TEMPO PRESENTE
Vitor Matos Euzebio (Vitor Euzebio) — 41620226
As obras apresentadas na exposição “Tempo Presente” são todas interativas e trazem, cada uma, a sua própria maneira de aproximar o público, lhe proporcionando experiências que possibilitam a sensibilidade do tempo e do espaço, explorando, interagindo e participando livremente da exposição.
Sete artistas foram escolhidos para apresentar suas obras, dentre eles: Tomie Ohtake, Gisela Motta, Leandro Lima, Laura Vinci, Nazareno, Raquel Kogan e Laura Belém. A mostra apresenta um convite a se abrir e a vivenciar uma condição de troca que só é possível nesse espaço e nesse tempo.
Antes mesmo de adentrar neste universo artístico, já podemos ver alguns dos grandes arcos brancos criados por Tomie Ohtake, que apresentam uma forma curiosa e instigante. A interação do público se dá a partir da força que as pessoas devem exercer neles, que passam a balançar de um lado para o outro. O curioso é que esses arcos nunca tombam e, uma vez que são empurrados, transmitem a sensação de que se movem sozinhos e que continuarão no mesmo ritmo infinitamente.
Já dentro da exposição, há mais um arco feito por Tomie Ohtake e, ao seu lado, encontramos a obra “Espera”, de Gisela Motta e Leandro Lima: um projetor apontando para dois curiosos bancos de praça brancos, onde mesmo não tendo ninguém sentado, é possível ver a sombra de um homem e de uma mulher sentados, sempre individualmente, que parecem estar procurando por seus parceiros, mostrando os muitos desencontros presentes em nossas vidas. Essas sombras configuram memórias de alguns desses momentos, ao mesmo tempo em que compartilham o espaço com o público que se senta nesses bancos para observar essa história contada pelas personagens (sombras).
Subindo a rampa de acesso para o primeiro andar, nos deparamos com a obra “Morro mundo_fragmento”, de Laura Vinci: uma neblina que, como uma névoa, ora se dissipa e ora se adensa, nos fornecendo uma transição sensorial entre os andares do edifício. Essa fumaça que preenche o ambiente embaça nossa visão e sinaliza uma relação pulsante com o entorno: pela grande fachada envidraçada, a cidade oculta se revela.
Ao chegar ao primeiro andar, uma grande obra preenche o vazio do espaço: “rede social”, do coletivo OPAVIVARÁ!. Várias redes de diferentes cores, que seguem o mesmo padrão do arco-iris, se unem em apenas uma única rede, convidativa, gigantesca e coletiva, que espera que o público interaja e partilhe um espaço em que a luz reforça a sensação de conforto proporcionada por uma varanda. Ao balançar, o som das tampinhas de garrafa (que ao se baterem tornam-se chocalhos) lembra o som de água. Parece realmente que se está perto de algum ambiente liquefeito. Quanto mais você se balança, mais forte fica o som da água. Você controla a intensidade que deseja. Quase uma ironia, a rede física de tecido atrai e interliga de fato as pessoas que atualmente estão cada vez mais conectadas apenas pelas redes sociais.
Seguindo o percurso da exposição, vamos parar no subsolo do prédio. Chocamo-nos quando descobrimos a crítica feita por Nazareno, em sua série “Sobre tesouros e outros domínios”. Os quatro quadros criados sobre superfícies polidas de cobre, refletem a imagem do espectador. Além da reflexão do espectador, há também a reflexão de ideias geradas ao entender a análise que o artista faz a respeito das atuais selfies e o mito de Narciso. O visitante se percebe refletido na superfície metálica, quando se vê refletido no cobre. Esse reflexo aguça os sentidos do espectador e ativa a consciência de sua presença tanto na realidade quanto na representação.
Um pouco mais adiante, na sequência, Raquel Kogan apresenta uma gigante caixa repleta de pó branco de mármore que toma conta do chão. A obra tem como título “vol.ver”. Antes de adentrar o território, é preciso escolher o par de sapatos que será utilizado. Cada pé possui uma palavra específica, em auto-relevo, para que o visitante deixe seu rastro no pó. Encontramos palavras como: vida, feliz, fugir, sofrer, retorno, lugar, lembrança e diversas outras. A cada passo, as solas imprimem textos nesse solo instável, formando frases infinitas, imprevisíveis e espontâneas.
Para finalizar a exposição, a obra “O Jardim secreto” da artista Laura Belém, fornece uma experiência sensorial completa que levanta questões sobre uma superfície de cascalho, enquanto as mãos tateiam e abrem caminho pela selva de fitas de tecido que descem do teto, e vozes sussurram trechos, como: “cada animal, cada árvore, cada fiapo de capim deveria ser radicalmente diferente”, “já vai tempo que não adoramos mais o sol e que deixamos de associar os pontos cardiais a qualidades mágicas, cores e virtudes”, “os perfumes dos trópicos e o frescor das criaturas estão viciados por uma fermentação de pavios suspeitos” e “a vida na selva oferece um estranho contraste”. Pensamentos nos são induzidos enquanto andamos nessa paisagem, criando uma travessia que confronta expectativas e realidade. Paramos para pensar e sentir aquilo que não vivemos no dia a dia. Ao fechar os olhos, é como se você estivesse numa paz muito grande, em conjunto com a natureza, mesmo sendo uma paisagem montada.
Antes de adentrar nessa última obra, me chamou a atenção o logo da FAAP, que estava presente em uma plaquinha ao lado da porta que levava ao cenário de floresta. Curioso, fui lê-la e descobri que a obra de Laura Belém conta com o apoio da residência Artística FAAP, que ajuda e incentiva artistas no desenvolvimento de seus projetos, criado em 2016 e tendo já ajudado mais de 300 artistas não só brasileiros, mas do mundo inteiro.
A exposição “Tempo Presente” foi uma das melhores exposições que eu tive a oportunidade de visitar. Normalmente não sou muito chegado a frequentar lugares que colocam obras de artistas plásticos à mostra, mas, por ser interativa, acredito que me cativou. A curiosidade, reflexão e diversão presentes nas obras foram muito interessantes, e acredito que essa interatividade ajuda a fazer com que as experiências sejam mais intensas. É um lugar muito gostoso de se estar, a ponto de querer levar amigos e familiares para conhecer a exposição e também vivenciar aquilo que os artistas nos proporcionam.
“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente/O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas” — “Mãos Dadas”, Carlos Drummond de Andrade.
Onde: Espaço Cultural Porto Seguro (Alameda Barão de Piracicaba, 610 — Campos Elíseos, São Paulo — SP, 01216–012)
Quanto: Exposição gratuita
Quando: Terça a sábado: 10h às 19h, domingos e feriados: 10h às 17h
- Última entrada até 30 minutos antes do encerramento
Até quando: 17/12/2017
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