Portrait of a lady on fire, uma tela do patriarcado.

Beatriz Leal Sanches
Araetá
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5 min readApr 12, 2020

Retrato de uma jovem em chamas, é um longa francês dirigido por Céline Sciamma, e lançado no dia 9 de janeiro de 2020. Atualmente o drama já recebeu diversos prêmios, como o de melhor roteiro no festival de Cannes e o César de melhor fotografia.

O filme narra a aventura da jovem Marianne, uma pintora do século XVIII que recebe o trabalho de pintar Héloïse, a ultima herdeira viva de sua família, para que seu retrato seja enviado a seu pretendente e este escolha se irão se casar.

O que Marianne não sabe é que outros pintores já tentaram retratar Héloïse, entretanto alguma coisa sempre os impedia. Deste modo a artista, decide que irá pintar a jovem sem que ela perceba; primeiramente a mãe de Héloïse apresenta a pintora como uma dama de companhia para as caminhadas da filha até a praia, é nesses momentos que Marianne pode observar e tentar capturar os traços em sua mente.

Pintar um quadro sem ter um modelo ou uma foto é um ato ousado, por mais apto que o artista seja, por mais tempo que observe seu objeto, muitas vezes: Você olha, mas não vê.

Marianne traz consigo toda uma bagagem de solidão e busca por independência. Em sua vida ela tentou seguir os paços do pai que também era pintor e se vê presa as convenções sociais, assim como ela está atada as regras dá academia de arte. Quando ela faz os primeiros esboços de Héloïse , eles são calculados, seus traços são contidos e pensados para seguir as normas.

Sua pintura é um reflexo da relação entra as protagonistas, primeiramente desconfiadas elas tentam se conhecer, mas seja pela intervenção de outros ou pele própria barreira imposta por elas, sua relação é seca como carvão.

Héloïse é uma personagem de peso, ela está enfezada com a falta de possibilidades para seu futuro, é um mulher do século VXIII e a maior expectativa de sua família sobre si é de que ela consiga um marido, que possa a bancar. A vinda de Marianne significou, um novo entretenimento em seus dias banais, ela não tinha mais somente sua mãe e Shopie (a governanta) para conversar.

Ela ganhou uma amiga, que atravessou o mar para lhe trazer novas histórias; em certo ponto Héloïse admite ter inveja de Marianne por está poder trabalhar, diferente dela que não tinha escolhas. E que a outra nunca entenderia sua frustração, ao que Marianne rebate: — Mas eu entendo.

No primeiro ato do filme, temos bem informado uma estrutura de dominação patriarcal que rege o universo das protagonistas. As 4 personagens (Marianne, Héloïse,Shopie e a mãe de Héloïse) que aparecem na longa são mulheres, subordinadas as dependências de uma figura patriarcal.

Isto está implícito no filme porque, o elenco não possui um personagem Masculino que se oponha aos sonhos de liberdade delas, na verdade todas a construção falocêntrica está escondida aos olhos do espectador, sendo representado pela incapacidade das protagonistas de realizarem seus próprios desejos.

As atrizes que interpretam Shopie, Marianne, a diretora, Héloïse e sua mãe.
As atrizes que interpretam Shopie, Marianne, a diretora, Héloïse e sua mãe.

Entretanto de forma abrupta, a diretora Céline Sciamma nos traz um segundo ato que rompe com essas expectativas.

Marianne ao terminar o quadro, conta para Héloïse os verdadeiros objetivos de sua vinda. A última, que já havia aceitado seu destino, decide avaliar o trabalho: ela critica o fato, do retrato não conseguir transmitir sua essência. Marianne afirma que o intuito não era retrata-la, mas por Héloïse dentro das normas estéticas.

O rompimento do laço de confiança que estava se formando entra ambas é quebrado, no momento em que a pintora atingida pela crítica desfaz o quadro.

Por conta disto, a mãe de Héloïse decide mandá-la embora, mas Héloïse lhe dá mais uma chance e concorda em posar para Marianne; está teria 5 dias par fazer outro quadro, enquanto a mãe estivesse viajando.

Agora sozinhas, há uma fuga da sociedade, mas uma vez Marianne inicia o quadro, agora pode faze-lo de forma calma e sem ter de se esconder. Do mesmo modo, as jovens estão se conhecendo de novo, os traços desenhados na tela são mais leves, suas perguntas mais pessoais. O segundo ato é marcado pela tinta: é demonstrado como a sombra nas dobras deve ser fluida, elas estão se apaixonando agora, a fotografia fica mais clara.

Marianne passa para pele, a luz é difícil é preciso cuidado para não borrar o retrato. Os passeios na praia continuam, elas se beijam: a relação com patriarcado é ocultada.

Mesmo agora com a foco da narrativa no romance entre as duas, temos sempre a presença nas normas sociais que as prendem, isto é mais refletido no drama de Shopie, que é pobre, está gravida e foi abandonada pelo parceiro, tendo de procurar um serviço clandestino de aborto com a ajuda das duas.

O filme permanece neste contraste de libertação vs imposição, até o momento em que o retrato é finalizado e Mariane …

Espero que tenha gostado e que assista este ótimo filme, para saber o final. Existem muitos fatos não retratados aqui, com um elenco de alta competência, fotografia, trilha sonara e direção impecáveis O retrato de uma jovem em chamas é avassalador.

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Beatriz Leal Sanches
Araetá
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My breath is art, since I was kid passed hours drawing.Even in my worst moments, I never passed one day without art.https://www.instagram.com/triz.art2018/?hl=p