‘THE BAD GUYS’

Uma simples, mas impactante mudança no padrão das animações

Joaojovinianobc
Araetá
7 min readMay 19, 2022

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por João Joviniano Bellazzi de Carvalho

O filme The Bad Guys, é uma nova entrada no catálogo de filmes animados da Dreamworks e conta a história de um grupo de bandidos com o mesmo nome da obra, composto por animais antropomórficos como o Sr. Lobo, o Sr. Cobra, o Sr. Tubarão, o Sr. Piranha e a Sra. Tarântula. Esses bandidos são, atualmente, os mais famosos em seu ramo na cidade onde vivem, mas quando um assalto dá errado, eles decidem fingir serem bonzinhos para fugirem de suas punições penais, no entanto, para o choque de todos no grupo, o Sr. Lobo começa a desenvolver um verdadeiro gosto por fazer o bem o que acaba atrapalhando o seu plano original e colocando-o contra o seu time.

A ideia de usar um grupo de animais temidos pela sociedade como protagonistas é bem interessante, principalmente visto que a maioria dos animais selecionados não são nenhuma ameaça tão grande para humanos, tendo boa parte do medo sobre eles construído em cima de filmes e histórias fictícias. O filme usa essa característica para mostrar o preconceito que todos do grupo sofrem desde o inicio de suas vidas só por serem o que eles são, deixando bem claro desde o início que os membros da gangue, ao perceberem que a sociedade não daria nenhuma chance a eles, se viraram para se aproximar cada vez mais do que a mesma via deles.

No entanto, durante o filme, de uma maneira muito mais direta e rápida do que o Sr. Lobo, os outros membros da grupo de bandidos percebem que também estão gostando de fazer a coisa certa, mesmo que não sejam tão bons nisso, e o filme representa isso com o “abanar da cauda” o que é algo bem cômico, pois por mais que funcione para personagens baseados em mamíferos, o mesmo não se aplica para outros como o Tubarão e o Piranha que em sua transformação antropomórfica perderam suas caudas de peixe, forçando os roteiristas a acharem uma maneira bem boba (mas engraçada) de representar a “abanada de cauda”. Além disso, a comédia está também presente na caracterização de cada personagem, seja afirmando que um tubarão branco é o mestre dos disfarces ou colocando um pequeno porquinho da índia como um vilão extremamente mal.

A premissa do filme não é nada demais, afinal até mesmo a própria Dreamworks já fez um filme de majoritária comédia onde o protagonista, um vilão, percebe que prefere fazer o bem do que o mal em seu filme de 2010 “Megamente”. A Dreamworks se construiu a partir de filmes no gênero de comédia e paródia com “Sherek” de 2001 e diversos outros que montam o seu catálogo, mas o que diferencia este de tantos outros, é o seu estilo de animação e o fato de ser baseado em uma obra já existente.

A obra é baseada em uma série de gibis (escritos por Aaron Blabey) onde, apesar de parecida, a história é ainda mais cômica e não levada a sério, sendo inclusive mais episódica em seus acontecimentos. O filme pega a premissa da comic original, de um grupo de animais temidos pelo mundo inteiro, tentando fazer o bem, quando só fizeram o mal a vida inteira, e a expande, já que seria difícil produzir um filme puramente episódico.

No entanto, apesar da história em si não ser muito fiel aos livros, a obra cinematográfica tomou como inspiração um fator ainda mais importante da série de quadrinhos: o Tom. Ambas as versões da história dividem o mesmo humor bobo e simples para poder trazer esse universo maluco e divertido à vida. Nos dois pedaços de mídia, os únicos personagens que são animais antropomórficos sãos os personagens principais, o que poderia ser um problema se a história tentasse se levar a sério demais, mas ambas as obras abraçam o seu lado simplório e usa desse, a princípio erro no roteiro, para destacar mais os seus personagens e para fortalecer ainda mais o fator cômico.

Primeiro volume dos quadrinhos

A obra original de Aaron, no entanto, tem um traço e estilo muito único, algo que seria muito difícil de se animar, principalmente com o atual descaso e descarto de animações 2D que tem perdido o espaço no mercado há anos. Logo, para conseguir utilizar do estilo cartoonizado da comic, os criadores do filme decidiram usar de uma mistura de 3D e um pouquinho de 2D para criar personagens extremamente caricaturados e que se mexem com extrema fluidez e movimento semelhante aos cartoons antigos como os dos “Looney Tunes”. Essa decisão, abertamente inspirada na animação de imenso sucesso que foi “Spider-man: Into the Spiderverse”, com certeza valeu a pena, visto que não só a animação ficou muito bonita e fluida, como fez com que, assim como a obra em que se inspirou, esse filme se destacasse dentre a enxurrada de filmes de animação hoje em dia, além de trazer a sensação de que você está assistindo um gibi animado.

Uma das cenas iniciais do filme mostrando o grupo inteiro depois de roubar um banco.

Com a quase que completa substituição da animação 2D pela 3D por boa parte das grandes empresas de animação (Incluindo a Dreamworks), o avanço dos estilos de animação pareceu ser apenas focalizado em tornar tudo cada vez mais realista. Exemplos como a Disney e Pixar são os mais perceptíveis (sendo os seus últimos projetos Lucca e Turning Red pequenas exceções) em questão de tornar tudo mais e mais realista e extremamente detalhado, chegando inclusive a um novo patamar em 2020 com “Soul”. No entanto, apesar de que sim, é uma maravilha aos olhos ver até onde os estúdios conseguem transformar um designe de um desenho animado em algo realista e lindo, cada vez mais as animações que tentavam algo mais cartoonizado iam tendo menos relevância, assim, valendo mais a pena seguir o mesmo caminho de realismo.

Mas, muito disso mudou quando, “Spider-man: Into the Spiderverse” lançou, e com ele um novo caminho para as animações se abriu. A obra do herói da Marvel, além de ser bem realista, usava de uma técnica de animação nova, não só misturando o 2D com o 3D, como também utilizando de um estilo próprio com falta de frames, para criar uma estética completamente inovadora e lindíssima que, assim como the Bad Guys, lhe traz a sensação de estar vendo as páginas dos quadrinhos tomarem vida. Ao vencer o coração de fãs e críticos, levando junto o Oscar de melhor filme de animação, a obra do Herói da vizinhança provou que mais animações fora da rota de realismo poderiam ter sucesso, e com os lançamentos de the Bad Guys e do futuro Gato de Botas (que parece puxar ainda mais inspiração de Spiderverse) parece que a Dreamworks mergulhou de cabeça nessa oportunidade.

Todos os heróis do filme, mostrando como cada um é animado com um estilo diferente

No entanto, não é só de Spiderverse que the Bad Guys puxa inspiração. Sendo uma obra que satiriza e brinca com o gênero de histórias de assalto e roubo, o filme puxa muita inspiração de filmes como “Reservoir Dogs” e “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino e “Ocean Eleven” de Steven Soderbergh para formar os figurinos dos personagens e as cenas de assalto. Porém, apesar de ser em muitas partes uma caricatura de filmes desse tipo, the Bad Guys não deixa de ter certeza de que todas as suas cenas são extremamente engajantes assim como as das obras que puxa inspiração.

Sr. Lobo e Sr. Cobra, conversando enquanto se preparam para roubar um banco

Em conclusão, the Bad Guys é um filme muito simples e que provavelmente não vai mudar a sua vida, no entanto, é inegável que é uma experiencia extremamente divertida do início ao fim. Porém, o valor principal da obra é o que ele traz para o mercado de animações. Assim, como “Spider-man: Into the Spiderverse”, esse filme decidiu priorizar estilização do que realismo e detalhismo, indo contra a onda constante dos últimos anos e provando mais uma vez que produções com essa estilização podem ser um novo caminho para animações futuras trilharem. E com o novo filme do Gato de Botas vindo, o futuro das animações parece se tornar ainda mais empolgante.

Onde: Cinemas por todo o mundo, e, com a saída do catálogo do cinema, essa obra pode ser assistida em vários serviços de streaming como a amazon prime vídeo e sites onde você pode alugar ou comprar o filme, como o youtube.

Cartaz do Filme nos cinemas

Quanto custa: O preço de um ingresso de cinema depende muito de em qual companhia você vai assistir o filme, mas com a saída do filme de cartazes ele tem se estabelecido em sites de streaming como a amazon prime vídeo que custa 9,90 reais por mês e na forma de locação em sites como o Youtube, onde está custando 39,90 reais (apesar de que, como o filme é recente, até na amazon ele ainda está pra alugar pelo mesmo preço do youtube).

Quando posso ver: Graças ao streaming, a qualquer momento que você estiver disposto a gastar seu dinheiro para alugar o filme. Futuramente, o filme deixará de ter um pagamento a mais e fará parte dos pacotes dos sites como a amazon prime vídeo

Saiba mais:

Primeiros 6 minutos do filme, extremamente animados

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Published in Araetá

Críticas de Arte produzidas pelos alunos de Estética, disciplina da professora Edilamar Galvão ministrada no 3º Semestre dos cursos de Cinema, Cinema de Animação, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV e Relações Públicas da FAAP.