Robert Frank | Os americanos +Os livros e Os filmes

Gil Carvalho
Araetá
Published in
4 min readNov 14, 2017

por Gildevan Carvalho Freitas

A exposição Os americanos +os livros e os filmes, de Robert Frank, permite uma verdadeira imersão a fotografia de rua. Fiquei impactado diante da grandeza, tanto quantitativa quanto qualitativa da produção do fotógrafo. Frank é considerado o pai da fotografia de rua, pois muitas de suas imagens foram tiradas no calor do momento, a partir da janela de um carro em movimento, sentado em um bar, nas instalações de uma fábrica, ou escondido atrás das árvores de um parque. Ele sacrificava a técnica, mas jamais perdia um momento que julgava digno de ser “capturado”.

Trolly — New Orleans, 1955. From The Americans 180 x 250 cm © Robert Frank

O artista é compulsivo e de forte caráter autoral, em uma viagem de apenas nove meses produziu cerca de 28 mil fotografias.“Eu tinha que ser muito rápido quando fotografava pessoas”, disse ele, relembrando como tirava as fotos em sua aventura pela América nos anos 1950.

Enterro, Santa Helena, Carolina do sul, 1955, Gelatina e prata 15 x 20 cm, Européenne de la Photographie de Paris

Das 28 mil fotos estão contidas na exposição 83 originais do autor que pertecem atualmente a coleção da Maison Européenne de la Photographie de Paris, essas fotografias expõem uma densa representação dos Estados Unidos e de seus habitantes na década de 50. Esse projeto lhe rendeu um primeiro livro, que foi publicado na França em 1958, sob o título Les Américains. Um ano depois com a introdução do escritor Jack Kerouac o livro foi publicado nos EUA com o título The Americans. Sobre Frank, Kerouac escreveu:

“Por romper com o predomínio da técnica sobre a intuição e a expressão pessoal, tornou-se um marco divisor da fotografia no século XX, inaugurando uma fotografia de rua (street photography) livre de retórica e narrativa estruturadas, numa ode poética e triste ao país”.

Charleston, Carolina do sul, 1955, Gelatina e prata 15 x 20 cm, Européenne de la Photographie de Paris

Com a publicação de Os americanos sua obra foi se tornando referência para várias gerações de criadores, convertendo-o em nome central da fotografia e do cinema contemporâneos. Incontornável, mas igualmente inquieto inclusive com a fama que foi construída em volta de sua figura e da sua obra. Nutrido por um anseio constante de expressão pessoal e exploração sem limites da linguagem visual, Frank sempre fugiu a toda exaltação e deificação e segue sendo, aos 92 anos a figura agitada e inspiradora que é desde o inicio de sua carreira.

As demais fotografias contidas na exposição, estão apresentadas da forma mais simples possível: as imagens foram impressas em folhas de papel jornal, e penduradas direto na parede. Além das fotografias, são exibidos os filmes de Frank, que são frequentemente ofuscados por seu trabalho na fotografia. Quando a exposição terminar as imagens serão completamente destruídas. Esse conceito de exposição agradou muito ao Frank, quando chegou a ele a proposta em sua residencia na vila canadense de Mabou, ele reagiu dizendo “É barato, rápido e sujo, é assim, que eu gosto! ”.

Para Gerhard Steidl, editor de Frank, as fotografias não deveriam estar em ampliações em gelatina de prata, com seguros de milhões de dólares e emolduradas por toda eternidade. Mas sim em uma espécie de papel-jornal que nos avisa, todos os dias o que está acontecendo no mundo, um papel em que os noticiários são impressos dia após dia.

Gil por Rafayane Carvalho

Na exposição as obras estão divididas em dois grandes espaços, o primeiro está separado por alguns murais de papel que fragmentam o ambiente em subespaços, logo no início estão distribuídos mini projetores transmitindo simultaneamente os filmes do artista, os demais espaços neste lado da exposição estão preenchidos por fotografias impressas em papel simples e livros com fotografias do artista. O outro ambiente está dedicado exclusivamente para as 83 fotos originais emolduradas, pertencentes a coleção da Maison Européenne de la Photographie de Paris.

Como a exposição contém milhares de fotografias, uma visita contemplativa exigirá um investimento de algumas horas, porém tendo em vista a sensibilidade e o extraordinário talento do artista, esse um daqueles raros casos onde se pode dizer que a quantidade é qualidade.

Serviço de exposição:

Onde: IMS Instituto Moreira Salles

Quanto: Grátis

Até quando: 30 de Dezembro

Horários: Terça a domingo, das 10h às 20h, quinta das 10h às 22h

Contato: (11) 2842–9120 — imspaulista@ims.com.brx

Link relacionado: https://ims.com.br/exposicao/robert-frank-os-americanos-e-os-livros-e-os-filmes/

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