Puella Magi Madoka Magica

Ana Carolina C. do Monte
Araetá
Published in
5 min readMar 25, 2018
Ana Carolina Castellani do Monte.

Entre os animes (como são conhecidas as animações japonesas), existe um gênero conhecido como “garota mágica”, ou “mahou shoujo” em japonês, que consiste em um tipo de história em que uma garota ganha poderes por meio de uma criatura pequena e adorável, e passa a usá-los para combater o mal, ao mesmo tempo em que mantém sua vida normal de estudante. Essas histórias costumam ser leves, com muita ação, humor e romance, embora, conforme a história progrida, possam ficar mais sérias e com mais drama. Entretanto, costumam manter elementos considerados “fofos” e aventuras com finais felizes. Exemplos notórios desse tipo de anime são Sakura Card Captor e Sailor Moon.

Puella Magi Madoka Magica, entretanto, é um anime não convencional desse gênero. Isso porque ele se inicia dando a impressão de que seguirá esse padrão, e se aproveita de nossas expectativas para surpreender-nos por completo ao se mostrar um anime muito sério e trágico, que aborda muitas questões existenciais. Tanto que a classificação indicativa da plataforma Netflix é de 14 anos para cima, diferentemente de outros animes do gênero, que costumam ser livres para todos os públicos.

Madoka, ao centro, com suas amigas, Hitomi (à esquerda) e Sayaka (à direita), ao se encontrarem a caminho do colégio.

O anime mostra a história de Madoka Kaname, uma jovem estudante que vive uma vida comum, com uma família amorosa e amigas leais, até ser contactada por um ser pequenino que se assemelha a um gato, mas que, ao mesmo tempo, percebe-se que não é um animal do mundo que conhecemos. Essa criatura se comunica telepaticamente, se apresenta como Kyubey e oferece contratos a garotas jovens: elas podem ter seu desejo mais profundo realizado, em troca do dever de se tornarem garotas mágicas e lutarem diariamente contra bruxas, criaturas que são a causa de acontecimentos trágicos sem explicação aparente.

Kyubey.

Quando ofertada com tal contrato, porém, a garota hesita; no início, por não saber o que quer desejar, e depois, como contam a ela outras garotas mágicas mais experientes, e como ela chega a descobrir por conta própria, ser uma garota mágica vem com grandes riscos. Há até mesmo uma personagem, chamada Homura Akemi, que faz de tudo para convencer Madoka a não se tornar garota mágica, por um motivo que iremos saber apenas perto do fim do anime.

A história segue Madoka e as garotas mágicas presentes em sua vida, acompanha lutas das garotas contra as bruxas e até mesmo contra elas mesmas, expondo os conflitos entre elas e as inesperadas consequências de se fazer um contrato com Kyubey.

Mami, uma garota mágica experiente, Sayaka, amiga de Madoka, e Madoka (da esquerda para a direita) se aventuram no labirinto criado por uma bruxa.

O anime, além de ter uma história e personagens muito bem trabalhados, também é muito bonito esteticamente. As bruxas e as distorções que elas causam nos ambientes com sua presença são feitas com algo que se assemelha a uma mistura de colagens de diversos tipos de materiais. Isso contribui com a sensação de estranhamento, de que há algo fora do comum. Em algumas ocasiões, essas colagens chegam a ser tão estranhas (de um jeito positivo), que chegam a ser genuinamente assustadoras e, ao mesmo tempo, fazem você não conseguir desviar o olhar.

Criaturas assustadoras criadas por uma bruxa.

Há, também, cenas visualmente comuns porém muito bem feitas, principalmente os cenários, que retratam o dia-a-dia normal de Madoka, em contraste com cenas deslumbrantes com cores alteradas ou com uma diferenciação da iluminação em momentos especiais.

Kyubey, Madoka, Sayaka e Mami, da esquerda para a direita, tomando chá na casa de Mami. É possível perceber que esse momento se passa em um fim de tarde apenas pela forma como o brilho do sol é refletido no chão.

A trilha sonora, assim como efeitos sonoros, apenas intensificam a experiência.

Sayaka Miki, amiga de Madoka, em um momento de desespero.

A série trabalha muito com temas de dualidade. Egoísmo e altruísmo, esperança e desespero, garotas mágicas e bruxas. É possível perceber que tais temas, embora contrários uns aos outros, sempre andam de mãos dadas. Quanto mais você assiste do anime, mais difícil fica identificar quem seriam os “heróis” e quem seriam os “vilões”, embora nunca tenha havido uma distinção clara. O anime mostra ambos os lados da moeda em todas as situações, e isso faz com que você consiga entender muito bem cada personagem conforme assiste, e tenha empatia por eles. É um anime muito emocionante, e, embora se sucedam muitos acontecimentos trágicos, te faz pensar e traz uma mensagem bonita no fim; fim este que me foi um pouco difícil para compreender de início, mas, mesmo assim, muito tocante, e compreensível ao se pensar sobre.

Madoka, em uma cena da abertura do anime.

O anime é composto por apenas 12 episódios de pouco menos de meia hora cada, e está disponível na plataforma Netflix. Foi criado por Akiyuki Shinbo. Recomendo muito assistir se essa análise lhe interessar, mas aviso que talvez sejam gastos alguns lenços de papel.

Foram também feitos dois filmes para a franquia, uma light novel, e inúmeros mangás, uns que contam a história de Madoka e suas amigas, e outros que contam a história de outras garotas mágicas. Um deles até se passa em outra realidade. (A análise feita acima continua sendo apenas sobre a série de anime).

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