Street Art — Tinta também fala
Por Rebeca Gebrin
O grafite tem por essência a expressão máxima da sociedade e do ser cidadão, não por pintar formas ou rostos coloridos, mas por ser uma arte livre, sem qualquer padrão estético.
“É uma arte que não precisa de tela nem de clima, só um muro da cidade”. Tem fala e vida própria. Representa muito mais que pigmentos grudados na parede; é um manifesto, uma expressão, um grito da própria sociedade. Falar de arte urbana é falar de poesia, um conjunto de detalhes carregados de crítica e de sensibilidade, um apontamento social.
É o dizer sem palavras, o pedir sem gestos, estar ali gritando socorro.
A arte de rua é muita das vezes desprezada por não ser pintada em uma tela, não ter um estilo específico e não seguir determinadas estruturas de luz, traço e cor. Porém, além de trazer um ar de modernidade para os prédios e muros das ruas, traz consigo toda a magia da arte em si, sua verdadeira essência de expressão. Toda a delicadeza e a harmonia das formas entrelaçando-se entre si, como uma dança de sutileza e sintonia.
Estamos acostumados a ter padrões, desfechos, e quando isso não acontece surge inconscientemente um sentimento de incompletude, como se algo estivesse faltando. Isto decorre porque somos ensinados desde pequenos que tudo deve ser feito seguindo determinadas regras, baseados em outros modelos clássicos definidos pela história. E tudo diferente disto, diferente deste modelo, é estranho.
Qualquer ataque ao sistema, seja ele do âmbito artístico ou do âmbito social, fala diretamente com o ego particular de todo e qualquer ser que partilha da mesma realidade comum. E por sentir-se ofendido critica o movimento e não a essência que a imagem reproduzida procura provocar nos seus espectadores.
É a consciência ofendida que contamina a visão daquele que a vê.
Esta arte deve ser vista como a forma máxima de expressão de liberdade, linda por si só, sem apoio em qualquer traço ou linha pré-estabelecida. É por meio dela que é possível ver não somente uma crítica assídua, mas a alma e a personalidade do artista transpassada por meio de cor e vibrações combinadas a bel prazer. É isto o que a torna única, livre e magnífica.