Savage X Fenty Show — vol. 2

Esqueça o pudor em casa e vamos assistir ao show

Carolina David
Araetá
5 min readNov 24, 2020

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Elenco de Savage X Fenty Show Vol.2 reunido.

Por Carolina Fernandes David

Em mais uma apresentação ousada, a marca Savage X Fenty, desenvolvedora de peças underwear assinadas pela própria Rihanna, oferece um espetáculo que pode ser, como descrito no título, um verdadeiro show. A combinação de show de música, dança, filme e desfile (e tudo isso sem deixar de lado a exploração e a quebra dos tabus do mundo da moda) resultou em um verdadeiro fenômeno na internet. O evento contou com um extenso cast de celebridades convidadas, tais como as cantoras Lizzo, Normani e Rosalía, as modelos Bella Hadid e Cara Delevigne, as atrizes Demi Moore e Laura Harrier, as drag queens Shea Couleé, Gigi Goode e Jaida Essence Hall, Paris Hilton, o cantor Bad Bunny e a própria Rihanna. E estes são apenas alguns dos nomes que compõe o poderoso elenco.

Cantora Normani caracterizada como a (não tão) tradicional noiva.

Para aqueles que não estão familiarizados com o mundo da moda, alguns detalhes podem passar despercebidos — incluindo a constante desconstrução dos padrões presentes neste mercado. Após quinze minutos de desfile temos a presença da cantora Normani, caracterizada como uma noiva — extremamente sensual, o que é esperado em um desfile de lingerie. A noiva, figura que tradicionalmente fecha os desfiles da alta-costura, é logo ressignificada: não apenas a sensualidade eminente em uma figura tradicionalmente associada à pureza, mas também a inversão de fatores, quando a noiva abre o caminho para todo o show que virá, invertendo o simbolismo.

Cantora Lizzo durante perfomance.

A própria sensualidade é desconstruída durante as inserções do backstage (inserções responsáveis por introduzir ao espectador a visão criativa por detrás da produção): o elemento mais óbvio e esperado em um evento como este é repensado. Não se trata da sexualidade pela sexualidade, mas da sensualidade e da sexualidade como um processo de aceitação e empoderamento, um olhar para os próprios desejos, um olhar interno que reflete no exterior. Usar, vestir a própria sexualidade, não ser usada por ela. Esse processo de autoaceitação é representado pela performance da cantora Lizzo, em frente à um espelho.

Outra quebra de padrões é representada por Demi Moore, que sustenta o poder deste desfile aos seus 56 anos. No mundo da moda, a idade é, muitas vezes, abominada e rejeitada. Em um desfile de roupa íntima? Impensável. Até mesmo para uma figura icônica e sensual como a atriz. Mas não impossível, como nos foi mostrado.

A pressão estética também foi comentada: uma coreografia angustiante de uma modelo perante um espelho que distorce sua imagem.

Já que estamos comentando a quebra de padrões, nada mais justo que enfatizar a celebração dos diferentes corpos, em todas as suas formas, cores e formatos. Inclusive corpos masculinos — uma novidade para a marca. Não há separação entre o magro e o plus size, entre etnias, entre idades. Pode até não parecer grande coisa, mas em um nicho que até pouco era dominado pela Victoria’s Secret, com desfiles lindos, mas extremamente padronizados e rígidos quanto aos padrões de beleza apresentados, o que assistimos é uma verdadeira revolução.

Cast do Victoria’s Secret Fashion Show 2017. A diferença entre elencos é notável.

Em um dos blocos, onde há a representação de um processo produtivo, é interessante a cena em que apenas homens utilizam as máquinas de costura, afinal, é uma função comumente associada às mulheres. Detalhe inteligente, e o fato de algo tão simples chamar a atenção demostra o quanto certos padrões nos são naturais.

Em termos de fotografia e beleza, nada a criticar. As cores são muito bem coordenadas, tanto nas roupas como nas luzes e cenário. A maquiagem e os cabelos são teatrais, artísticos e bem montados. Coreografias sincronizadas e executadas com perfeição. As roupas — destaque desta produção — seguem as propostas da marca e são de qualidade ímpar.

Detalhes do styling e maquiagem artística.

Mas nem tudo são flores: a trilha sonora foi o “calcanhar de Aquiles” da produção. Não sou grande fã de todas as músicas utilizadas, mas isso é uma opinião pessoal. O grande problema foi a utilização da música “Doom” de Cocou Chloe, que utilizou trechos de um baile funk nos vocais do remix. Nem a cantora nem a produção incomodaram-se em checar o conteúdo da música cujos trechos foram extraídos, resultando no uso pejorativo de trechos do Hádice, cujos versos do profeta Maomé são sagrados para o islã, o que gerou revolta das comunidades muçulmanas. Tanto Rihanna como Cocou Chloe se desculparam publicamente e assumiram a responsabilidade de não terem verificado o real significado dos trechos da canção. É um pouco decepcionante que um evento tão inclusivo tenha sido maculado dessa maneira pela falta de atenção — ainda mais quando todos os outros detalhes da produção são impecáveis.

A versão oficial atualmente disponível no Amazon Prime foi editada e a música foi substituída. “Doom” foi retirado da maioria das plataformas de streaming, inclusive da playlist oficial do desfile.

Creio que, salvo este terrível e grave ponto, o show é um ótimo espetáculo para os amantes da moda. A atenção devota da mídia, a meu ver, foi justificada. A marca manteve sua coerência e evolução desde seu último desfile e Rihanna, mais uma vez, ascende no mundo da alta moda como uma mente criativa e grande influenciadora.

Caso você, que está lendo, queira conferir a produção, ela foi lançada no Amazon Prime Video no dia 2 de outubro de 2020 (sim, em plena semana de moda de Paris!) e está disponível por prazo indeterminado. Caso você ainda não tenha o Prime Video, pode assiná-lo gratuitamente por 30 dias e, após esse período, a cobrança mensal é de R$9,90.

VÁ LÁ!

Onde? Amazon Prime Video.

Quanto? R$ 9,90 a assinatura mensal.

Quando? O show ficará disponível por tempo indeterminado.

Saiba Mais: Para assistir ao trailer acesse o link:

Autora desse texto e suas experiências de edição.

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Carolina David
Araetá
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