‘The Bear’

Em 8 episódios, a série conta o luto de Carmy, um jovem chefe premiado, que volta para Chicago, sua cidade natal, para cuidar do restaurante deixado pelo irmão.

Gabriel Bouza
Araetá
4 min readDec 6, 2022

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Por Gabriel Bouza de Souza

‘The Bear’ (2022), a cozinha apertada. (IMDb — Photo Gallery)

O primeiro episódio, animado e agressivo, apresenta a cozinha e briga pelo sistema, o controle. O “sistema” é quase uma tradução livre do luto que cada um vive, Carmy, o protagonista, muito bem interpretado por Jeremy Allen White, perdeu um irmão, e Richie (Ebon Moss-Bachrach), perdeu seu melhor amigo, os dois brigam pelas mudanças que Carmy pretende e deve fazer. Inicialmente, Carmy sabe muito pouco sobre aquele lugar, talvez tanto quanto nós, que acabamos de conhecer, o que é estranho, já que foi ele quem herdou, e não o primo; sabemos que o típico “dinner” vai mal, vai mal na grana, clientela, estrutura, equipe, vai mal em basicamente tudo que o faz um restaurante, e Carmy sabe disso. Richie não reconhece a crise, e acha que o melhor é deixar como está, — “The system, the Michael system”.

Do lado de Richie e do antigo sistema, temos Tina (Liza Colón-Zayas), Marcus (Lionel Boyce), Ebraheim (Edwin Lee Gibson), Gary (Corey Hendrix) e todos os outros funcionários, que já estavam lá antes de Carmy chegar. O jovem, tem um currículo pesado, já trabalho no melhor restaurante do mundo, e foi eleito como o melhor cozinheiro, o que faz dele alguém melhor daquele lugar, mas não é assim que Carmy se vê, isso contribuiu muito para como o público se relaciona com o personagem, Carmy tem todos os argumentos do mundo para ser arrogante, mas ele se mantém humilde, e única intenção dele é transformar aquele lugar. Com intenções parecidas, chega Sydney (Ayo Edebiri), uma chefe jovem e promissora mas com pouca experiência, formada em uma das melhores academias de gastronomia dos EUA, tenta conquistar seu espaço em uma cozinha desorganizada e violenta.

Sydney (Ayo Edebiri), “The Bear” (2022)

Syd definitivamente contribui para o clima explosivo da cozinha, ela, assim como Carmy, quer transformar o restaurante, trazer o que eles conhecem, da cozinha tradicional francesa, para uma lanchonete de cozinha rápida. Mas ela, também, acaba senda pega pelo fogo cruzado.

Assistindo pela primeira vez, parei na metade do terceiro episódio, não porque não tive tempo, mas porque não aguentei. Juntas, fotografia e montagem, traduzem de forma muito inteligente o clima e o humor entre as personagens, em sequências apertadas e aceleradas, você sente dentro daquela cozinha, o que pode ser cansativo e até claustrofóbico. Outro ponto muito importante é como os diretores Storer e Calo contam muitas histórias ao mesmo tempo, e histórias sempre diferentes, diferentes não pelos problemas, mas simplesmente porque as personagens são sempre diferentes, algo que é, definitivamente, muito difícil de colocar dentro de um texto.

Todas as coisas que me incomodavam nos primeiros episódios, quanto mais eu assistia, mais eu deixava de reparar nelas, o que é estranho, mas me fez entender completamente a intenção dos diretores. Isso me lembrou muito quando assisti “Jóias Brutas” (2019) dos diretores Josh Safdie e Bem Safdie, com Adam Sandler como protagonista; com diálogos extremamente apertados e rápidos, era como tentar acompanhar uma conversa no metrô, confuso. Na época, lembro de ficar extremamente incomodado com o longa, me sentia distante, como se aquele filme não fosse para mim, aquele não era o meu lugar.

Sydney (Ayo Edebiri) e Richie (Ebon Moss-Bachrach) discutindo, “The Bear” (2022)

Até o último episódio as coisas pareciam que não se resolveriam, a bomba ia explodir, mas, no maior episódio da temporada, sem perder o ritmo, cada conflito tem uma resolução apropriada e que, principalmente, não esquece de ninguém. Antes de começar a assistir, achei que seria uma série que me daria fome, nos primeiros episódios entendi que não era sobre a comida, mas sobre a cozinha e, principalmente, sobre quem faz a comida. Concluindo, assistindo essa série, tive vontade de comer, cozinhar, mas também, reconhecer a importância, de como você se relaciona com as pessoas a sua volta, seja no trabalho, ou em casa com a família, e principalmente, nos lugares que as duas coisas se misturam.

Lembrando, você encontra “The Bear” no Star+ (Brasil), a partir de R$32,90 por mês.

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