“Shadow of the Colossus”: uma aventura agridoce
Mergulhamos na escuridão do céu noturno, esta que é abruptamente cortada pelo voo de um falcão, a ave atravessa o que parece ser uma trilha em meio as montanhas e logo passa por um garoto de vestes tribais cavalgando uma égua. Passados alguns minutos acompanhando o garoto em sua jornada por diversas paisagens a atmosfera de mistério e aventura se estabelece.
Percebe-se então a presença de um terceiro elemento acompanhando o viajante e sua montaria, alguma coisa pesada coberta em mantos é retirada das costas da égua e logo é estendida pelo jovem no que parece ser um altar. O corpo sem vida de uma garota que aparenta a mesma idade do rapaz que a carregava é revelado, e assim inicia-se o que por muitos é considerado um dos melhores jogos virtuais das últimas duas décadas.
Shadow of the Colossus, também conhecido pelo seu título original “Wander to kyozou” no japonês, um jogo de ação e aventura desenvolvido pelo “SCE Japan Studio” e pelo “Team Ico” como uma espécie de sucessor espiritual para o jogo “Ico”(2002). Apesar de ter sido publicado originalmente no PS2 em 2005, o jogo foi posteriormente adaptado para as plataformas do PS3 e PS4 sem alterações comprometedoras à experiência do jogador tornando-o acessível à qualquer um que tenha alguma das três plataformas, com preços variando de R$ 11 à R$ 65 dependendo da versão escolhida.
O enredo do jogo gira em torno de Wander, um adolescente que aparenta ser o fugitivo de algum tipo de sociedade tribal, e sua égua Agro guiados por um espírito misterioso a matar dezesseis lendárias criaturas conhecidas como os Colossi, seres misteriosos que parecem ter alguma ligação com a entidade por trás da missão. Em troca de matar as dezesseis criaturas o espírito oferece ao garoto trazer vida de volta à Mono, uma garota morta que Wander aparentemente tinha algum tipo de relação anteriormente ao início da narrativa principal.
O jogador, controlando Wander e seguindo as instruções a ele passadas pelo misterioso espírito, deve então explorar o desconhecido, encontrar e abater os dezesseis Colossi, cada um tendo suas próprias fraquezas, comportamentos e tamanho. Para os jogos da época, a complexidade de padrões de comportamento da cada Colossi era algo muito inovador, além de adicionar em muito na imersão da experiência em conjunto com os gráficos que eram extremamente avançados para o PS2.
O principal desafio do jogo é descobrir como lidar com cada um dos Colossi uma vez que seus pontos fracos e ataques únicos são desconhecidos ao jogador, deixando com que cada batalha seja única e deixe uma forte impressão no jogador. No entanto a dificuldade do jogo nunca se torna excessiva, uma vez que a experiência de cada tentativa torna o jogador mais propenso a derrotar os Colossi descobrindo seus padrões e fraquezas, e nunca é cobrado demais do tempo de reação do jogador.
Outro aspecto que merece ser reconhecido como um elemento de destaque da obra é a esplêndida trilha sonora composta Kō Ōtani, que estabelece tanto os momentos de descobrimento e mistério das sessões de exploração no jogo, quanto o suspense, a grandiosidade e a empolgação dos momentos de combate contra as criaturas lendárias. Além disso, ao contrário da maioria dos jogos onde a trilha toca conforme o avanço de estágios fixos na programação, a trilha em Shadow of the Colossus é programada para variar de acordo com as ações do jogador na luta contra os Colossi, sincronizado de maneira incrivelmente efetiva com o fluxo do combate.
A direção de arte do jogo chama grande atenção também, o design de cada Colossi é marcante de um jeito particular e os templos, campos, montanhas e florestas explorados possuem um bom nível de detalhes e uma estética que auxilia na imersão do jogador nesse ambiente místico no qual o jogo se passa.
Apesar dos aspectos anteriormente citados serem fortes motivos para a influência que o jogo tem na cultura dos games, o grande trunfo dessa obra se encontra naquilo que não é evidente. Conforme o jogo avança uma semente é plantada na percepção do jogador sobre a obra, as mortes dos Colossi cada vez mais começam a deixar de parecer algo com uma simples consequência de uma batalha do bem contra o mal, e a pureza da missão de Wander vai se tornando cada vez mais defasada e uma aura sinistra se instaura sobre o jogo. Não convém adentrar muito na história em razão de evitar spoilers, mas de certa forma, o jogo subverte a ideia maniqueísta clássica dos jogos tradicionais de derrotar grandes monstros e salvar uma donzela em apuros, e mergulha em um tom contemplativo e relativista, tirando o jogador do conforto normalmente trazido por jogos de aventura.
Em conclusão, Shadow of the Colossus é uma obra fundamental para qualquer um que queira adentrar no mundo dos games em sua dimensão mais artística, ou para aqueles apenas interessados em uma experiência imersiva e contemplativa.
Onde? O jogo está disponível para compra digitalmente na Playstation Store, além de em mídia física em quase qualquer loja de games especializada. Tendo como plataformas compatíveis o PS2, PS3 e o PS4.
Quanto? O preço do jogo oscila dependendo da versão escolhida, podendo ir desde os R$11 para o PS2, até os R$ 65 para o PS4.
Quando? Qualquer momento vago que tenha em seu dia-a-dia, tendo em vista que o jogo não foi feito para ser finalizado de uma vez só.