RAMMSTEIN POR RAMMSTEIN: UMA INÉDITA REVISITA
Por Renan C. Anjos
Rammstein é uma banda de rock industrial alemã que já dura duas décadas. Nesse ínterim, atraiu público de todos os países pelas suas características bombásticas: A pirotecnia exacerbada nos seus shows; a dicotomia brutal no timbre (exercida por guitarras distorcidas contrapostas a teclados suaves); as letras fortes e quiçá apelativas.
Num hiato de dez anos, a banda estagnaria com as canções originais no álbum “Liebe ist für alle da”. Contudo, foi em 2019 que a banda surpreendeu novamente. Lançou seu sétimo álbum, sem titulo, mas apelidado pelos fãs e pelos serviços de stream de música como homônimo: RAMMSTEIN
Controverso, audacioso, premiado. Vendeu 260 mil cópias (na primeira semana) apenas na Alemanha, o que imediatamente o tornou o mais rentável de todos já lançados pelo grupo de músicos. No mundo, conquistou o primeiro lugar em mais de 13 Charts internacionais.
O álbum inicia com a música “Deutschland”, que recebeu, talvez, o maior controverso clipe de 2019. A música se enrenda numa crítica à própria Alemanha, trazendo um dos versos mais famosos cantado pelo vocalista Till Lindemann: “Du hast”. Tal expressão alemã está presente no Single mais famoso da banda, que se intitula por essa expressão. Isso elucida uma revisita da banda; além de estrategicamente seduzir os fãs para o espírito de seu âmago; reutilizado num trabalho inédito.
A música prossegue para um refrão incontestável e extremamente bem feito, ao passo que o videoclipe se intensifica; de fato, poderíamos considerar a direção de Specter Berlin do clipe como uma obra a parte.
Na metade da música, nos aproximamos a parte mais controversa. Lindemann canta:
“Überheblich, überlegen
Übernehmen, übergeben
Überraschen, überfallen
Deutschland, Deutschland über allen!”
(Traduzido)
“Arrogante, superior
Tomar o poder, ceder o poder
Surpreender, atacar
Alemanha! Alemanha sobre todos!”
O grande jogo de palavras em alemão aborda e critica o pior período da Alemanha: a Alemanha nazista. O clipe mostra os integrantes da banda num campo de concentração:
Uma critica inteligentíssima; mas que não fugiu do olhar histórico; ou uma “antropofagia moderna”, como descrito por Charlotte Knobloch, ex-presidente do Conselho Central dos Judeus.
A primeira canção termina e somos surpreendidos por outra musica política: “Radio”.
“Radio” recebe outro clipe do mesmo diretor. Aqui, o Rammstein clássico se apresenta mais forte, com seu famoso teclado destoando das guitarra distorcidas.
A composição agrada, o videoclipe também. Nesse interím, temos uma canção que questiona a igreja cristã de maneira irônica. “Zeig Dich” se desenvolve dessa ironia numa música cujo ritmo tem capacidade de envolver diferentes ouvintes; o que infelizmente não se repetiria com a mesma intensidade próxima musica. “Ausländer” parece flutuar entre uma tentativa de uma nova crítica por parte do videoclipe e entre seus versos, que vão em outra direção. Há uma drástica mudança no estilo; o rock industrial tenta harmonizar com a música eletrônica que, apesar de desagradar os fãs mais tempestuosos de Rammstein, fica longe de resultar numa música ruim; a junção entre rock e electro é bem executada e funciona como melodia. O que viria desconectar a nova experimentação musical é o videoclipe. Dessa vez, a “não-clareza” abstrata lírica não se encaixa tão bem com as passagens concretas cinematográficas, resultando na impressão de uma tentativa de reaproveitamento do sucesso que a polemicidade das primeiras músicas do álbum geraram, numa letra que não tem esse caráter.
Cessa-se os videoclipes, a próxima musica “Sex” derruba o clímax do álbum, mas não deixa a desejar; trás outro tema explorado pela banda desde sua fundação; o erotismo humano, clamado fortemente durante toda a faixa.
A tensão e controvérsia sobem novamente na próxima música “Puppe”: Uma balada triste que, em seu auge, evoca o rock industrial e o vocal estrondoso de Lindemann, tornando a originalidade da canção indiscutível; que trás mais uma vez uma abordagem à temas atuais controversos.
“Diamant” não ousa como estilo, mas também diverge um pouco do estilo da banda de rock industrial; as guitarras viram violões, temos violinos e coral. Não é o hit, mas não deixa de ser outra composição com grande força melódica. As próximas composições “Weit Weg” e “Tatto” não impressionam tanto como as predecessoras, talvez devido ao fato das anteriores terem elevado a liricidade do álbum a níveis exorbitantes, oferecendo então a essas duas faixas um sentimento de “ponte” que liga o sucesso das anteriores ao da última: Isso porque esta também é uma composição ímpar. “Hallomann” encerra o álbum buscando fundar-se através da fantasia, o que resulta num coral, sintetizadores e num timbre de guitarra quase oníricos, entrelaçados por uma letra ferina inspirada no desfortúnio de Ofélia, personagem de Hamlet, de Shakespeare. Fecha o álbum com grande qualidade estética, a ponto de deixarmos de lado as faixas “pontes” e contemplarmos a volta de um Rammstein veraz e revisitado; que se põe altamente polêmico e que tenta inovar, como de costume; costume esse que é escancarado, e expõe a banda revigorada aos fãs, compensando o hiato de dez anos.
Rammstein por Rammstein está disponível em diversos streamings de música, incluindo Spotify, Deezer e Google Play.
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