‘The House’

Três histórias unidas por uma mesma casa

Livia Nageishi

Published in

Araetá

4 min readMay 18, 2022

Por Lívia Fujita Nageishi

O longa-metragem The House é uma obra animada em stop-motion lançada no início de 2022 pelo Nexus Studios. Apesar de ser apresentado como um único episódio de 1 hora e 37 minutos de duração, a obra é divida em três capítulos que apresentam narrativas cômicas e inquietantes. Cada capítulo exibe personagens distintos em eras diferentes, porém, unidos por um mesmo elemento: a casa.

O primeiro capítulo apresenta uma família humilde composta por Raymond (pai), Penelope (mãe), Mable (filha) e Isobel (bebê) que vivem por volta de 1800. Após serem ridicularizados por sua situação financeira, Raymond encontra um arquiteto excêntrico que lhe oferece uma casa extravagante em troca de sua pequena moradia. Diante da proposta incomum, a família se muda para a mansão, onde se depara com um conjunto de eventos esquisitos. Durante toda sua estadia, a casa se apresenta em reforma e encontram-se trabalhadores sinistros que, mudos, olham fixamente os personagens. Em nenhum momento da história, a casa está sob o controle da família. Então, em uma narrativa misteriosa e perturbadora, os personagens se encontram envolvidos pela casa, o arquiteto e seus próprios desejos e vontades.

Mabel e Isobel em **The House**, Netflix

No segundo capítulo, a casa permanece, porém, o inquilino é outro: um rato. O tal protagonista não possui um nome, mas possui um objetivo bem claro, o de renovar a casa e lucrar com sua venda. O desenvolvedor tenta superar os diversos empecilhos em seu caminho, como, por exemplo, uma infestação de insetos. Entretanto, ao tentar vender o imóvel, apenas um casal se interessa. Esta dupla estranha de ratos decide se estabelecer na casa mesmo contra a vontade do protagonista.

No terceiro capítulo, a história gira em torno de Rosa, uma gata que tenta restaurar a casa em ruínas em meio a uma cidade engolida pelas enchentes. Todos os outros habitantes da cidade já se foram devido às enchentes, mas a jovem senhoria tenta resistir às mudanças mesmo que seus últimos residentes tentem convencê-la de que é inevitável.

O desenvolvedor em **The House**, Netflix

As três histórias apresentadas durante o longa-metragem The House foram escritas pelo mesmo autor: Enda Walsh. Entretanto, cada capítulo possui um diretor distinto, o que resulta em três narrativas com tons diferentes. Neste caso, talvez fosse mais interessante separar o longa de, aproximadamente, uma hora e meia em três episódios de trinta minutos. Apesar disto, a obra é muito intrigante.

O capítulo I se destaca pelo tom misterioso e um tanto sombrio. Os personagens possuem feições incômodas com seus olhos, narizes e bocas em escala reduzida, o que por vezes limita as expressões faciais dos personagens, contribuindo para o tom perturbador da história. A narrativa dialoga com as estruturas sociais, ao mostrar uma família humilde que, apesar de poderem morar na linda mansão, a todo momento é controlada pelo abastado arquiteto. Além disso, o episódio evidencia a ganância e materialismo de Raymond e Penelope, o que acaba por torná-los cada vez mais distantes e perturbadores com o decorrer da história.

Diferentemente do primeiro capítulo, o segundo e terceiro possuem animais como protagonistas. O rato, do capítulo II, também é um indivíduo ambicioso, tentando renovar e lucrar com a venda da casa. Neste caso, a história é um pouco mais ambígua a respeito de seus significados. Porém, apesar disto, nota-se o rato como uma personalidade instável, podendo até mesmo considerar a casa como uma extensão do próprio personagem, ou seja, elegante por fora, porém, cheio de problemas como, por exemplo, a infestação de insetos, por dentro. Já o capítulo III também apresenta um protagonista ambicioso. Em um futuro distópico, a gata Rosa deseja dinheiro, entretanto, a mesma não consegue perceber que, mesmo que o obtivesse, o dinheiro não teria utilidade, já que vivia em uma cidade engolida pelas enchentes. A teimosia da protagonista persiste durante a narrativa, trazendo um questionamento a respeito das mudanças e prioridades de Rosa.

Em sua totalidade, The House é uma obra aterrorizante que faz uso preciso da animação stop-motion, instigando diversas sensações no espectador e abrindo espaço para interpretações e reflexões a respeito das narrativas apresentadas.