Sex Education
por Marcella Didier F. S.
Sex Education é uma série britânica de comédia/drama, criada por Laurie Nunn. A trama da série gira em torno de Otis Milburn, estrelado por Asa Butterfield, seus amigos, colegas, e sua mãe, Jean Milburn (vivida por Gillian Anderson), e trata de assuntos como família, relacionamentos, drogas e, principalmente, sexualidade. Se assemelha em tema e tom com as séries britânicas Skins e My Mad Fat Diary, que tratam de temas adolescentes com prioridade e profundidade.
Otis é um adolescente inexperiente, virgem e um tanto reservado, filho de terapeutas sexuais famosos na área. Sua mãe, Jean, ficou responsável por criar seu filho depois de uma separação turbulenta, e o fez em meio a imagens , esculturas e conversas de caráter extremamente íntimos e sexuais, o que levou Otis a se tornar uma espécie de “expert” no tema. Ele e seu melhor amigo Eric Effiong (Ncuti Gatwa), cuja homossexualidade é explicitada desde o primeiro episódio, são o estereótipo de nerds excluídos do ensino médio, sendo ignorados por todos e com vida social quase inexistente. Esse status muda a partir do momento em que alguns personagens passam a fazer parte de suas vidas.
Depois de uma confusão com o filho do diretor, o popular e delinquente Adam Groff (Connor Swindells), Otis acaba ajudando-o, através de uma consulta no banheiro, com um problema fálico de origem psicológica. Junto a sua nova parceira de laboratório, Maeve Willey (Emma Mackey), que presencia a “sessão de terapia”, abrem uma “Clínica Sexual” improvisada, pela qual ganham dinheiro e ajudam os adolescentes de seu colégio que, ao longo da série, discutem suas frustrações, experiências e seus medos mais íntimos (no sentido literal da palavra), à medida que exploram suas próprias sexualidades.
O primeiro episódio mostra as relações entre os alunos do colégio de maneira bem caricata e simples, o que deixa a série ainda mais divertida quando, ao longo dos episódios, esses personagens são desconstruídos e explicados de maneiras distintas e emocionantes.
Essas características fazem de Sex Education uma série que, apesar de bem humorada, trata de temas essenciais e sérios para jovens e adolescentes na fase de experimentação de suas sexualidades e sentimentos. São explorados de maneira inteligente temas que variam desde o físico (como impotência, preservação, níveis de intimidade) a discussões psicológicas (como traumas, tipos diferentes de sexualidades e relacionamentos).
Um exemplo disso é Otis que, por conta de um trauma do passado relacionado a sua família, tem muita dificuldade em lidar com seu próprio corpo e sexualidade, além de influenciar sua relação com sua mãe. Maeve, por outro lado, lida com a fama de ser uma mulher promíscua, devido a um rumor que começou quando ainda era nova e comprometeu sua imagem nos anos que se seguiram. O melhor amigo de Otis, Eric Effiong (Ncuti Gatwa), já expressa com facilidade sua sexualidade, mas tem que lidar com homofobia e a dificuldade de aceitação da família para com seus gostos estéticos e pessoais.
Acompanhamos, então, o crescimento da “clínica” ao longo dos episódios, conhecendo personagens diversificados e, em minha opinião, bem elaborados. Uma premissa que, a primeira vista, acaba sendo interpretada superficialmente como apenas sobre sexo e drogas, é, na verdade, explorada de uma maneira madura, educativa e, principalmente, emocionante; As relações de família na série são, sem dúvida, minhas partes favoritas.
Os parentes e adultos são presentes e humanizados (diferente de muitas séries para adolescentes), tornando as relações dos estudantes com seus pais e irmãos complexas e fieis à realidade de muitos, tratadas com importância na narrativa. A representação de personagens femininos e LGBTQ+ é boa e abrangente, discutindo de maneira respeitável as diferentes formas de ser.
Sex Education consegue fazer o que algumas séries adolescentes contemporâneas (como Riverdale e Os 13 Porquês) não conseguem fazer tão bem quanto ela: através de personagens diversificados, divertidos, e, acima de tudo, humanos, os dramas adolescentes de sexualidade, relacionamentos e identidade se interligam e relacionam de maneira madura e verossímil. Através de uma escrita inteligente, a trama explicita a dualidade do ser e as complicações que os adolescentes lidam com em dose diária, explorando diferentes faces de um só personagem e as maneiras pelas quais lidam com o mundo. É uma ótima programação para quem tem curiosidade sobre o tema e não tem restrições com demonstrações explícitas de sexualidade.
Ps.: A relação de amizade entre Otis e Eric é a melhor e mais bonita de assistir.
A série, laçada em 11 de Janeiro de 2019, foi produzida e está disponível na Netflix. Vale a pena dar uma olhada no universo cativante e explícito dos adolescentes de Sex Education, que já tem a confirmação de uma segunda temporada a vir.
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