‘Tick, Tick… Boom!’ um exercício de identificação
Jonathan Larson e sua capacidade de tornar o mundano em algo interessante, intenso e relacionável
Por João Guilherme Saglietti Queiroz
‘Tick, Tick… Boom!’ lançada em 10 de novembro de 2021, é uma adaptação da Netflix de uma peça de teatro autobiográfica sobre o processo frustrante de criar um musical, voltada a vida de Jonathan Larson, o autor do renomado musical da Broadway R.E.N.T.
Jonathan Larson enfrenta uma frustrante batalha de sua vida pessoal e profissional. A história começa com o compositor completando 30 anos, fato que é mostrado através da empolgante canção 30/90, onde ele fala sobre estar ficando velho e não ver sua vida chegando aonde ele imaginou que estaria, num geral a música introdutória conta a dificuldade de envelhecer e não se sentir cumprindo seus objetivos, dando assim a ideia que se precisa ter pra conhecer e acompanhar o resto da história.
A obra apresentada é facilmente identificável para os jovens atuais, que foram criados para sonhar alto e criar grandes objetivos para as suas vidas, o que é contraditório com a realidade onde grandes sonhos são geralmente quebrados pela realidade. Mas o filme também traz a esperança de que nunca é tarde demais para conseguir realizar os sonhos.
Uma mecânica interessante do filme pra mostrar pro espectador que ele se trata de uma peça de teatro é que o filme vai se dividindo entre a representação da vida real de Larson e a peça “Tick, Tick… Boom!”, indicando que tudo aquilo que ele passou foi reutilizado no futuro, inclusive a música que ele demorou pra completar na peça que não foi levada pra sempre.
O autor do musical R.E.N.T. passou mais de 7 anos trabalhando em um único musical que nunca chegou a ser completamente produzido, (“Superbia”, uma adaptação musical da obra literária “1984” de George Orwell). O filme da Netflix tem como trama, a jornada angustiante do protagonista em busca de finalizar uma obra que está quase para acabar, faltando apenas uma única música de virada. Uma tarefa aparentemente simples aos olhos do público, é na realidade um trabalho árduo, já que Jonathan tem que conciliar sua vida adulta e seu relacionamento com uma dedicação a mais ao seu musical. Essa situação de desgaste é retratada na música Therapy, que mostra uma perspectiva de ambas as partes de um casal, no caso o seu, em que de um lado, um se sente negligenciado e abandonado e o outro se sente pressionado por ter que aliar sua vida profissional ao seu trabalho.
Um pouco antes do escritor conseguir completar a música, temos uma sequência musical chamada Swimming, que mostra o protagonista após um surto nervoso fazendo uma das únicas coisas que o trazia paz, que é praticar natação, a música é composta por uma sequência de pensamentos que surgem em sua cabeça enquanto ele extravasa suas angústias na piscina, até que subitamente a inspiração aparece. No filme esse impulso é representado pela forma que os azulejos estão dispostos na piscina, mas essa é uma metáfora para as diferentes formas que as ideias podem aparecer, que nesse caso aconteceu em meio a um colapso sentimental.
Uma curiosidade interessante dessa obra é como Larson reutilizou a música que estava sendo o problema para que “Superbia” ficasse completo no musical “Tick, Tick… Boom!”, só que dessa vez dando um significado completamente diferente. Na primeira obra, a música vinha como uma passagem de atos, mostrando o que a personagem deveria fazer para que pudesse enfrentar seus problemas, e na segunda, ela vem como o ápice da história, quando o protagonista concluiu um de seus objetivos, porém ela mostra como ainda está tudo incompleto, e talvez a vida dele nunca esteja de fato completa.
Larson foi um visionário, ele será eternamente conhecido por abordar assuntos considerados tabus na época, mas que eram extremamente diários, como homossexualidade, HIV e drogas. Ao longo de sua vida ele pode experienciar situações que mostraram pra ele como o mundo funciona, fazendo assim ele trazer uma aproximação da realidade em suas obras, isso tudo além de aplicar seus problemas cotidianos nas tramas.
Como músico, o compositor fez seu marco através da aplicação de instrumentos mais populares em suas obras, como bateria, guitarra, baixo e teclados com sintetizadores. Ele tinha como inspiração artistas como Elton John e Billy Joel que eram extremamente aclamados na época, Jonathan só traduziu a linguagem utilizada pelos artistas para fazer uma identificação geral com o público.
Jonathan Larson veio a falecer logo antes da estreia do seu musical de maior sucesso, e ele nunca soube o quão importante ele se tornou na história da Broadway e do teatro musical mundial.
VÁ LÁ!
Onde? Netflix
Quanto? A partir de R$ 25,90 por mês (o plano mais básico), contudo os preços podem variar.
Quando? A qualquer momento na Netflix.