Peter Rabbit (Pedro coelho)

Victoria Silvestre
Araetá
Published in
5 min readApr 2, 2018

Peter Rabbit é uma adaptação do diretor Will Gluck em live action/animação baseada nos livros clássicos de Beatrix Potter, revisitando o mundo criado por Beatrix em suas obras, entretanto, contado nos dias de hoje. No filme, Peter é um coelho que vive com suas três irmãs e seu primo de consideração sob os cuidados de Bea (Rose Byrne), e quer reconquistar a horta de Mr. McGregor. Mas quando o senhor morre e seu sobrinho neto, Thomas (Domhnall Gleeson), herda essas terras, Peter tem que aprender a conviver com a paixão de Bea pelo novo vizinho.

Imagem do filme Peter Rabbit (2018)

Se você está vendo o filme sem conhecer os livros de Beatrix Potter e seu universo, e sem levar em conta a obra original, o filme pode ser considerado bom. A animação de todos os animais é adorável e fofa, contado de um jeito leve ele parece ter prendido bastante as crianças, as quais deram muita risada, gritaram quando estavam bravas com alguma personagem, e inclusive, choraram junto com Peter. Para os adultos, a diversão foi a mesma, se não maior, pois o filme conta com piadas bem elaboradas para adultos que passam despercebidas para as crianças.

Imagem do filme Peter Rabbit (2018)

Contudo o filme decepciona ao retratar a obra em que foi baseado de uma maneira nada cuidadosa. Talvez, o único momento em que o filme realmente tenha captado a essência do que se tratava foi durante uma conversa entre vendedores de uma loja, que nem personagens secundários são, e que não acrescenta em nada no desenvolvimento da narrativa. Eles conversam entre si, propondo que Beatrix Potter teria pintado os animais com muitas características que os humanizaram, para ter algum tipo de relação social humana. Fora a isso, a personagem dela no filme acaba sendo meio tola, ela basicamente se apaixona e fica cega de amor a ponto de esquecer que os coelhos existem e estão ali.

Na vida real, Beatrix Potter foi uma menina muito solitária, que ficou em casa por ser menina enquanto seu irmão foi estudar. Ela conseguiu escapar do destino já estabelecido para as meninas ricas da época, que era: casar, ter filhos, e se tornar dona de casa. Beatrix lutou para escapar desta predefinição social, e seu talento e trabalho duro foi o que abriu muitas portas para ela. É incabível que no século XXI uma mulher que lutou pelo seus direitos se resuma a essa mulher apenas bondosa e ingênua. Um filme que ao contrário de Peter Rabbit conseguiu captar bem quem foi ela é Miss Potter (2006).

Outro ponto importante é a estética dos animais no filme, que ai sim, honra as obras de Beatrix. Há uma quebra em alguns momentos chave do live action, em que toda a cena passa a ser animada, utilizando os desenhos originais da escritora. Nesse momento, as características mais marcantes dela fazem-se presentes: animais com um ar realista mostrando emoção, bordas brancas que se fundem levemente com o desenho, linhas precisas, cores fortes e aquareláveis que juntam fatos com o imaginário. Ela passou grande parte da sua vida sozinha estudando esses animais, e a exatidão de detalhes e observação de Potter foi o que possibilitou a ela desenhar animais com emoções humanas que sejam credíveis e que ao mesmo tempo não perdem suas características originais.

Desenho original de Beatrix Potter
Frame do filme Petter Rabbit

É extremamente difícil se manter fiel aos desenhos originais, que foram feitos a mais de 100 anos atrás, e isso foi um ponto positivo nesse filme, sua arte. Há um outro diretor, Reginald Mills, que conseguiu manter também uma fidelidade em relação a estética da obra original, em “Tales of Beatrix Potter”, um filme de Ballet de 1971 que conta com a presença dos dançarinos do Royal Ballet.

Beatrix Potter, The Tale of Peter Rabbit

Sem dúvida, Peter rabbit teve algumas escolhas feitas pelo diretor que não foram as melhores, seja pela falta de fidelidade ao universo de Beatrix, seja pelo papel que as mulheres desempenharam no filme. Apesar de tudo, Peter rabbit acabou sendo uma saída mais inteligente para a média de produções feitas para se assistir em família, fica evidente que houve uma preocupação para o divertimento não apenas das crianças, mas dos adultos também. É um filme capaz de agradar a todos (contanto que estes não sejam fascinados pela obra original).

  • Onde: Em qualquer cinema
  • Quanto: Pode variar, média de 30 reais (inteira) e 15 reais (meia)
  • Estreia: 22 de março de 2018
  • Quando: Verificar a disponibilidade de cada cinema
  • Até quando: Tempo indefinido
  • Duração: 1h 30min
  • Direção: Will Gluck
  • Roteiro: Will Gluck
  • Elenco: James Corden, Domhnall Gleeson, Rose Byrne
  • Nacionalidade: EUA, Austrália, Reino Unido
(Eu)

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