‘Tick, Tick… Boom!’ um exercício de identificação

Jonathan Larson e sua capacidade de tornar o mundano em algo interessante, intenso e relacionável

Gui Saglietti
Araetá
4 min readMay 20, 2022

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Por João Guilherme Saglietti Queiroz

‘Tick, Tick… Boom!’ lançada em 10 de novembro de 2021, é uma adaptação da Netflix de uma peça de teatro autobiográfica sobre o processo frustrante de criar um musical, voltada a vida de Jonathan Larson, o autor do renomado musical da Broadway R.E.N.T.

Pôster do filme “Tick, Tick… Boom!”

Jonathan Larson enfrenta uma frustrante batalha de sua vida pessoal e profissional. A história começa com o compositor completando 30 anos, fato que é mostrado através da empolgante canção 30/90, onde ele fala sobre estar ficando velho e não ver sua vida chegando aonde ele imaginou que estaria, num geral a música introdutória conta a dificuldade de envelhecer e não se sentir cumprindo seus objetivos, dando assim a ideia que se precisa ter pra conhecer e acompanhar o resto da história.

A obra apresentada é facilmente identificável para os jovens atuais, que foram criados para sonhar alto e criar grandes objetivos para as suas vidas, o que é contraditório com a realidade onde grandes sonhos são geralmente quebrados pela realidade. Mas o filme também traz a esperança de que nunca é tarde demais para conseguir realizar os sonhos.

Uma mecânica interessante do filme pra mostrar pro espectador que ele se trata de uma peça de teatro é que o filme vai se dividindo entre a representação da vida real de Larson e a peça “Tick, Tick… Boom!”, indicando que tudo aquilo que ele passou foi reutilizado no futuro, inclusive a música que ele demorou pra completar na peça que não foi levada pra sempre.

Imagem de reprodução da peça no filme.

O autor do musical R.E.N.T. passou mais de 7 anos trabalhando em um único musical que nunca chegou a ser completamente produzido, (“Superbia”, uma adaptação musical da obra literária “1984” de George Orwell). O filme da Netflix tem como trama, a jornada angustiante do protagonista em busca de finalizar uma obra que está quase para acabar, faltando apenas uma única música de virada. Uma tarefa aparentemente simples aos olhos do público, é na realidade um trabalho árduo, já que Jonathan tem que conciliar sua vida adulta e seu relacionamento com uma dedicação a mais ao seu musical. Essa situação de desgaste é retratada na música Therapy, que mostra uma perspectiva de ambas as partes de um casal, no caso o seu, em que de um lado, um se sente negligenciado e abandonado e o outro se sente pressionado por ter que aliar sua vida profissional ao seu trabalho.

Imagem de reprodução do clipe de “Therapy”.

Um pouco antes do escritor conseguir completar a música, temos uma sequência musical chamada Swimming, que mostra o protagonista após um surto nervoso fazendo uma das únicas coisas que o trazia paz, que é praticar natação, a música é composta por uma sequência de pensamentos que surgem em sua cabeça enquanto ele extravasa suas angústias na piscina, até que subitamente a inspiração aparece. No filme esse impulso é representado pela forma que os azulejos estão dispostos na piscina, mas essa é uma metáfora para as diferentes formas que as ideias podem aparecer, que nesse caso aconteceu em meio a um colapso sentimental.

Uma curiosidade interessante dessa obra é como Larson reutilizou a música que estava sendo o problema para que “Superbia” ficasse completo no musical “Tick, Tick… Boom!”, só que dessa vez dando um significado completamente diferente. Na primeira obra, a música vinha como uma passagem de atos, mostrando o que a personagem deveria fazer para que pudesse enfrentar seus problemas, e na segunda, ela vem como o ápice da história, quando o protagonista concluiu um de seus objetivos, porém ela mostra como ainda está tudo incompleto, e talvez a vida dele nunca esteja de fato completa.

Reprodução do clipe de “Swimming”.

Larson foi um visionário, ele será eternamente conhecido por abordar assuntos considerados tabus na época, mas que eram extremamente diários, como homossexualidade, HIV e drogas. Ao longo de sua vida ele pode experienciar situações que mostraram pra ele como o mundo funciona, fazendo assim ele trazer uma aproximação da realidade em suas obras, isso tudo além de aplicar seus problemas cotidianos nas tramas.

Como músico, o compositor fez seu marco através da aplicação de instrumentos mais populares em suas obras, como bateria, guitarra, baixo e teclados com sintetizadores. Ele tinha como inspiração artistas como Elton John e Billy Joel que eram extremamente aclamados na época, Jonathan só traduziu a linguagem utilizada pelos artistas para fazer uma identificação geral com o público.

Jonathan Larson veio a falecer logo antes da estreia do seu musical de maior sucesso, e ele nunca soube o quão importante ele se tornou na história da Broadway e do teatro musical mundial.

VÁ LÁ!

Onde? Netflix

Quanto? A partir de R$ 25,90 por mês (o plano mais básico), contudo os preços podem variar.

Quando? A qualquer momento na Netflix.

Trailer oficial da Netflix do filme Tick, Tick… Boom!
João Guilherme Saglietti Queiroz

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Published in Araetá

Críticas de Arte produzidas pelos alunos de Estética, disciplina da professora Edilamar Galvão ministrada no 3º Semestre dos cursos de Cinema, Cinema de Animação, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV e Relações Públicas da FAAP.