo vilão fazendo essa passagem de uma forma muito tênue, mostrando seu nível de capacidade de atuação. E é justamente essa transformação que encanta. Quem senta na plateia e pensa que vai assistir “apenas” encenações das peças de Shakespeare, está muito enganado. A maior experiência é ver um ator se transformando em vários e trazendo a psicologia humana de outros séculos atrás para os dias de hoje.

Após dar início com Iago, Marcelo Serrado segue sua representação fazendo o mesmo jogo de análises com outros vilões. Com Henrique III, levanta um questionamento e faz uma crítica aos críticos. Relacionando com os dias de hoje, podemos dizer que essa parte do texto faz uma crítica aos famosos “mimimis”, uma palavra muito utilizada por quem pensa que hoje em dia as pessoas reclamam de tudo, quando na verdade estão abrindo os olhos e compreendendo um pouco mais sobre essa nossa sociedade que por diversas vezes acha que um desrespeito é uma “simples” brincadeira.

Seguindo, o monólogo continua e passa por vilões como Macbeth, aquele que todos os envolvidos com dramaturgia não pronunciam o nome por acreditarem em um azar, Shylock (O Mercador de Veneza), Oberon (Sonhos de uma Noite de Verão), Coriolano e, para finalizar, Hamlet. Nessas passagens, críticas à famosa e tão querida política da boa vizinhança, aos políticos, às nossas ações e às nossas ambições, são levantadas de forma discreta e sutil.

Depois da pré-estreia, o ator, o diretor e o produtor Eduardo Barata, conversaram e responderam perguntas do público presente. Foto: Carolina Cruz/ Araetá.

Percebe-se que o humor que Marcelo Serrado traz para o palco é bem equilibrado. Isso é um resultado de um trabalho que vem sendo feito desde o ano passado, quando eles estrearam o monólogo no Rio de Janeiro, para comemorar os 30 anos de carreira do ator. Além de já ter uma veia comediante bastante forte, em um trabalho conjunto com o seu diretor Sergio Módena, Serrado vem podando a graça de acordo com a reação da plateia.

Um espetáculo que tem como base textos antigos, mas que é mais atual do que a gente consegue imaginar. É intenso. Faz a gente respirar e inspirar. Faz a gente rir. Faz a gente refletir.

Selfie minutos antes de começar o espetáculo! ❤

Serviço

Estreia 3 de Março

Temporada: De 3 de Março até dia 29 de Abril

Horários: Sábados às 19h e às 21h | Domingo às 18h

Onde: Teatro Eva Herz. Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Avenida Paulista, 2073 — Bela Vista

Ingressos: R$30,00 (para os 34 primeiros ingressos vendidos na própria bilheteria) | R$40,00 (meia entrada) | R$80,00 (inteira).

Vendas na bilheteria do Teatro ou pelo site.

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